segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

vaivém

É assim, quando menos espero que tu vens. Voltas a aparecer, de rompante e de mansinho, tudo ao mesmo tempo, tudo de uma só vez. Naquele dia em que viajaste, eu soube que irias voltar, levasse o tempo que levasse... Não sei se iria querer-te de volta como te tive, mas sei que iria querer-te. Quis, sempre o quis, mas nunca consegui adivinhar o momento de o querer mais. Mas chegou, parece que decidiste chegar a hora e agora que aqui estás aqui te tenho, bem dentro, bem fundo de mim. Vieste sem que te pedisse, vieste apenas porque quiseste... Eu, oh eu... Eu não esperava que viesses agora, mas estou bem com isso.
É que sempre que vens é diferente, chegas e trazes o ar fresco daquele mar que conhecemos. Sopras como o vento quente daquele dia de verão e aqueces tudo em volta. É assim a tua presença, é assim que gosto de quando chegas. Porque sabes enganar-me, porque sabes fazer-me achar-te longe quando afinal tão perto estás. Ainda me lembrava da forma de como pisavas a areia, silencioso e quieto, perdido em mil pensamentos. Agora posso recordá-la de novo, porque me deixas fazê-lo.
É no sossego reconfortante que agora estou, quando me levas a voar o sentimento libertino é o maior. Não sabia por onde virias, quando viesses, mas caminhaste em frente de braços estendidos e tudo isso marcou. Na altura em que os abres e me envolves naquele abraço tenho novamente a certeza, a certeza de que, mais dia menos dia, voltas a ir embora e virás outra vez, depois, sem que eu o espere. Porque és assim, porque sou como sou. Porque neste vaivém entre ir e voltar, a vida passa e caminha, subtil e encantante, porque ondula, porque desliza sobre o mar. E eu, eu vou contigo quando vais e vens.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

...adeus

Nem quando te digo adeus te esforças por te despedir de mim.
É chegado o momento em que deixo de ter forças para continuar por esta estrada que não me leva a caminho nenhum. Por mais que tente vislumbrar o fundo do trilho, só vejo uma luz branca que me cega a vista e não me deixa adivinhar o que me espera. E é assim, é assim que desisto. Tentei todas as formas de caminhar, mas nenhuma resultou... Agora digo o adeus, digo o adeus que mais me custa dizer, mas não há outra forma de continuar.
Derramo uma lágrima, aquela que prometi ser a última, e amarro as minhas vontades. Está tudo dito, perdi a argumentação que alguma vez possa ter tido. Adeus, se quiseres voltar a ver-me sabes onde me encontrar...
E voltarás a procurar-me? Quererás ver-me de novo um dia? Não sei, nem sei se tu o sabes... Disse-te adeus, e tu, que me disseste? Nada... E continua a vida, continua o respirar difícil em dias de frio gélido. Continuo eu aqui sem nada de novo, com muito a menos, sem saber de ti... Terminou, de vez. A verdade nua e crua é essa mesmo: mesmo quanto te digo adeus, não te interessa despedir-te de mim.

sábado, 28 de novembro de 2009

crueldade

Não sei o que é, mas parece um aperto no coração. As imagens entram-me pelos olhos dentro como a realidade que assolapa a vida: nem todas as pessoas são boas. Quer dizer, acredito que a pureza seja algo inerente em cada um de nós, mas porque é que nem todos sabem reconhecê-lo no outro? E dói, e custa e magoa ver que assim é. Pergunto-me continuamente pelo motivo da existência da palavra crueldade e de todo o seu significado. Como é que alguém pode ser feliz sendo cruel? Que me desculpem, mas não consigo entender... O quão difícil é ver alguém ser cruel e orgulhar-se disso.
Não falo apenas do que é sentir a crueldade na pele, mas sim vê-la ser sentida na pele daqueles que mais nos fazem sorrir. É ainda pior, corrói ainda mais... Por isso é que parece um aperto no coração. Faz com que o coração se sinta mais pequeno e dorido, com mais dificuldade em viver. Caiu ao chão e agora está cheio de arranhadelas que deixam uma sensação de incómodo permanente.
Que faço agora? Que posso fazer para que tal não aconteça? A minha vontade é sair por aí que nem uma desordeira no mundo e apontar o dedo, confrontar os cruéis com aquilo que fazem. Gritar-lhes o quanto são maus, o quanto perturbam a alma de alguém e os desacreditam perante si mesmos. Sim, perante si mesmos. Mas eu seria apenas isso que agora digo - uma desordeira no mundo. Todos os cruéis olhariam para mim e me pensariam como uma maluca, que nada sabe do que diz... Incólumes no seu pedestal, não entenderiam as minhas palavras sequer. Nada a fazer, nada senão continuar estupidamente a assistir a este espectáculo trágico onde aquilo que mais amo é espezinhado a cada minuto...
É assim, é com a crueldade e a vontade de lutar contra ela que tenho a certeza de quanto sou pequena no mundo. Por mais vontade que tenha em mudar, sou apenas uma louca, uma louca que acredita nos outros e que se preenche ao vê-los felizes.

sábado, 21 de novembro de 2009

Eu, a incompreensão.

Acabei de mandar o telemóvel contra a parede, mas não é que aquela merda ainda dá luz? Que raiva! Só tenho vontade de mandar a cadeira para trás ao levantar-me e mandar a porcaria do telefone contra o chão até ele morrer de vez. Mas quem é que teve a triste ideia de que é preciso andar sempre em contacto? Só um pobre inocente, só mesmo um pobre inocente como eu que pensa que alguém é capaz de se preocupar com alguém seja por que motivo for. Ai! Estou farta de estar em contacto, farta, farta, farta! Estou cansada de poder clicar numas teclas para falar com as pessoas e dizer porcarias e porcarias e ainda mais porcarias! E depois, o que acontece? Pimbas, lá vai o telemóvel contra o que tiver de ir. Porra, mas porque é que sou tão complicada?! Juro que me pergunto como é que alguém teve a magnifíca ideia de me dar este feitiozinho anormal que não figura nos dias de hoje. Que raios!
Será que um dia vai aparecer alguém que seja corajoso o suficiente para me dizer: eu percebo-te, porque sou como tu? Não acredito nisso, é impossível. Ninguém é burro ao ponto de ser como eu. Ninguém a não ser eu própria! Estou tão cansada, mas tão cansada de gostar das coisas. Das coisas, das pessoas, de tudo... Dantes até podia meter piada, se calhar até me passava ao lado, porque eu era uma criançazinha inocente e acreditava em tudo o que me diziam, que ninguém fazia maldades, que ninguém era cruel... Tal como quem teve a triste ideia de que é preciso ter um telemóvel, houve alguém que teve outra ideia tão brilhante ou pior, que foi a de nos fazer crescer. Mas quem é o triste que disse que deviamos crescer? Quem é que foi a mente criadora que disse que eu agora ia saber o que é gostar das coisas, das pessoas, de tudo? Raios o partam também, seja lá quem for!
Merda, mas porque é que nem comigo mesma consigo falar? Porque é que nem eu percebo o que quero dizer a mim própria? Será que cá por dentro não falo português? Dei em filósofa? Dei em professora de Semiologia que fala, fala, fala e ninguém entende o que ela está para ali a dizer? Só pode ter sido. Devo estar cheia de signos e significados e significantes e remas e legisignos e tudo o mais e seja lá isso o que for, porque não consigo mesmo entender! Haverá alguém capaz de me explicar o que se passa dentro de mim? Haverá alguém capaz de me explicar porque é que eu, eu, eu e eu, gosto de pessoas? Hoje em dia ninguém gosta de pessoas!
Acho que o telemóvel já não está a dar luz. Espero que nunca mais dê. Espero mesmo não ter vontade nenhuma de voltar a pegar-lhe para tentar falar com alguém. Espero ainda mais que me consiga arrastar até à cama e amanhã acorde a achar que sou um robôt e que está um dia perfeitamente natural. Espero mesmo, espero mesmo muito.

domingo, 15 de novembro de 2009

EFF'09

Foi uma experiência única e diferente, com a qual muito aprendi. Descobri que a motivação nunca acaba, desde que saibamos contornar as adversidades. Agora que chegou ao fim, o meu coração agradece toda a companhia que tive ao longo das duas últimas semanas e acima de tudo àqueles que me proporcionaram esta oportunidade. Para sempre, o meu muito obrigada! Se esta pequena amostra de momentos já é por si só deslumbrante, imaginem como será para quem a viveu, como eu.



Frio

Tenho frio... Chego ao centro do labirinto e sento-me no chão. O vento está forte e faz com que o meu cabelo me tape os olhos. É com dificuldade que olho à minha volta e tento encontrar o caminho de volta, mas duvido que assim o vá encontrar. Tento vislumbrar qual a estrada por onde vim, mas parece-me tão difícil saber qual é... É que apenas me deixei caminhar até aqui, seguindo o meu instinto. Por mais que queira, não sei como voltar para trás. Deixo-me cair de encontro ao chão e olho o céu lá em cima. Desisto, desisto de tentar voltar para trás. O que me faz falta é saber como seguir em frente... Mas, como é que vim parar aqui?
Tenho frio... Precisava de me guiar por algum lado, mas o meu sentido de orientação é péssimo, como sempre foi. Perco-me uma vez mais, agora nos meus pensamentos. Porque é que todos vão dar ao mesmo sítio? Percebo que é lá onde vão ter o sítio onde eu gostava de estar, mas é impossível que lá chegue se nem sei como até aqui vim... É, aquele momento onde vejo a minha calma e quietude é impossível de alcançar e não sou ninguém para lutar contra isso. Vim até aqui a tentar e tentei, com toda a minha força e determinação. Tentei correr sobre as barreiras e saltar com todo o meu empenho, só que não consegui... Dei por mim a tropeçar numas atrás das outras até que vim aqui parar, ao nada. Depois de ter saltado todas as barreiras, cheguei ao vazio. E não encontro nenhum caminho que saia do vazio e me leve até onde quero ir... Afinal, como vim aqui parar? Afinal, onde me levas tu?
Tenho frio... Corri apenas atrás das minhas convicções, atrás daquilo por que queria correr. Agora não tenho forças. Perdi a vontade de voltar a levantar-me e continuar no caminho, por onde quer que ele fosse. Não sei como aqui vim parar, não sei para onde é suposto que vá. Apenas segui, segui em frente, saltei, corri, dei tudo de mim por aqui chegar. E agora? O que deveria ser este lugar? Por onde devo eu continuar? Aliás, devo continuar a tentar? Devo continuar a correr sem saber onde o caminho me leva?... Fecho os olhos e adormeço. Quando acordar talvez já esteja noutro lugar que não este e onde saiba o que é.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

asas são para voar

Vou ser sincera: estou cansada.
Já nem consigo ter domínio total sobre o meu corpo e deixo apenas que ele se afunde pela cadeira abaixo. Os meus pensamentos estão a perder-se vezes de mais e vejo-me algures noutro lugar que não este. As obras aqui ao lado causam ruído e mais ruído, barulho e dor de cabeça. Será que podia apenas desaparecer por uma hora? Tento por tudo lembrar-me de um refúgio aqui perto, um sítio para onde possa fugir e encontrar-me apenas porque sim. Ainda que aquele habitat que mais me cativa esteja aqui tão perto, não faria qualquer sentido visitá-lo. Não é o meu, ainda que seja da mesma natureza, com a mesma àgua límpida, não é o meu... E o meu, que agora está ainda mais longe...
Preciso das minhas asas, daquelas asas que me fazem voar num segundo para qualquer lugar, mas não as encontro. Parece que até elas me abandonaram hoje... Hoje, agora. Foram embora sabe-se lá para onde, desapareceram porque sim. Aqui, no meio de tanta gente, estou sozinha. Apenas sozinha e perdida num lugar que nem sei bem explicar onde é. É aqui, quem sabe onde que venha cá ter. Eu não sei das minhas asas e não posso fugir. Não sei das minhas asas da imaginação que me levam a qualquer lugar. Não sei... Porque é que elas foram embora? Agora queria gritar. Ir para acolá e gritar, gritar porque me apetece e porque nada tenho que dizer. Gritar, porque sim.
Estou cansada e preciso de voar, mesmo, muito. Só queria era ter as minhas asas de volta, agora.

domingo, 8 de novembro de 2009

diferença.

Não sei que te diga ou que escreva. Nem sequer sei que te pense. Nada me apetece senão o tudo que não sei o que é e por isso nem sequer posso pedir. Não posso pedi-lo porque não posso fazê-lo, porque não tenho esse direito e porque seria uma inutilidade. Olho pela janela e vejo o reflexo destas luzes sob as quais escrevo. Queria procurar-te no céu, mas aqui vai ser complicado. Sei que lá estás, sempre, nem que seja para que eu te veja. Não és a minha estrelinha protectora, mas sim aquela luz lá no alto a quem falo continuamente e que quero proteger acima de tudo.
Aqui vai uma confusão e acho que me enquadro no sistema: as pessoas passam para lá e para cá, com conversas trocadas. No meio há sempre um momento de descontração que ninguém sabe bem de onde vem. Agora acho que vou vestir o casaco e palmilhar até à entrada. Já conheço o caminho sem nunca me enganar e sei que lá fora vou poder ver-te. Não valerá a pena o arrepio na espinha do frio?
Não sei que te diga, que te escreva, que te pense. Gostava de te ver agora. Apenas de te olhar, olhar para o mundo e para ti dentro dele. Gostava de ver o que espelha o teu rosto expressivo para saber o que te dizer, o que te escrever e o que de ti pensar. É isso, vou mesmo lá fora. Ainda que não seja a tua cara é a tua paz de espírito que está à minha espera e só isso já faz toda a diferença. Sabes, tu és a diferença.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

É amor, sabes?

Chego a casa e estou cansada, pesam-me os olhos. À minha volta estão todos os meus objectos habituais, tudo aquilo que deixo em cima da secreária ao acaso. Perco-me a olhar para o amontoado de coisas e vejo que, sendo elas as mesmas coisas banais de sempre, me lembram de ti. Quer dizer, haverá algo que não me lembre de ti? Não é obcessão, não é paixão. É amor, sabes? Mas um amor diferente, o amor mais especial e nobre que alguma vez encontrei. É amor de amizade, amor que nunca trai ainda que por vezes tenha de fazer doer. Sinto amor por ti, amor de uma amizade que não tem igual pela forma de como cresceu e se cimentou. Porque já está mais do que certo que será para sempre, num daqueles sempres onde não existe fim.
Lembro-me de ti ao olhar para uma simples moldura. Lá sei que poderiam estar presentes todos os bocadinhos que já passei contigo. Qualquer um, sem excepção. Sempre foram ricos, cheios de vivacidade e confiança. Mas que é de ti agora? Que é dessa tua força incrível de seguir em frente? Dessa tua palavra forte, por mais baixa que fosse dita? Não sei onde andas... Tenho ideias, pequenos pensamentos sobre onde poderás estar a cada hora do dia, mas não sei, nunca sei... Lembro-me de ti, lembro-me muito de ti. Sei que estás longe, quando o que mais queria era ter-te perto. Não é obcessão, não é paixão. É amor, sabes?
"Mas a verdadeira amizade, do tipo mais puro, nasce do amor. Nunca morre, nunca perde o brilho. Continua mesmo para lá da morte." - Nunca me esqueças, Lesley Pearse

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

tenho de andar de saltos altos?

Estava a regressar a casa no comboio quando me espantei com o mundo (fique contente, professor). Dei por mim a ouvir um barulho que sempre ouvi, que sempre lá tinha estado, mas que nunca associei. Era aquele "tloc, tloc, tloc" inconfundível que, no momento, percebi serem as senhoras a movimentar-se com os seus sapatos de saltos altos. Saio do comboio e vou até à escada rolante com extrema agilidade. Olho para aqueles que ainda caminhavam sobre a plataforma e espanto-me uma vez mais (de novo contente, professor): para trás começam a ficar mulheres, infinitamente carregadas, todas elas com um "tloc, tloc, tloc" que as persegue. Não me parecem ter nada a mais que eu senão esse mesmo "tloc, tloc, tloc". Então porque é que não chegam tão rapidamente à escada quanto eu? Dei por mim a olhar para jornalistas de desporto, mulheres, e espantei-me (mais uma vez, professor). Todas elas caminhavam com um "tloc, tloc, tloc" apressado, quer levassem tripés às costas, quer não. Olhei para tal situação durante alguns minutos e perguntei-me: será que para eu poder ser jornalista também tenho de andar com um "tloc, tloc, tloc"?
Lembro-me de uma vez ter tentado fazê-lo. Armei-me em espertinha e toca de fazer "tloc, tloc, tloc" para a faculdade ainda para mais num dia em que teria de trabalhar afincadamente. Carreguei tripés às costas, câmaras, coloquei tudo a postos, sempre no "tloc, tloc, tloc". Resultado: ao fim de hora e meia desejava caminhar silenciosamente de novo. Lembro-me de outra vez ter tentado fazê-lo. Fui até ao local da reportagem e não havia lugar para estacionar, portanto tive de deixar o carro muito longe do sítio onde se desenrolava a acção e lá foi "tloc, tloc, tloc" a subir e a descer. Resultado: quando cheguei aonde deveria estar desejava caminhar silenciosamente de novo. Duas vezes, duas singelas vezes que me fizeram com que não repetisse a experiência. Mas, depois de hoje me ter espantado continuamente, deverei eu voltar a insistir no "tloc, tloc, tloc"?
Reparei numa senhora que, por me ter distraído com um jornal, conseguia caminhar à minha frente no seu "tloc, tloc, tloc". Contudo, passados cinco segundos já ia a tapar-me o caminho. Decidi então levar um passo mais lento e reparei que a passada da senhora não era firme. Pelo contrário, era desengonçada e cansada. Imaginei-lhe uma cara de sofrimento enquanto eu, no meu caminhar que levitava, até sorria para o ar. Mas ela lá continuava, "tloc, tloc, tloc". Pouco depois perdi a paciência. O barulho daquelas botas no chão começava a martelar na minha cabeça e lembrei-me que, segundo o que vi, para ser jornalista, também eu tenho de martelar a cabeça das pessoas. Coloquei um pé fora do passeio e ultrapassei a senhora, desconcertada com aquela ideia. Chegada ao carro olho para trás, por cima do ombro. Lá ao fundo ainda vem a senhora com o seu "tloc, tloc, tloc", mas agora também ela atrás de outra senhora igualmente "tloc, tloc, tloc". Será que se aparecesse mais uma mulher faria fila? Fiquei a espantar-me (a última vez para ficar contente, professor) com a maneira de como caminhavam: achei que poderiam cair a qualquer momento.
Deixem-me ser sincera: quero ser jornalista, mas não quero ser "tloc, tloc, tloc". Eu, nas minhas simples botinhas pretas, sem adornos e lantejoulas, sou capaz de caminhar melhor que umas "tloc, tloc, tloc". Posso não ter metade do brilho, mas tenho uma passada firme e decidida, que segue sempre o seu caminho sem hesitar, rumo a um objectivo. Levo tripés, levo câmaras. Levo um simples microfone e um gravador, ou até mesmo só um bloco de notas. Levo o que for preciso, mas não levo o "tloc, tloc, tloc". Caminho apenas porque me decido a caminhar, sem nunca ficar desengonçada. Ainda que possam não ter tanto adorno que chame à atenção, as minhas botinhas pretas levam-me aos mesmos caminhos onde umas "tloc, tloc, tloc" levam quem as usar. Eu apenas chego mais depressa e de uma forma mais convicta. Ainda precisarei de ouvir um "tloc, tloc, tloc" para ser jornalista?
(Menos quando caio nas escadas da estação porque chove...)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

não querer desejar

O dia está cinzento lá fora e a chuva ameaça cair. Encolho-me do frio e esforço-me por reprimir o desejo de ir para a cama com tanto que tenho para fazer. Mas talvez não seja só isso... Talvez haja mais alguma coisa que me faça ter força para não dormir: tenho medo de sonhar. Fechar os olhos e desligar do mundo significa ir para fora daqui. Viajar até um sítio do imaginário que muito traz, mas que pode nem sempre ser bom... Mas não, não é dos pesadelos que tenho medo. O meu receio é sonhar com algo bom demais para que possa, um dia, ser verdade aos meus olhos abertos. Não quero ver coisas que não existem e ficar a ansiá-las. Não quero sonhar mais. Queria dormir apenas e, depois de levantar voo da minha cama, ver somente o mesmo dia cinzento que está lá fora e sentir o mesmo frio que agora sinto. Contudo, não é assim tão fácil...
Um sonho é exteriorização dos nossos medos ou dos nossos desejos mais profundos. Para mim o problema está em não querer desejar mais do que aquilo que tenho... Na verdade, sempre fui ambiciosa em todos os aspectos de mim, mas não quero ambicionar num sonho. Não quero querer mais do que o que já há, apenas porque quando abrir os olhos estará tudo igual ao que deixei quando adormeci. Porque é que existe uma necessidade de mais? Porque é que existem os nossos desejos mais profundos? Ver o que lá no fundo gostávamos de ter em nós é embaraçoso. Deixa vergonha sobre o meu rosto, sobre mim mesma. Afinal de contas, sempre fui apologista de que nos devemos contentar com o caminho que a vida nos dá... Então, porque é que hei-de adormecer e querer mais?
Tenho medo. Tenho medo de adormecer enquanto chove. Tenho medo de depois acordar enquanto anseio que a minha campainha toque e esteja um dia solarengo. Para que depois eu vá até à varanda ainda com o corpo pesado e dê conta que, como eu lá no pedacinho mais escondidinho de mim queria, me vieste visitar, sempre a sorrir.

domingo, 18 de outubro de 2009

asas

Mas que é de mim afinal? Muito não faz sentido na minha mente, nem sei bem o que quero... Aliás, gostava de ter asas e voar, voar por aí sem rumo. Parece que aqui tudo é complicado, tudo é mais difícil do que aquilo que inicialmente se supõe...
Chega aquela parte em que tudo se desmorona, em que não se consegue ver a seguinte fase de uma forma risonha e feliz. O inconstante é o mais coerente, o olhar pesado mantém-se e a leviandade começa a ficar cada vez mais cheia de pormenores insignificantes... E tu, e todos, por onde andarão? Onde se foram colocar aqueles pilares que me mantinham incólume? Onde está a razão que me fazia acreditar que era possível sorrir por muito tempo e sempre com vontade?
Não quero encarar o momento de que mais tenho medo, não quero fraquejar... Não quero parecer uma florzinha que pode ser espezinhada quando afinal sempre o fui. Tenho medo, muito medo de ouvir palavras que não quero ouvir. Medo de assimiliar ideias e decisões que não quero tornar reais. Não quero fraquejar, não quero cair. Não quero!
Desabo enconstada à parede e acabo no chão, onde encontro a estupidez e a desilusão comigo mesma... Soluço atrás de soluço, tudo queima o meu rosto quando por ele desce... Não aguentei mais. Porque é que consigo sempre questionar o mundo?

"Mas só quando quiseres pousar na paixão que te roer, é o amor que vês nascer sem prazo e idade de acabar. Não há leis para te prender, aconteça o que acontecer. Não vejo leis para te prender, aconteça o que acontecer."

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a mensagem do coração

Parece que não deu mais. O meu nó na garganta começou a formar-se, as imagens que os meus olhos viam ficaram distorcidas, e, quando fechei as pálpebras, uma gota de àgua caiu. Quente e dorida, escorre agora pela minha cara abaixo. Mas o que é que se passa comigo? Gostava de poder ir até à minha janela e saltar para o ar. Subir alto no céu e sentar-me numa nuvem para lá ficar até me apetecer, até deixar de ter forças para largar mais lágrimas.
É horrível como quero dizer tudo mas não consigo dizer nada. Tenho mil e um pensamentos dentro de mim e não sei se algum deles fará sentido. Porque é que existem momentos tão cruéis? Não encontro explicação nenhuma que possa ditar as razões pelas quais sinto esta amargura senão o meu egoísmo e a cobardia. Parecem aqueles anos em que sempre tive o meu João Pestana para dormir comigo e lhe tinha um enorme amor, mesmo quando estava em farrapos. Até que um dia ele desapareceu, alguém o levou e nunca mais consegui encontrá-lo... Sempre fui egoísta por o querer junto de mim, por ser apenas eu a cuidar dele e a dar-lhe o meu mimo. Também fui, e ainda sou, cobarde, por tê-lo deixado ir embora e agora não conseguir dizer-lhe o quanto tenho saudades dele e o quanto me custa a sua ausência. Será que é isto que se passa comigo hoje?
Continuam a rolar, cheias de calor, as gotas que saem pelos meus olhos vindas directas do coração. Já me dói muito o aperto na garganta. Afinal de contas, devo merecer isto. Devo merecer a angústia sem explicação coerente, o sofrer na sua forma mais abstracta e sentida. Ninguém me mandou ser egoísta e cobarde... Se mo tivessem mandando, eu não o seria, provavelmente. Gostava que fosse tudo mais fácil de explicar e de dizer... Mas não consigo. Não vale a pena perguntar o porquê, não tem definição possível. Apenas não consigo andar mais a sorrir por aí como se aos meus olhos o mundo estivesse colorido. É que não está.
Fecho os olhos e tento ouvir o meu coração. Até ele é mau comigo. Decifro a sua mensagem, ele deverá ter razão: quem te manda saber sentir demais e ter saudades disso?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

complicar demais

Dias e dias passaram... Mais de mil e um pensamentos voaram dentro de mim e há muito que procuro a conclusão de nem sei bem o quê. Está difícil encontrá-la. Aliás, será que a quero mesmo?
A cada dia percebo que somos todos complicados demais, mesmo todos. Até aqueles que sorriem sempre e dizem que é impossível nunca estar tudo bem. Todos somos complicados mesmo na nossa simplicidade. A partir do momento em que passamos tempo apenas a pensar, criamos histórias dentro da nossa cabeça, contos que queremos insistentemente que sejam reais. Ao passo em que também questionamos atitudes e vontades que temos ou queremos ter. Enfim, só o facto de escrever toda esta atabalhoação já demonstra que eu mesma sou complicada demais. Não?
Às vezes tenho saudades de quando era criança. Quer dizer, quais eram as minhas preocupações? Chorava se não tinha uma bola de futebol? Pouco, muito pouco comparado com o agora... Na verdade, todos temos uma criança dentro de nós, é certo, mas é uma criança crescida. Às vezes tenho vontade de ser tão pequenina para fazer o que me fez hoje a Mariana: veio visitar-me logo pela manhã, mas como eu ainda dormia, rabiscou umas letras dispersas numa folha de papel, acompanhadas por um simples boneco, sendo que o mais evidenciado nele são os dedos enormes, até maiores do que as pernas que ela desenhou. E colocou-o ao pé de mim, pô-lo ali ao lado da minha almofada para que, assim que eu acordasse, desse de caras com aquela obra... Foi o que aconteceu.
Acordei a sorrir perante a simplicidade. Perante um gesto pequeno para muitos, mas enorme para mim. É que quando ela me viu sorrir perante o seu desenho, devolveu-me um sorriso ainda maior que o meu.  Naquele momento, eu soube que aquela menina gosta imenso de mim. De facto, basta que descompliquemos o complicado demais para que um simples desenho faça tudo valer a pena.

domingo, 13 de setembro de 2009

Bloco de notas.

Há a vontade de mudar o mundo, fazer as pessoas acreditar. É raro alguém dar tudo de si sem reservas, somente com o prazer de fazer. Confiança é algo difícil de encontrar hoje em dia. Valerá a pena procurar?
Há que fazer das pessoas um bloco de notas e escrever em todas elas um bocadinho de nós. Há algumas em que a caneta não escreve bem e esforça-mo-nos por conseguir deixar a marca que queremos. Noutras a tinta não entra e não há nada a fazer, é tempo perdido tentar escrever. Poucas, são aquelas onde a caneta flui com naturalidade e que absorvem a marca. Difíceis de encontrar, tão encantantes de escrever.
Aos poucos o nosso bloco de notas já nos chama para que lhe levemos notícias. Sabe tão bem mais assim!... Damos por nós e já nos escrevem também, em pedaços importantes de personalidade. Afinal, conseguimos rever-nos naquela simples pessoa personificada numas folhas de papel.
Por mais raras que sejam, ainda as há. Aquelas em que tens orgulho e te reconheces, as que, em que momento seja, te são fiéis. Por mais complicado que pareça ser possível dar voz à palavra confiança, consegue-se sempre, basta procurar o melhor tipo de papel.
Devo ser uma excepção, mas acredito nas pessoas. Umas sem as outras, o que podemos ser afinal? Não neguemos: há sempre alguém que se parece connosco. Quando isso pode ser uma constante feliz, é bem mais proveitoso viver a vida. Há vontade de mudar o mundo, mas poucos se esforçam por fazê-lo... Há que quere-lo e a cada dia correr em busca do melhor bloco de notas que possa haver. Eu já encontrei o meu. Façam-no, saiam por aí... Quem sabe se não estará na papelaria ao virar da esquina?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

eu, com o nada.

O meu castelo acabou de ruir. Veio uma onda tão grande que o destruiu com um só ataque. Já há alguns dias que o vento o ameaçava, fazendo com que alguns grãos se soltassem e o tornassem mais frágil, mas  sempre se havia conseguido manter imóvel... Agora não, tombou mesmo de vez, tal foi a força do mar. A sua bandeira hasteada na torre mais alta, não passa agora de um pau enviesado num monte de areia disforme, igual a tantos outros. Mas porquê? Estava tão firme, tão sólido, construído de uma forma tão natural e verdadeira, que parecia bom de mais para ser verdade. E era. Será que não passou de uma ilusão? Será que afinal nunca tive um castelo onde vi o meu porto de abrigo?...
Pensei que sim. Tenho-o visto construído aqui, à minha frente. Tenho-o tido, de sorriso nos lábios, com o vento a fazer esvoaçar o meu cabelo e o barulho do mar a torná-lo real. Mas foi embora, como por magia. Bastou um segundo e desapareceu. O encanto à volta do castelo quebrou-se, como tudo o resto. Agora resto eu, com o nada. Nunca pensei ganhar-lhe tanto apego. Sinto falta do meu castelo. Uma construção à minha frente, que me fazia viver a cada dia. Desapareceu. Não sei se tenho força para voltar a construir outro.
O meu castelo acabou de ruir e eu com ele me deixei levar pela onda. Sem rumo, sem força, sem convicção. Por aí, perdida de tudo.

domingo, 6 de setembro de 2009

medo e cíume

É corrosivo, horrível e mau. É o sentir algo tão destrutivo. É a mágoa da insegurança que se personifica quando se olha para banalidades, banalidades que num momento parecem tudo significar. O corroer do interior debaixo de algo que não se quer sentir. É o que se odeia, é o cíume. É o que se teme, é o medo.
É o medo que ganha expressão, quando sentido como algo que não queremos perder. É o temer que haja um assalto àquilo que se é e que se leve embora o que mais se quer que fique. Assim, quando se vê algo aproximar, corrói por dentro, como uma ferida que está cada vez mais difícil de sarar... Um arranhão que vai esfolando continuamente, cuja dor somente acalma quando o medo se esconde por momentos.
O cíume é o medo. Saudável quando contido, mas sempre aterrador. Algo que assolapa cada respirar fundo, com o medo do esquecimento e do abandono. Só quando vem aquele algodão embebido num desinfectante carinhoso é que a dor acalma... Absorve a plenitude por momentos, para depois, pouco depois, voltar a lembrar a corrosão.
O medo é o cíume. Quando se tem medo é porque algo é verdadeiramente importante. Quando se tem cíume é porque algo é tão importante ao ponto de ser verdadeiro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o meu Livro

Decidi deixar de ler livros e escrever o meu pela minha própria mão. Olho à minha volta, reprimo uma lágrima, pergunto-me sobre onde estou. Agora sinto o bater do meu coração em todas as partes do meu corpo e a minha respiração sai ofegante por cada poro: tenho de viver a vida ao máximo. Os momentos são efémeros demais para que se possa pensar neles, é preciso vivê-los com a toda a sua intensidade. O mundo pode acabar amanhã, as coisas podem deixar de fazer sentido daqui a pouco, é preciso dar sentido ao agora.
É mau pensar no futuro, é mau pensar no presente. É ainda pior pensar no passado quando o presente é o que somos agora e o futuro é o que queremos ser. Questões e mais questões, onde será que posso ter errado? Estará tudo a bater certo? Não, não quero demorar mais tempo perdida com a minha razão. É preciso cometer loucuras, é preciso agarrar nas coisas e ir, porque sim, porque quero, porque tudo me leva até lá. É preciso definir o destino e ir ao encontro dele, correndo riscos em busca da felicidade perdida lá longe.
É esta a minha história, é este o meu conto sem rumo e cheio de indefinições. Para cada dia existe uma página em branco, que preencho a cada minuto. A de ontem está feita, a de hoje vou construindo e a de amanhã está totalmente em branco. Não faço previsões, não mexo no que já passou. Limito-me a escrever com a naturalidade da brisa que corre lá fora e me leva para onde quer que seja.

domingo, 30 de agosto de 2009

'mar.

O tempo passa e a onda cresce. Vivências acrescidas no sabor do mar, que corre, às vezes, e acaba, de peito arranhado na areia. Deixas-te levar por uma, voltas e vem outra, acabas sempre, no chão, com a espuma do sal a passar por ti. O teu sorriso, nunca acaba. Os teus olhos estão no céu, de onde vem o sol radioso.
Aquela fada que pensas estar na palma da tua mão é apenas isso, uma fada da tua imaginação. A sua representação está em todos aqueles de quem gostas e te sorriem, como tu agora para o ar.
Uma praia cheia de gente fica quieta, vazia para ti. É tua, é o teu mundo. Podes até levantar-te e ir de novo, de encontro ao mar bravo. Dar braçadas até lá ao fundo, quase tocando o infinito. Depois voltas, com felicidade que transborda. Cansaço, não existe.Boias sobre a água até esbarrares de novo na areia. Com sossego, aí estás. Pensamentos flutuam no mar enquanto toda a tua plenitude repousa contigo.
O natural do tempo que passa é isso mesmo, um momento. A onda cresce e logo depois morre. Sái, lá do fundo, pequena. À medida que avança de encontro ao fim cresce, atinge o seu auge. Depois, tão depressa quanto tudo, enrola-se sobre si e desmaia, aos teus pés.Vês como pode ser tão efémera a beleza de onde te encontras?
Por que abandonaste tu a praia?

domingo, 23 de agosto de 2009

sim

Mais uma manhã, mais um dia.
Mais uma música que embala.
Para lá e para cá, pensamentos sem razão,
coração sem caminho.
Que rumo, que sensação.
Porque trazes semblante carregado se há muito espero que chegues?
Fica, mas presente.
Não penso mais no vento.
Seguir. Apenas a brisa suave.
Viste, mas tão depressa
foste embora.
Fica,
quero que fiques.

domingo, 16 de agosto de 2009

Saber

Não sei nada. Mas é suposto que saiba algo?

O que devo, quando acordo, saber? Olho em volta e reconheço um espaço familiar, mas não consigo encontrar-me nele. Porque será? Porque não sei porque não me encontro? Dirijo-me à casa de banho e a rotina toma conta de mim. Dou por mim a lavar os dentes quando vejo o meu reflexo no espelho à minha frente. Esta cara parece-me familiar, mas porque será que não me reconheço? Saio à rua e guio o carro, com o caminho interiorizado na cabeça. A música que oiço recorda-me um momento. Mas porque é que não me vejo nele?

Não sei nada. Não poderia haver uma pista para que me encontra-se? Para que me reconhece-se? Para que me visse? Deve haver, perdida por aí... Agora a única réstia do sentir onde vejo algo meu é naquele olhar profundo que sei ver-me a cada dia. Aquela limpidez num olhar, cultivando o seu sorriso sincero, traz tudo de mim à tona. Afinal sei muito! Sei que só assim sei onde me sou capaz de me saber.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Falo de Ti às Pedras das Estradas

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ao reflexo da lua

Procuro dentro de minh'alma quietude e paz que julguei perdida outrora. Agora que a encontro é um sorriso que não finda, é uma rosa florida pousada sobre a orelha numa noite quente de verão. Segredos sem esconderijo, ecos de passadas pela areia quente na caminhada da vida. Lá no alto da àrvore canta o pássaro no seu chilrear que encanta. Música conhecedora de pensamentos findos que trouxeram a minha cara o sabor salgado de um mar do olhar.
Mas virou o rumo, mudou-se a sorte. Acabou o aperto magoado destronado pela vantajosa nuance feliz. Que se implanta, que se torna a estrela guia neste céu escuro numa noite de lua cheia. Palavras confusas tornam certezas no toque subtil da areia que faz acreditar numa ténue luz lá ao fundo. Sabor de baunilha entranhado neste paladar.
E é assim que voam as palavras com a brisa, carregando sentimentos fundos, superados de tudo. Não estava perdida a paz que procuro, somente se obscurecia por entre desejos infindáveis...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

dança

Levitava por entre nuvens quietas e subtis, como um pássaro livre. Feliz, era apenas como se sentia. Pé ante pé, inventava danças leves e capazes de encantar qualquer um. Porquê? Por nada, nada senão aquelas palavras sinceras que gostava de ouvir... Para quê pensar mais? O melhor era mesmo como agora fizera, deixar-se correr... Com a quietude tudo vem muito mais original, a pureza é a constante arte onde se age a cada toque.
Nada que pudessem dizer a tiraria daquele seu mundo sorridente e feliz. Não era preciso inventar mais, aquilo bastava-lhe como lhe bastava a àgua inerente à sua vida. Imaginou-se em palco frente a qualquer público. Sabia lá no seu mais ínfimo pedacinho que seria capaz de dançar como nunca o fizera. De cabelo bem apertado, de movimentos bem fluídos, de uma seriedade e entrega totais no rosto. A música seria o seu ar que a levaria mais além.
Não vale a pena pedir explicações, nada trariam de novo. A sua felicidade constante não trazia outra explicação senão aquela mesmo. Palavras sinceras e atitudes únicas, vindas apenas de quem mais nada lhe poderia trazer senão tudo. Tudo o que sempre quisera.

sábado, 1 de agosto de 2009

compreensão

Queria tentar perceber, mas não consigo. A inércia do meu pensar é imensa, o que faz com que não seja possível desligar-me das ideias erradas. Por que razão não consigo parar o que bate no meu peito por alguns minutos? Às vezes é o que mais me apetece fazer: tirar de mim sentimentos escondidos que quando se revelam muito têm a dizer. As coisas inesquecíveis da vida são assim mesmo, incapazes de sair de nós. Mas quando lembradas nos seus momentos de frustração, magoam muito mais do que a morte mais dolorosa que possa existir. Gostava de não me lembrar de tal coisa a cada dia, preferia antes apagar que alguma vez possa ter havido uma oportunidade…
Esforço-me por não deixar cair uma lágrima isolada porque sozinha não conseguiria compreender-me. Tenho a certeza de que é mesmo isso o que me falta, a compreensão. Se aqueles que deveriam tê-la pudessem somente imaginar tudo o que tenho sentido, certamente olhariam para aquilo que sou de outra forma. Mas não, não existe o mínimo de esforço de ninguém. O que há é somente o esquecimento e o desprezo, armas poderosas nas mãos de gente que já vejo sem sentimentos. Então porque insisto eu em querer que me percebam?
Aí vens tu. Nessa tua descontracção que te é característica, sentar-te-ias ao meu lado na areia que ambos conhecemos e ouvirias a história que tenho para contar. O vento levaria o meu cabelo para trás e todas as lágrimas que eu deitaria seriam reconfortadas com o teu olhar de compreensão. Tu sim, perceberias o que tenho para dizer. Ouvirias aquilo que preciso de contar e no teu jeito doce trarias o aconchego de que agora preciso. Penso que há por aí quem me julgue sem que me saiba, e tu não o farias. É por isso que me encontro em ti – conheces-me na tua leviandade enquanto me dás a certeza de que não estou sozinha. A tua capacidade de me trazer calma é o suficiente para que me passe qualquer angústia. Alguma vez te tinhas apercebido disso?
Quem sabe, um dia… Quem sabe se um dia não serei capaz de te levar até lá como desejo. Ficaríamos apenas sentados em frente àquele mar, olhando para todo o lado como um lugar de encontro perfeito. Impossível de perder, não é? Quem sabe se um dia quando lá estivermos, não serei eu capaz de te dar o abraço que à tanto tempo reprimo. Tu compreenderias, eu sei que sim.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

olhar

Sentada, olha o infinito através dos pinheiros que a rodeiam. O cheiro a mar vem lá do longe trazido pela brisa, e a música da cidade chega distorcida. Sabe que se se levantar baterá com a cabeça e acordará da sua áura de encatamento, mas não encontra maneira de descobrir o que fazer. Serão os livros que a transportam para a magia? Ou será somente aquele pensamento inerente que nunca quer assumir?
Dia após dia, caminha por entre ruas, em horas perdidas. Olha o mar todas as manhãs, e todas as manhãs espera que venha com o reflexo do sol... Mas nada, nunca vem. Apenas olhando o horizonte encontra aquilo que procura, encontra a sua acalmia infinita. Caminha em busca de um rosto cúmplice, algo que a transporte para o que é real. Ainda assim, falta sempre aquele bocadinho, aquela peça do puzzle que é fundamental para completar a imagem.
Agora perdida por entre as ramagens, procura mais uma vez aquilo que anseia ver. Parece difícil de achar, mas não estará lá mais ao longe por entre as àrvores mais densas? Quem sabe... Aventurar-se foi sempre algo que soube fazer, teria de o descobrir novamente. Conseguiria?
Desiste, com um suspiro. Para quê procurar? O que vagueia por aí se a quiser com ela virá ter. Quando o seu puzzle estiver pronto para ser completo, rapidamente a peça que falta encontrará o seu rumo. Por mais que a saiba importante, nada lhe resta senão esperar. Amanhã será um novo dia e uma vez mais ela procurará o mar. Encontrará lá ao fundo aquele olhar que, dia após dia, está cada vez mais perto de si.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

vestido cúmplice

Era o seu dia de aniversário, ia ter uma grande festa dentro das muralhas do castelo e todos aqueles que dela gostassem estavam convidados a entrar. No seu vestido preto e longo, não lhe importava brilhar, queria somente ser ela mesma. Estava a sentir-se feliz, era aquele o seu dia. Entardeceu e antes da hora prevista para a chegada de todos, deambulava pelo castelo com ele. Ambos conversavam e diziam aquelas frases sem graça que rapidamente davam azo a gargalhadas cúmplices. Entretanto, chegara a sua melhor amiga de infância. Efusiva, saltou-lhe para os braços envolvendo-a num longo abraço. A saudade daqueles tempos de sonhos era tanta! Logo se evidenciou o seu contentamento por ver ali a amiga, por saber que ela não se havia esquecido. E ele apenas a olhava, sorrindo, por sabe-la feliz.
As surpresas da festa que lhe haviam sido preparadas, começam a acontecer. Acabam por ir para o anfiteatro, ver imagens suas e daqueles que a rodeiam. Eis que ele aparece no ecrã, apanhado desprevenido pela objectiva da câmara. Fala de alguém, de uma rapariga de quem diz gostar e que assume estimar mais que qualquer outra. Ela, a aniversariante do castelo, ao deparar-se com aquelas palavras que agora ouvia saírem da boca dele através de uma filmagem, rapidamente se levantou. Sempre tivera um encanto especial por ele, mas nunca fora capaz de o assumir. Não conseguia vê-lo falar assim de alguém. Agarrando no seu vestido, subiu as escadas daquele auditório num ápice, com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Chegando à porta, deteve-a um grito daquela voz que sempre conhecia. Era ele.
- Não vás embora, espera! Como é que não percebeste... Aquela rapariga... aquela rapariga és tu! A que quero, sempre a foste!
Ficou petrificada com as palavras dele. Afinal o seu sentimento sempre fora retribuído, mas ela nunca o soubera. Quando conseguiu reagir, já ele corria em direcção ao lado oposto do castelo, toldado pelo medo. Sem mais delongas começou a segui-lo, mas pareceu que tinham vindo pessoas de mais para a sua festa. Todas queriam felicitá-la, obrigando-a a parar continuamente durante todo o percurso. Quando finalmente chega ao miradouro sobre o rio, vê-o sentado, com as mãos na cara, contemplando o infinito. Já calma larga o seu vestido de encontro ao chão e num sussurrar levado pela brisa, balbucia o nome dele. Timidamente, aquela cara tão sua conhecida volta-se para si, enquanto que ela caminha na sua direcção. Senta-se a seu lado olhando o luar, e puxa-o para que se deite sobre o seu vestido, no seu colo. Olhando para os seus olhos penetrantes, faz-lhe uma festa no rosto. Ganha coragem para falar, mas ainda antes de o fazer é ele quem a cala. Dos seus lábios começam a sair encantantes palavras melodiosas, a canção que ela sempre sonhara ouvir. Mais uma vez de lágrimas na cara, mas desta vez marejada por gotas quentes, transbordando felicidade. Naquela sua melodia, ele havia dito tudo aquilo que sentia desde que a conhecera. Para quê esconder mais? Sentado agora a seu lado, ele deu-lhe o seu melhor presente de aniversário: um forte abraço cúmplice e de encontro de dois seres. Havia paixão naqueles dois, mas acima de tudo havia um grande conhecimento do outro. Se assim não fosse, como poderia ela ter-se sentido a maior princesa do mundo dentro do seu vestido preto?
Com o seu cabelo a esvoaçar com o vento, ganhou coragem. Olhou-o nos olhos e de uma vez assumiu: Gosto de ti.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Embora

Chegou a hora de partir. Quieta e calada, tenta contentar-se com um livro de histórias que já conhece, mas muitas vezes o pensamento voa e vai mais longe do que a imaginação daquela obra. Voltará depois, sabe-o, mas pela primeira vez não quer ir embora. Não consegue explicar o porquê, somente sabe que sentirá muita falta daquele sorriso envergonhado.
Já à muito que ansiava por uma época de acalmia e de encontro consigo mesma, mas agora que a tem parece que já não precisa dela. Tudo porque descobriu que nos seus lugares comuns também sabe encontrar-se e não precisa de ir embora para que aprenda como ser feliz. Sempre teve essa mania, a de sair para descomprimir de muitos pensares sobre si mesma. Já à algum tempo que o vinha sentindo como algo necessário... Mas neste momento parece que afinal tudo mudou. A forma de como encara o mundo fá-la pensar que não é preciso fugir, diz-lhe que basta encontrar o caminho certo para onde se deseja ir. Já nem se perde por aí como dantes acontecia.
Mas vai, vai ter de ir embora. Por mais absurdo que possa parecer, ela em nada se importava de ficar. Depois de saber que já é capaz de se encontrar onde sempre o devia ter feito, sente-se absurda por sair do seu lugar. Aliás, tem medo de que quando voltar não seja capaz de se encontrar de novo neste espaço, como agora sabe fazer. Cansada de pensar sobre este ir e voltar, decide deixar-se andar com o tempo que a guia... Ainda que a sua vontade seja a de permanecer ligada ao que lhe dá sentido, acredita que seja onde for será capaz de levar consigo o rumo que agora tem.
Parece que sim, que se vai embora. Vai para longe de ruelas por onde se encontra, mas o melhor é não ter medo. O medo é o seu inimigo. Vai, e consigo tem uma caixa que guarda dentro do peito onde leva a sua bússula para lhe indicar o caminho em qualquer parte do universo. Assim, acabando por ir para o seu outro refúgio que não aquele rotineiro, vai levar consigo aquilo que mais lhe importa. Afinal, ao acordar a cada dia, basta que coloque a sua mão por cima do coração para que se sinta em casa. Sabe que receberá aquele sorriso encantante e inesquecível. Já certa de que o tem consigo, está preparada para ir a qualquer lugar do mundo.

sábado, 18 de julho de 2009

desânimo

Chegou a hora de deixar de fingir um sorriso sempre alegre. A inutilidade que sinto é maior do que qualquer outra coisa. Vou desistir de sonhos, deixar-me de esperanças ilusórias de que vou conseguir. Agora é tempo de me concentrar definitivamente naquilo que importa e acreditar que sou capaz. Mas serei? Por mais que procure uma resposta, não consigo encontrá-la. Resta-me tentar, tentar sempre. O pior que pode acontecer é não conseguir novamente e fechar aquela porta com o desânimo no rosto. O hábito disso mesmo já cá mora e é isso que me deixa assim, fechada de risadas alegres e sinceras. Não há razão para as haver.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desejo

Depois de um sonho agitado onde se via chorar, acordou em sobressalto. Tinha sido o exteriorizar dos seus pensamentos e emoções, enfrentando quem tinha de enfrentar. Chorosa de raiva mas também de alívio, a vontade de o tornar real era muita. Mas teria o direito de o fazer?
No final via-se dentro dos braços que outrora lhe trouxeram todo o carinho e conforto do mundo. Teve saudades, aliás, recordou-se daquela sensação boa, algo que não costuma fazer. Pensou sobre aquela imagem: parecia um bebé no colo de sua mãe, sendo afagada e acalmada, levando suaves festas na cara... mas acima de tudo voltou a sentir aquele olhar sincero e aconchegante. Fez com que se perguntasse sobre quando havia sido a última vez que se sentira assim e rapidamente lá chegou. Recordou o abraço onde se acalmara e se sentira em casa, mas já havia passado algum tempo... Fazia-lhe falta aquela sensação quente, mas achava-se inútil por procurá-la e quere-la de novo...
Tentava antever o seu futuro e vislumbrar um momento onde pudesse repetir o seu encontro consigo mesma, mas não o via numa altura próxima. Seria assim tão complicado conseguir aquele abraço diferente onde pudesse encontrar compreensão? É que aí os olhares passariam de normais para fogosos de amizade intensa.
O seu pensamento parou. Perguntou-se porque é que se havia lembrado de tal coisa, que agora só a faria ficar triste. Já chateada consigo mesma, virou-se para o outro lado da cama. Talvez conseguisse dormir mais cinco minutos, o suficiente para apagar aquela ideia. Recordar algo bom era sempre sinónimo de um sorriso feliz, mas desta vez seria ansiar pela compreensão de alguém que naquele momento não existia. Não que ela não soubesse onde encontrar o colo que lhe faltava, porque sabia exactamente onde ele estaria, mas apenas porque não achava que ele a pudesse compreender... Como seria possível que desejasse tanto um simples abraço?

sábado, 11 de julho de 2009

continuar a acreditar

Ando por aí pensativa de mais. Existe tanta coisa que me prende a atenção, sobre a qual raciocino e tento chegar a uma conclusão, mas nunca consigo... Para além de vontades e de quereres, existe tanto por trás. Não sei se o mundo não seria mais fácil se não houvessem preocupações... Cada um tomaria conta de sí no seu egoísmo desmedido, sem saber o que são outros e o que se sente por eles. Mais fácil seria, certamente, mas seria também tão mais estúpido...
Pergunto-me muitas vezes sobre aquilo que sinto pelas pessoas, mas nunca consigo entender o que é. Acho que o meu gostar não encontra fim e muitas vezes faria melhor se fosse mais contida. Relembro a cada dia que tenho de deixar ir e pronto, não pensar demasiado sobre o que quer que seja. Acabo por fazê-lo, mas o fim é o mesmo: mesmo não pensando, a habituação a algo ou alguém, vem, e o carinho que lhes tenho, ainda que inconsciente, está presente. Quando me decido a pensar sobre isso, vejo o que não quis ver: algo já faz parte de mim.
Já me disseram que sou ingénua demais. Sempre o ouvi, mas foi algo em que nunca pensei concretamente, até agora. Não tenho medo em afirmá-lo: talvez sim, talvez eu seja ingénua... Não consigo ver maldade até que mal me façam. Por ser assim acabo várias vezes estendida no chão, com mais uma lágrima que me obriga a perguntar porque é que gostei assim tanto... No futebol sempre joguei à defesa, mas pelos vistos fora daquelas quatro linhas não sei fazê-lo... Porque será?
Hoje não sei sobre que pensar. Acho que ando saudosista demais... Durante horas o meu nó na garganta é apertado e vejo na minha cabeça caras sem fim. Rostos que conheço e que, por um bom ou mau motivo, me trazem recordações. Acabo por retrospectivar aquilo que tenho sido e nem eu consigo defini-lo... Há tanto que poderia ter sido dispensado, mas também tanto que deveria ter explorado mais. Oiço as minhas músicas calmas, preferidas desde sempre, onde em cada uma delas me encontro... Tenho saudades, tantas. Lembro-me de caminhos e lugares, de olhares e promessas, sítios e pessoas com as quais gostava de estar somente agora, neste momento. Faz falta, faz imensa falta. Aquela praia, aquele túnel. Aquele rio, aquela vista. Toda a água onde me encontro e onde fui, sempre, somente eu na minha pureza maior. Se ao menos pudesse ter tudo de novo...

terça-feira, 7 de julho de 2009

A vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo «Pedro Sem»,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
Florbela Espanca
. porque me sinto assim

segunda-feira, 6 de julho de 2009

20

Ontem quando cheguei a casa trazia todas as palavras que iria colocar aqui na minha cabeça, mas o sono e o cansaço foram mais fortes do que a força de escrever sobre este teclado. Foram três dias de Colete Encarnado, mas acima de tudo três dias onde o meu sentimento de plenitude foi uma constante. No meu último caminho para casa, tocava no meu rádio aquela melodia que diz "forever young, I want to be forever young" e parece que foi mais forte do que eu. Existe muita gente que, ao fazer mais um ano, faz mais um ano e pronto. Acho que até agora eu tinha encarado as coisas dessa maneira, mas para mim este ano foi diferente... Fiz uma retrospectiva de tudo aquilo que tenho vindo a ser e, acima de tudo, senti o peso! O peso, não da idade, mas sim da responsabilidade. Afinal de contas, tudo aquilo que vejo à minha volta tem de ser encarado com o máximo de seriedade possível. Este ano eu soube que tinha mesmo de largar os livros infanto-juvenis e escrever o meu, com toda a convicção, pela minha mão e pela minha cabeça. Agora sinto-me feliz, acho que posso considerar este aniversário como um ponto de viragem onde me vou esforçar por ser fiel a mim mesma, mais ainda.
Como o pensar demais sobre tudo isto já tem algum tempo, quis que este aniversário trouxesse até mim as pessoas de quem mais gosto. Penso que foi uma necessidade premente que senti ter, mas decidi não me preocupar muito com isso. Sempre gostei de surpresas, pena não serem todas positivas... Este ano posso dizer que fiquei bastante surpreendida com todos aqueles que acabaram por se mobilizar ao facto de uma míuda como eu fazer anos, ou não... Desde o primeiro ao último momento, recebi parabéns antes da hora, depois da hora, na hora certa. Ouvi imensas vozes entoarem a música que já conheço à 20 anos. Fui feliz, do início ao fim.
Não costumo fazer aqui os meus agradecimentos de forma directa, mas hoje quero dar a conhecer os nomes daqueles que me fizeram sorrir e reprimr lágrimas durante três dias de festa. Não querendo ser injusta para com todos os que estiveram comigo em vários momentos, tenho de refinar o meu destaque e referir apenas alguns. Em primeiro lugar, tenho de deixar um beijinho aos meus pais por me aturarem a cada dia e me deixarem ser e seguir aquilo que quero. Um beijinho também para a minha irmã, que esteve comigo na hora dos meus parabéns e ao meu irmão, que me ofereceu um desenho lindo e com um pormenor bastante explícito onde dá para perceber claramente que sou eu a retratada. Beijinho para a Cátia Travassos, por ter vindo de longe para estar comigo e também para a Rosita e para a Patrícia por, em conjunto com a minha irmã e o Filipe, terem sido as primeiras pessoas a cantar-me os parabéns. Um beijo enorme e um agradecimento bastante sentido e reconhecido à escstunis! Depois de os acompanhar várias vezes ao longo destes dias, dedicaram-me o "Sonhando" e fizeram todo o Largo da Câmara cantar-me os parabéns. Certamente que é um momento que nunca irei esquecer, porque mais uma vez sei que é com tudo de mim que sou escsiana. Foi muito especial. Um beijinho para o Filipe, Santa Fé. Mais um beijinho para o Marinho, que me aturou tempos sem fim. Quase chegando ao final, deixo outro beijinho desta vez para a tertúlia do PS, que durante três noites me viu passar de sorriso na cara. Para além de que foram os primeiros a cantar-me os parabéns a alto e bom som chamando-me Ana, tenho de deixar um beijinho maior para a Isabel, o Ricardo Teixeira e o João Pedro Baião. Espero que tenham gostado da minha ginginha! Por fim, um beijinho enorme para aqueles que me aturaram do início ao fim e que nunca disso se queixaram. Companheiros de touradas, de risotas, de inúmeras cantorias de parabéns aos berros por toda a parte, chamei-lhes os três mosqueteiros. Porque sem eles não teria sido igual em todos os momentos: Capucha, Dani e Marco - os melhores.
Sem dúvida que foi o meu melhor aniversário de sempre. Mesmo nada tendo planeado, houve de quem tenha sentido falta... Porque mesmo absorta em sorrisos, não consigo esquecer tudo aquilo que está presente cá dentro. Infelizmente, faltou a palavra de algo que ocupa um grande espaço no meu coração... Parece que, mesmo com mais um ano, os meus sentimentos não desapareceram por magia. Custa não poder contar com uma palavra especial de alguém especial, mesmo que seja num simples dia onde faço mais um ano do que aqueles que já tenho... Afinal, continuo a mesma de sempre.
Muitas surpresas positivas foram aquelas que tive e que não me deixarão esquecer estes dias tão depressa. Ainda que consigam ser mais fortes que o amargo nó da minha garganta ao recordar a desilusão, não consigo apagá-la... Enfim, o que mais importa é que apesar de tudo este foi o meu melhor aniversário de sempre. Ontem o Colete despediu-se com foguetes, no rio. Hoje, despeço-me com sono e uma leve constipação, mas certa de que estou feliz, ainda que tenha de lidar com as pequenas adversidades da vida...
O meu muito obrigada a todos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ão

Podia dizer mil e uma coisas, mas não.
Apenas caí redonda no chão.
Lágrima que me arde na mão,
nada mais que mágoa no coração.

domingo, 28 de junho de 2009

acordar de dúvida

Acordei com um estrondo horrendo e ainda enleada com o sono pensei que havia chegado a terceira guerra mundial. Os vidros da minha janela estremeciam e quando ouvi as gotas a cair lá fora, percebi que afinal era só uma tempestade. Contudo, há muito que não sentia uma tão violenta. O que havia feito com que o tempo tivesse ficado tão zangado? Pergunta sem resposta, mas não conseguia continuar a dormir. Por pequenino que fosse o medo, todo o barulho e sentir dos trovões assustavam-me. Enrolei-me no edredon e tentei perceber por onde andavam... Estavam muito perto, sabia-o, mas o meu pensamento já tinha voado para outros lugares...
Quis usar o telemóvel, mas para além de achar que seria imprudente, o meu saldo tinha acabado. Dentro de mim fiz força para saber onde estavas, porque ainda que te achasse mais forte do que eu, queria saber-te em segurança. Questionei-me sobre se devia pensar em ti... Afinal, ainda que o que vivamos seja o presente, o futuro começa a ser planeado e acho que daqui a algum tempo não vou estar aqui. Será que não me devo lembrar disso e ser egoísta ao ponto de continuar a querer-te enquanto te posso ter por perto, sabendo que depois não vou cá estar? Por mais que pense e volte a pensar, acabo por ir dormir todas as noites, sem uma conclusão... Até que o tempo me acorda assim, em sobressalto, e sinto medo por ti. Parece que não consigo deixar de ver em ti aquele sorriso de que gosto sempre... Tal como rapidamente me lembro de ti aqui, sei que lá, se também acordar com uma tempestade, me hei-de preocupar se estás bem. Mas será que devo continuar a querer ter-te comigo?
Os raios e a chuva já foram embora. Consegui voltar ao sono durante mais um bocadinho: senti-te bem. Voltei a acordar, desta vez em plena calma e com sol lá fora. Ainda assim, a minha dúvida não desapareceu. Ficou somente uma pequena certeza: gosto mesmo desse sorriso.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Uma lição

Nunca devemos desistir de um sonho se nem sequer chegámos a tentar.
Foi esta a lição que hoje aprendi e que agora decido partilhar. Às vezes pensamos pequeno, ou pensamos demais. Pensamos sobre todas as condicionantes existentes para sabermos se é possível concretizar uma vontade ou não, e, na maior parte das vezes, não somos ambiciosos ao ponto de lhes fazer frente. Estamos habituados de mais à comodidade e achamos que não vale a pena tentar sequer.
Eu nunca fui assim. Mesmo que achasse algo difícil ou até impossível, sempre fui de tentar. Tentar até ver que não dá para seguir em frente naquele objectivo. Porém, desta vez, pensei nos obstáculos que se colocariam à realização do meu sonho. Depois de os rever, um a um, decidi que não valia a pena tentar... Hoje, descobri uma forma em que, se tivesse tentado, o meu sonho ia tornar-se real. Eu ia concretizá-lo, por mais difícil que isso fosse...
Sinto-me triste. Tenho um nó na garganta muito apertado e estou a esforçar-me por não soltar as minhas persistentes e incontornáveis lágrimas. Pois é, se eu tivesse tentado, como sempre, agora poderia saber que daqui a uns meses deixaria de ter o meu sonho por realizar, porque ele seria somente real... Se sempre lutei, porque é que foi logo desta vez que decidi não o fazer?
Por mais que tudo nos pareça difícil, afinal há sempre um caminho que nos faz chegar lá, aonde queremos. Mesmo que ele demore a aparecer, acaba por se ir formando à nossa frente e sabemos que é o certo... Aprendi, sem dúvida. O sentimento de frustração que tenho neste momento consegue dar-me força para não voltar a repetir as facilidades. Diz-me para batalhar, porque pelos vistos eu ia ser mais forte do que todas as adversidades que pudessem estar presentes no meu percurso... Agora já passou o tempo. O meu sonho ficou para trás.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Roubo

Chegou a casa, largou a mala e descalçou as sandálias. Sentou-se na cadeira em frente ao computador e abriu-o energicamente, sem saber porquê. Ficou com o olhar suspenso no ar, ao mesmo tempo em que revia aquela cara. Tinha-lhe roubado a fotografia, sem que ele soubesse e agora-a guardava-a dentro da gaveta a seu lado. Colocou os dedos sobre o puxador e espreitou-a, sorrindo. Aqueles olhos eram penetrantes e límpidos e nada deixava que os esquecesse. De coração apertado, perguntava-se sobre o que mais poderia fazer, se é que já tinha feito alguma coisa... Afinal, nunca fora exibicionista daquilo que havia dentro de si, ainda que não conseguisse não ser sincera. Lembrava-se de todos os momentos, até mesmo das diversas expressões que a ele lhe eram características. O sorriso sempre honesto e até mesmo aquele esboçar dos lábios descontraído como quem diz "está bem", faziam com que não conseguisse largar as ideias que a prendiam àquela cara. A acalmia que encontrava era contagiante e nada seria capaz de fazer com que a perdesse.
Porém, há dias que não lhe ouvia uma palavra. Tudo o que pensava eram recordações que a envolviam entre saudades e desespero. Deveria tomar alguma atitude? Inquieta dentro do seu medo, apenas se concentrava no vazio. Não sabia o que fazer, nunca o soubera. Sempre deixara que o tempo passasse. Com uma expressão vazia, limitou-se apenas a voltar a abrir a gaveta e suspirar, para aquela fotografia. Ao menos essa seria sempre sua e estaria sempre presente. Tudo graças ao seu secreto roubo embaraçado.

sábado, 20 de junho de 2009

Bocadinhos de mim

Já é tarde, mas eu soube que tinha de vir aqui. Tenho pensado muito e acho que hoje consegui fazer a minha maior retrospectiva de sempre. Não consigo andar por aí a sorrir quando todos os pensamentos são insistentes na minha cabeça e me dizem: estás a crescer...
Questiono imensas atitudes que tive ao longo de algum tempo: palavras horríveis que fui capaz de dizer, atitudes menos correctas para com outras pessoas... Mas pergunto-me ainda mais sobre algo que deveria ser adquirido e não questionado: o que faço eu a mim mesma, afinal? Sempre segui o caminho que me iam colocando à frente... Deixei-me ir com a maré. Agora é diferente: sou eu quem constrói o caminho que quero seguir. Parece complicado, mas afinal não o é. Bastou que tivesse mais atenção e que me ouvisse mais, a mim mesma, para saber o que fazer.
Não sei se sou correcta com tudo aquilo que me rodeia, a perfeição não existe. Contudo, procuro fazer o que acho estar certo para mim e acima de tudo, ser sincera comigo mesma. As pessoas vão e vêm, mas há algumas que decidem ficar... Dei por mim a pensar à pouco e lembrei-me de pessoas que decidiram ir... Foram embora, mas eu recordei-as com momentos, palavras, gestos, com todo o tipo de certezas que tenham ficado comigo. Aí então percebi: as pessoas podem ter ido embora fisicamente, mas dentro de mim permanecem inantigíveis porque consegui tirar delas uma lição.
Muitas vezes falo de mágoa, mas hoje não estou magoada. Muito pelo contrário. Consigo achar-me estúpida por estar frente a um ecrã e um teclado a chorar, mas sei que cada gotinha que sai dos meus olhos é somente um bocadinho do sentimento que está no meu coração. Afinal de contas, é o explodir do meu medo, é o exacerbar de todo o pavor que tenho ao pensar que, mais dia menos dia, tudo pode mudar... As pessoas vão e vêm, como já disse. Apenas existem algumas que quero tanto que fiquem, por tudo aquilo que me trouxeram, que não consigo aguentar vê-las longe... Acabo por olhar para elas e ter certezas: de que são crescidas, de que sabem o que fazem, de que estão dentro de mim como muito poucos têm a capacidade de estar. Mas o meu medo fala tão mais alto...
Mais do que medo por carjacking, assaltos, ou todos os outros pesadelos que tenho continuamente, tenho medo de perder os rostos, os olhares, as mãos, os abraços, os sorrisos,... de quem um dia me fez crescer. Porque se me basta que as olhe no seu pedestal para que me dê vontade de soltar mais uma lágrima salgada, é porque me fizeram mesmo crescer. Tenho-lhes todo o meu respeito, não quero que vão embora... É delas que gosto, são elas, essas, as pessoas, que me fazem sentido. Agora o medo... Não me larga nunca. Não quero perder os mais puros bocadinhos de mim.

terça-feira, 16 de junho de 2009

o meu lugar

Os meus olhos estão a pesar, a minha barriga dá horas, dói-me um pouco a cabeça. A minha cama tem duas malas em cima, na minha cadeira está roupa despida ao acaso, por cima da capa do traje. Na minha secretária o gravador está a um canto, ainda agarrado ao cabo, e o caderno de estudo pronto a ser rabiscado com o meu estojo e a agenda em cima. A reportagem de Estrasburgo descolou-se da parede onde a tinha exposto orgulhosamente e tapou as minhas melhores classificações na natação. A rosa que me deram há quase um ano atrás espreita por um espacinho livre, sempre viva. Uma confusão, não? Páro o meu olhar pela televisão enquanto penso que frase colocar aqui a seguir. Não sei, sinceramente. Não vim aqui com o propósito de me lamuriar seja pelo que for, apeteceu-me apenas partilhar-me um bocadinho...
Nas aulas de Teorias dos Média falámos dos blogues, de como as pessoas escrevem neles. De uma maneira ou de outra, acho que este ^meu refúgio de ilusão consegue saber mais de mim do que eu, por vezes. Encontro-me aqui, nem que seja com um desabafo vago ou um simples devaneio da imaginação. Acaba por ser este o meu lugar: onde vos convido todos a entrarem e a conhecerem cada amontoar de palavras, tal como agora vos "mostrei" onde estou. É com surpresa que me apercebo de que há quem venha conhecer-me aqui, neste meu mundo à parte. Sabe tão bem quando sou confrontada com questões sobre o que aqui escrevo... De facto, se aquilo de que mais gosto é comunicar, parece que, mesmo sem um retorno imediato de quem me lê, até aqui consigo fazê-lo.
Por isso, agora, já que há quem venha conhecer-me aqui, onde me mostro, chegou a altura de dirigir a palavra a esses que, de facto, dão a este meu lugar que já me é inerente um pouco da sua atenção. Tu, aí mesmo, que agora me lês, Obrigada! Obrigada por conheceres um pouco daquilo que sou, dia após dia. Obrigada por me deixares desabafar contigo. Obrigada por saberes da minha imaginação, por em todos os momentos fazeres com que cresça um sorriso no meu rosto. Obrigada a ti que por aqui passas e que fazes com que, ainda que nada tenha saído do mesmo sítio de onde estava desde quando à pouco comecei a escrever, eu sinta o meu lugar arrumado e calmo. Este é o meu lugar. Gosto que me visitem aqui.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

São Martinho do Porto


Lembro-me de uns amigos que tinha algures. Lembro-me muito deles e tenho saudades, mas os dias passam com um ritmo alucinante e as semanas correm por aí. Dou por mim a pensar e antes que me aperceba, dois anos já passaram.
Relembro a minha infância e as companhias de tantos verões. A conclusão a que chego é rápida: nunca vejo os meus amigos de algures. Por que é que a vida é uma corrida rápida e terrível? Acho que todos eles sabem que gosto deles, como nos dias em que lhos dizia, com um sorriso grande e uma lágrima de dor na hora da despedida. Naquela altura todos éramos simples crianças regidas pelo sentir, mas agora somos pessoas ocupadas, pessoas cansadas.
Muitas vezes penso que amanhã vai ser o dia em que vou ligar-lhes só para lhes mostrar que penso neles, imenso, que sinto a cada minuto a sua falta. O problema é que o amanhã vem, o amanhã vai, e a distância entre nós cresce e cresce... A meninice em que cresci está à distância de fotografias arquivadas em cd’s e em simples números de telefone, mas é o mesmo que estar a milhares de quilómetros de distância...
Tenho medo que um dia chegue a notícia de que um de nós desapareceu hoje. Depois de tanto tempo, é isto que recebemos e que merecemos. Naquela baía, um amigo desaparecido. Ninguém imagina como temo isso… Já uma vez dei por alguém partir, alguém daquela nossa família. Ainda que fosse como um primo afastado, era alguém, era um de nós e nunca vou esquecer o ter de partilhar aquela horrível notícia, o ter de ver lágrimas, o ter de sentir o coração a rasgar-se porque alguém partira. Não quero que aconteça connosco, de maneira nenhuma. Os dias passam e passam, mas em todos os eles me lembro de caras, de momentos, de histórias, de uma vida em que cresci e aprendi as maiores lições que me tornaram naquilo que hoje sou. Se algum dia aprendi o que é amar, foi quando entrei naquela casa, quando vi aquela praia, quando neste momento me martirizo por querer lá estar e não poder.
Tenho falta de todos, de tudo, do sempre. Vai ser para sempre, prometemos vezes sem conta. Vamos fazer com que o seja mesmo. Não consigo viver sem tal esperança… Para mim aquela será sempre a casa, aquela será sempre a praia, aquele será sempre o espírito: o nosso. Odeio-me por vos sentir longe, por querer estar fechada naquela casa e perdida naquela terra convosco e não conseguir… Lembro-me muito dos amigos que tinha algures. Só queria tê-los de volta e viver tudo uma vez mais.
Hoje libertei-me, porque tenho saudades de cada pequeno pormenor lá vivido, porque tenho saudades que me rebentam o nó na garganta em lágrimas sofridas e porque não quero que o tempo leve tudo embora… Por isso, para mim e para todos nós, lembremo-nos de dizer sempre o que sentimos. Se sentimos saudades de tudo isto, gritemo-lo. Não tenhamos medo de nos expressar, é tão melhor dizer a alguém o que significa para nós. Não quero deixar o tempo passar, porque quando decidir que aquela é a hora certa, tenho medo que possa ser tarde demais…
Quero que o meu coração fique sempre perto destes meus amigos. Foram eles que ajudaram a formar a pessoa que sou hoje.

domingo, 14 de junho de 2009

II

Acordei doente, ajudada por uma moleza incrível. Agarrei num livro e pûs-me a ler...

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido, a cada momento
Para a nova eternidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."

Alberto Caeiro, in Poemas
Há quem o ache maluco, existem até imensos jovens espalhados por esse Portugal fora que neste momento o odeiam e o temem. Eu sempre admirei a forma de, ao não dizer nada, conseguir dizer sempre tudo. Realmente, Fernando Pessoa tinha um dom inato de dizer as coisas como elas são verdadeiramente. Li estes versos ao acaso e, quando os li, facilmente os reconheci em mim. Não seria mais fácil se todos saíssemos lá para fora e olhássemos as coisas como elas são? As expressões das pessoas, a disposição dos edifícios, as ervas daninhas que crescem algures, os carros a passar, o mundo... Mais fácil não sei se seria, mas certamente que era mais puro. Andar somente pela rua e sentir as coisas como elas são e se apresentam a todos, seria pedir demais. Alias, é pedir de mais.
Pessoa acreditava fazê-lo, não tinha dúvidas. Eu já não tenho tanta certeza, certeza nenhuma até. Hoje em dia o pensamento do que se vê está presente em tudo, até quando é o coração que quer gritar mais alto. Não deveriamos apenas vaguear por aí em vez de racionalizar tudo aquilo em que tropeçamos?
Enfim, deve ser da doença...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

o Teu soRriso.

Lembro-me da primeira vez que te vi sorrir. Foi um esboçar dos lábios tímido e embaraçado, mas desde aí que se tornou sincero. Depois disso já te vi sorrir mais vezes. Fosse de vergonha, alegria, comoção, tristeza... Cada riso teu, fosse qual fosse, tinha ainda um ponto em comum. Talvez até a sua característica mais importante... Não sabes qual? Eu relembro: a humildade. Em cada sorriso teu é possível ver o quanto és humilde. O quanto respeitas a vida e a valorizas, o quanto gostas do que te rodeia e o quanto olhas para tudo com a tua modéstia verdadeira.
Recordo cada sorriso teu. Num onde te dizias sentir envergonhado com a situação, noutro onde agradecias um gesto singular para contigo e outro ainda onde até os teus olhos sorriam, tal era o amor que emanavas ao olhar para aquela criança. Sabes, há momentos que nos marcam e a todos eles estão associados alguém. De ti, posso dizer que me marcas tu e que tenho momentos a que te associo. A verdade é que, em cada um desses momentos, estás sempre a sorrir, na tua melhor forma: a pureza. Já cheguei a não te ver e a saber-te sorrir à mesma. A forma de como falas, escreves, comunicas, demonstra tudo aquilo que acabas por sentir. E quando sentes um riso, é completamente gratificante ouvir-te, mais ainda do que todas as outras vezes.
O problema é que também já te ouvi sem o teu sorriso nos lábios. Pareceu-me tão estranho, que me foi difícil reconhecer-te... Aliás, onde estaria a força que só tu sabes ter? As barreiras que nos colocam pelo caminho, são difícieis de ultrapassar... Sabes, lembro-me de em Educação Física ter de as saltar e tinha imensa dificuldade. Desmanchava-me toda para que o conseguisse, mas até eu, na minha pequenês, lhes passava por cima. Agora tu, aí no teu alto dessas pernas longas, certamente que o conseguirias fazer bem melhor do que eu, não é? Tens o impulso, a vontade, a técnica do salto. O que te falta? Somente aquilo que melhor sabes fazer: sorrir. Emanar felicidade. Quando acreditamos em alguma coisa, mais fácil é para que tudo seja como acreditamos que vai ser. Eu acredito em ti, no teu sorrir, na força que ele transmite e em tudo aquilo que és. Eu acredito, com todas as minhas forças. Acredito com as minhas dificuldades em saltar as barreiras e com o meu sorrir disforme e autêntico. Eu acredito em ti. Não será mais fácil olhares para o infinito, sorrires e gritares que és capaz?
Vem daí, eu dou-te a mão. Ainda que a minha força não seja imensa, estou aqui para te puxar e amparar. Vem, solta a vontade que tens de vencer. Vamos saltar as barreiras e mostrar que afinal conseguimos mesmo ultrapassá-las, com mais ou menos facilidade. Anda comigo e acredita, traz a tua humildade de novo e sorri. Sorri, sabes porquê? Porque quando sorris quem se depara contigo de frente sabe que chegaste para vencer.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

as cores.

Perdi-me em pensamentos enquanto conduzia por aí. O caminho já está automatizado e àquela hora não haviam carros à minha volta... Não consegui encontrar uma conclusão para nada, como até já tem vindo sendo hábito. Afinal parece que há tanto em que pensar que a continuidade da vida não se mete em questão.
Por mais que corra e ande de um lado para o outro, existem coisas que nos são fundamentais: os momentos. Momentos de um existir que é real a cada inspiração, contacto, sentimento. Nos últimos dias, por mais que tivesse corrido, tive uma vida cheia. As cores invadiram o meu espírito e por mais cansaço que pudesse haver no meu corpo, todo o espírito respirava harmonia. A união e o empenho em torno de algo levam a que tudo ganhe sentido. Mas efémero, como os momentos marcantes.
Posso afirmar que mesmo cansada, estou preenchida. As cores permanecem num sorriso sincero e naquele olhar distraído com cada coisa. Calma, tentando não assustar ninguém com os meus gritos automáticos, sou eu mesma. Sou de vermelho com paixão da vida, de laranja com alma quente a cada dia, de amarelo como o sol que traz a luz, de verde com esperança, de azul com a àgua como o mundo que me é essencial, de indígo com um mergulho profundo no mar, de violeta com a essência das flores num dia perfeito.
Sou de todas as cores do arco-íris porque foi em torno do arco-íris que os últimos dias ganharam sentido. Sou de cores diferentes, de pessoas especiais, de momentos, esses momentos, que de tão simples que são tudo dizem. Por mais que corra e me perca, a vida será sempre a prioridade.

sábado, 6 de junho de 2009

keep fighting

Correu de encontro ao vento que a fazia chorar de tão forte que soprava. Seguia descalça e sozinha numa rua sem ninguém, apenas porque necessitava de seguir em frente e sair dali. A vergonha consumia-a e já com a maquilhagem totalmente esborratada, nada mais havia a fazer. Assumira perante todos aquilo que era na sua plenitude. Sem definição exacta, somente ela. Pensou que tudo iria correr bem, mas afinal não tinha sido assim tão certo...
Os olhares de recriminação perante a sua figura eram como feridas a rasgar-se que agora de encontro à brisa ardiam ainda mais. Seria assim tão complicado alguém aceitar que um outro pode ser diferente? Foi por isso que fugiu, acreditava em si e na sua pureza. Por que motivo haveria de cair só porque outros o pediam? Desde que acreditasse em si, nada a demoveria.
Em passadas cada vez mais largas, o cabelo já esvoaçava também ele embalado. As lágrimas quentes continuavam a cair e as feridas, essas, já nem as sentia. Fosse onde fosse o local aonde chegasse, saberia ser capaz. Capaz de tudo, porque o seu espírito continuava intocável... Não acha que seja errado sentir cada inspiração.
Por isso continuará, sempre a tentar, em busca do lugar onde alguém lhe dê sentido e acredite na sua capacidade. Ela, acredita. Não será isso o mais importante? Por isso, sem certezas, corre por aí, sobre as pedras da calçada. Quando parar no seu próximo destino saberá que continuou a lutar. Apenas isso.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Saiu à rua sem saber o que a esperava, de tão concentrada que estava em histórias inúteis. Decidiu ser como simplesmente era, nada havia a perder. Aos poucos, as pessoas foram-se aproximando num corropio natural e logo aquela prendeu a sua atenção... porquê?
A conversa surgia, quieta e calma. Sem medos, pressões, ambições. Apenas palavras soltas e emaranhadas num discurso de plenitude e harmonia. Que podia esperar mais? Nada, nada mais. Empurrada pelo vento continuou estrada fora. Porém, agora não caminhava sozinha: haviam mais dois pés ao seu lado, com ritmadas passadas sem rumo definido.
A aprendizagem estava-lhe inerente: a cada palavra escutada ou proferida, ela sabia estar a aprender. A aprender da vida, do modo de caminhar mais facilmente sem cair. Até que, sem dar conta, descobriu a solução que há muito ansiava. A calma personificada numa voz, sem que nada a perturbasse, fosse porque fosse. Afinal não estava assim tão longe... Demorou foi um bocadinho a chegar. As suas histórias inúteis desvaneceram-se e ela decidiu construir apenas uma: a vida real.

domingo, 31 de maio de 2009

Não me venham dizer que as palavras não magoam.
Ainda para mais aquelas exaltadas e que nunca pensámos ouvir. Vindas de quem vêm. Sinceramente, não consigo mais. Não vale a pena, não quero saber, desisto. Neste momento vivo porque tem que o ser. Andar contente, sorrir? Desconheço.
E não vale mesmo a pena. Não vale, por nada.
Não aguento mais ataques destes ao meu coração.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

nada.

Explicação? Não há. Podia ser do calor sufocante que está lá fora, mas acho que não tem nada que ver com isso. O meu olhar está cansado e os cantos da minha boca afundam-se de encontro ao chão. Sinto-me triste. Porque será?
Tento descobrir, mas em vão. O meu pensamento voa de encontro a tanto e parece que só num refúgio distante eu conseguiria encontar-me... Sei daquilo que sinto falta, mas sei também que é complicado que o tenha.
Parece que tudo passa por aí, pelas saudades. Não serei eu saudosista demais? Guardo recordações que ninguém se lembraria de guardar. Depois, vêm ao de cima da forma mais natural e inconstante. Dentro de sonhos, querem dizer alguma coisa: são as mesmas caras, a mesma angústia, o mesmo abraço no final que traz vontade de querer de novo. A cada volta na cama o meu consciente reclama por nomes, ideias... Nada a fazer. É virar para o outro lado e tentar continuar na noite escura.
Nem lamentar-me consigo, porque não sei sequer como fazê-lo... Talvez aquela palavra, uma qualquer, fosse boa de ouvir agora. Mas para quê? Mas qual? Mais cedo ou mais tarde tudo volta aqui, ao nada. Sim, ao nada, porque isto, se não sei sequer explicá-lo é isso mesmo: o nada. E como nada é, nada importa.
Alguém se deu ao trabalho de o ler?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

corropio

Os dias parecem curtos demais para o que quero fazer com eles. Tarefas atrás de tarefas, pensamentos e pensamentos, "ah, bolas! esqueci-me mesmo!", prazos a acabar, noites mal dormidas, dor de cabeça. Ideias sempre a surgir, isto para aqui, aquilo para isto, tudo, frenético e eficaz. Tem de ser assim.
Vontade de escrever? Imensa. Cada vez mais, nem que seja sobre o tropeção que dei numa pedra ao sair de casa. Se fosse só isso... O desabafo em letras é uma constante em mim, mas parece que tem custado a sair. A conversão de um pensar e sentir em palavras está difícil. Motivos não encontro. Apenas certezas.
A vida é para ser vivida, surpreendida, feliz e honesta. Tento que a minha o seja. Agora, preenchem-me as saudades. Saudades de tudo aquilo que tanto importa e que deixa a lagrimazinha no canto do olho e o sorriso natural. Sorte é que o sono vem depressa e nem deixa a novela acabar... Aliás, mas eu cheguei a ver alguma novela? Nenhuma, senão apenas a vontade de calar a vontade, a de não sentir falta.
Vejo a lua e parto para a acalmia frenética de um sonho onde afinal o distante está sempre perto. Bem perto, no coração.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

viagem

Ia para a faculdade e passou à minha frente um avião em direcção à pista de aterragem. Logo falei dentro do carro: Oh, um avião amiguinho, que saudades! Nostálgica pensei, pensei, voltei a pensar, e recordei cada momento de uma viagem inesquecível. Foram três dias grandiosos que em muito enriqueceram a minha pessoa.
Num lugar estranho, com pessoas estranhas, com comidas estranhas, tudo teria de ser perfeitamente normal. E não é que o foi? Na volta para este nosso Portugal nada era, de todo, estranho. Sentia-se apenas como algo... natural. Desde o ter andado perdida até ao disfrutar de uma cidade maravilhosa, a companhia foi-se acomodando à minha presença.
Hoje relembro todos os momentos vezes sem conta. Ainda assim, sempre que o faço um novo momento que ainda não havia lembrado surge na minha mente. Isso é bom. É bom saber que foram dias de que disfrutei em pleno, onde nada me abalou, onde o meu pensamento esteve apenas na tentativa de descoberta de um lugar invulgar. Valeu a pena, muito, nem que tenha sido apenas pelos chupa-chupas que nunca mais acabam... Mas não foi só isso.
As saudades já vêm ao de cima e todas as aventuras pedem uma repetição. Quem sabe, um dia. Gostei de Estrasburgo, imenso. Muito mais de tudo aquilo que possa escrever ou dizer. Foi uma experiência que me fez descobrir-me e aproveitar as coisas boas da vida. A todos aqueles que me proporcionaram estes dias fantásticos, tanto lá como cá, uma vez mais, o meu obrigada.
Só me faltou mesmo a tshirt da praxe: I love Strasbourg.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Valerá a pena?

Valerá a pena continuar? Valerá a pena seguir em frente neste caminho sem saber sequer se há uma porta à minha espera lá ao fundo? Há momentos em que parece que tudo vai entrar nos eixos certos e correr sobre carris... Acreditamos que é possível, que o sorriso é autêntico e que o sentir é profundo. Parece que afinal "vai tudo correr bem", que o que se quer deixa de ser uma ambição para passar a ser uma realidade... Mas valerá a pena?
Acreditei, pensei, decidi ir. Decidi embarcar sem saber se há um destino, mas agora pergunto-me se valerá a pena. Tudo começa a regredir e a deixar-me de novo no ponto de partida, sem rumo. Por mais que procure um destino ou uma explicação para toda a desorientação, não consigo encontrá-los. É díficil. Ainda que não queira desistir, será que não o devo fazer?
Talvez devesse apenas ficar quieta, sem arriscar. Sem saber se o destino será mau ou bom, sem saber nada. Quieta e impávida, sem viver. Talvez o devesse... Talvez fosse melhor não acreditar que pode correr tudo bem, que tudo vai encontar o seu caminho certo. Afinal, acaba sempre por ser tão efémero. Porque se toda a vida já é efémera, pequenos bocadinhos ainda o são mais. Valerá a pena continuar a acreditar que tudo vai chegar a bom porto, seja ele qual for?