domingo, 21 de dezembro de 2008

luar

Noite que permances calada e quieta onde procuro a acalmia desta dúvida. Preciso que a colmates nesta minha indecisão do ser, sobre estrelas dispersas em que salto de vontades. Brilham lá em cima, tanto como aqui dentro, na minha pequenês do sentir. De movimento em movimento estão presentes, como realidade especial de uma hora de luar. Lua que brilhas, deixa-me que te pesque as estrelas somente para sabê-las minhas.
Que em ti me perco de sonhos vãos, imagens que quero verdades mas que em tudo de nada se afiguram semelhantes ao que tenho. Vontades, apenas pretensões distantes irrealizáveis. Porque as tenho sempre ainda que em nada as queira. Coerência, luz correcta, fica inquestionável. Não ficas, nunca, apenas efémera e enganadora, visões inúteis e de mágoa.
Luar que nada me trazes apaga a esperança, que não a quero mais. Cansei-me de te procurar como repouso calmo e persistente, tendo-te como toda a frustração de um que pensei direito. Vai rumo a outro mundo que não o meu, que nada de novo me trazes na imensidão daquilo que é o anseio de uma verdade assumida. Lua, estrelas, ainda que vos queira, não vos posso ter diante de mim.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

dualidades inteiras

Foi quando me conheci, inteira e pequena, que soube haver duas mãos. Com os braços esticados em frente e as suas palmas viradas para cima, fácil seria sempre ter algo que ali caísse, incólume, vantajoso. Mas não, nada. Uma teria o peso, a outra a leveza. Como aquilo, o que falta, o que se deseja.
Ontem perdi-me pelas páginas de um livro e encontrei uma vida. Uma história de medos, de vontades, de vidas. Mais do que imensas, são almas. Presas, comuns, unidas por um propósito que ali os faz ficar, quietos e soturnos, com pensamentos perdidos pelo ceú estrelado daquela noite. Vagueando lá no meio, a mim nada me pesa. Que pense, nem sei, que sinta, toda uma paixão envolta no querer de um sorriso.
O amanhã sei ser diferente, o fim. Uma etapa termina e o peso volta a ser leveza. Leveza sustentada de força que carrega, que responsabiliza. Afinal, venci. Afinal, cada vida no meio destas páginas, conseguiu. Ainda que não as saiba de cor, sei-las todas, num só sentido. Já sentidas como minhas, todas as personagens que vi passar, que correram, que gritaram, que lutaram, noites, dias, momentos sem fim.
Descobri nessas minhas duas mãos, o querer e a ambição. É o que se lhes pede que façam. Ainda que sem expressão, há felicidade por cumprir um objectivo. Coloco de novo as minhas mãos junto ao meu corpo e sei. Ainda que uma tenha o peso e a outra a leveza, afinal, ambas são iguais. Como? Porquê? Porque dentro daquelas páginas, um só se formou e fez com que todo o peso e a leveza nada mais fossem que o concretizar de um sonho.

domingo, 14 de dezembro de 2008

fugacidades subtis

O meu mundo de papelão desabou. Aquela caixa onde tinha dentro todo um emaranhado de ligações do sentir, desfez-se com esta chuva "molha-tolos" que caia insistente, parece que afinal exerce pressão sobre tudo.
Foi num ápice que se montou a caixa, e ainda houve tempo para fortalecer as dobras com fita-cola. Agora vejo que até esse fortalecer está no chão, esticado e cheio de salpicos de àgua. Há momentos inexplicáveis... Não me perguntes o porquê, que não sei dizer-to de outra forma que não o atabalhoamento, mas sei que este nó na garganta e a comichão dentro da barriga são indicadores de medo. Assumo-o, tenho medo!... Tal como a minha caixa se desfez, tão rapidamente, será que vai conseguir voltar a erguer-se?
Não são lágrimas, que já não as há. São repulsas de incompreensão que moem, que doem por me saber incapaz de aguentar o desfecho. Se ao menos tivesse tido a coragem de te dar aquele abraço...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sai.

Sais e bates com a porta. O teu sorriso final é encantante, mas sei que te foste embora do meu mundo de ilusão, de uma vez. Não voltes, que vou querer-te. Caminhas sobre os grãos de areia da praia, caminhando rumo ao longe, àquela falésia lá ao fundo. Espero que chegues antes que me deixe cair, senão serei todo um fundo sem mim.
Foste embora mas pouco me importa. Vejo-te através da janela e sei sentir já saudades. Não me és nada, de ti nada quero senão o esvoaçante que agora desapareceu, porque o fizeste de propósito. Tenho-te impressão, que me enraiveces facilmente. Tu, vai-te embora, depois de te enraizares naquilo que sou.
Parece que sinto algo na fechadura, mas devem ser devaneios de uma alma. Tu, voltar atrás?, nunca!. Mesmo que viesses não te aceitaria de volta. Afinal ainda não deixei de te querer. Sabes aquele espelho onde vias essa cara e rias? Não sou capaz de olhá-lo mais. Cheio de profundezas inquietantes que trazem momentos reais, pequenos, mas importantes.
Sai, de uma vez. Nem deixes a mala entalar na porta. Não quero que fiques, mas que te deixes estar aqui, sem esmurrar o sítio onde encontro perigo de uma futilidade inútil. Vai, mas volta, sem que nunca ponhas cá os pés.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Eu, a boneca.

Desde que me lembro que assim é. Já tive períodos da minha existência demasiados felizes, outro demasiados tristes, mas agora estou apenas na dualidade entre uns e outros... Sabem que mais? Cansei-me.
Aqui sentada na minha prateleira, vejo o mundo à minha volta. De vez em quando vem alguém que me leva, que me abraça ou simplesmente me dá uma festinha na cabeça. Na maior parte das vezes, fico somente aqui, sujeita a todo um acumular de pó. Pelos meus olhos de botões vejo tudo. Pelas minhas orelhas ocultas num cabelo de lã roxa, oiço tudo. Afinal, eu sei o mundo.
Nada interessa, nada, "para quê o cuidar de uma boneca de trapos se ali está tão bem pousada?" Ás vezes deparo-me com um alguém à minha frente, quieto, de pé, a olhar para mim. Tenho esperança, sempre, que me agarrem e levem a brincar, me deixem de novo ver o mar, mas isso nunca acontece.
Uma vez por outra, alguém me puxa por uma mão. Olha para mim, traz-me a felicidade durante um bocado, mas logo me deixa um rasgão: estou velha de sentir e o meu trapo já não é o que era. Depois, quem quererá uma boneca assim, quase perdida? Ninguém. Um dia lá chega junto a mim uma alma que me remenda. Cose o buraquinho que foi feito, mas volta a colocar-me aqui, onde me sento, como se nada fosse nem nada tivesse sido. Quem quererá uma boneca assim, sempre remendada?
E é sempre assim, dia após dia, que vivo somente Eu, a boneca. O que ninguém entende é que mesmo sendo de um trapo já fraco e gasto, ainda sei sentir. Mesmo dentro destas roupas onde todos apenas vêm "A boneca", há algo mais... Aliás, se nunca tivesse sentido, não seria antes uma Barbie dentro de uma caixa vistosa?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Goma

Que lhe foge o sono, que precisa de se expressar. Sozinha, afogada em si, nada encontra senão a paz enervante. Paz que chateia, apenas porque trás a distância do alguém. Decide deixar de o pensar, mas sabe-o tão de cor. Lança-se pelo corredor fora, direita ao carrinho das gomas. Aquela em forma de coração, nunca a provou, mas fica encantada só de vê-la. Compra sempre uma, e outra, mas oferece-as a outrém. Cor-de-rosa e vermelho, polvilhados naquele açúcar doce. É assim o seu aspecto. Dentro daquela caixinha de plástico, no meio de tantas outras, com uma pá que as consiga trazer e pôr dentro do saco. Aquelas gomas em forma de coração, trá-las sempre, mas nunca lhes toma o sabor.
Que lhe fica a saudade, o recordar de outras noites, outras gomas, outros sentires. Que lhe fica o desejo de tomar o paladar daquele coração. Nessa paz que a chateia, tem vontade de correr de novo até àquele carrinho. Ser rebelde, uma vez, e provar, egoísta, o sabor daquele doce, aquele, no meio de tantos outros. Que se já o deu tantas vezes a provar a tantos apreciadores diferentes, demorará muito tempo até que chegue o alguém que lho dê a si?
Impávida, meio sóbria e mais sonhadora, continua andando. De saco na mão, tira-as e come-as, uma após outra. Sem olhar para o conteúdo, é-lhe automático: o coração, o cor-de-rosa e vermelho, permanece no fundo. Sem que lhe toque, para que o ofereça a outrém até ao dia em que chegue o outrém que lho ofereça a si.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Insensibilidade

Que me custa, que não entendo, que nada me diz. Que tanto é, que muito move, que a tantos fala. Insensibilidade que raio és tu no meio desta trovoada?
Ontem decidi sair de casa disposta a amar. Presenteei com um sorriso até aquela nuvem mais longínqua que tanto me disse, num nada de palavras. Caiu uma lágrima para o sol, um toque dado no mar. O vento forte fez abrigar-me dentro da gola alta do casaco, mas o coração lá dentro ardia numa chama incessante. O comboio irritante que me trouxe, com a cabeça encostada na janela de uma forma desconfortável, amei-o. Amei-o, apenas porque só sei amar.
Hoje decidi sair de casa disposta a ver os outros a amar. Quieta, calada, observadora. Que vi rostos sem expressão, bocas afuniladas num reprimir de emoções, olhos sem cor. Que soube de palavras fúteis, de todos, no nada. Aquelas personagens que pareciam ser as principais deixaram-se levar com o vento, apenas. Não têm casaco e o gelo penetra até ao mais fundo recanto, soltando-se no expressar de uma fotografia a descoberto, seguida do rugido mais medonho que possa haver.
Tenho medo, medo das diferenças do ontem e do hoje. Medo, porque o ontem já passou e ficará sempre para trás, por mais que se queira tê-lo de volta. Mas é verdade, é real, é um saber, que toda a minha energia gasta em amar, apenas, em amar, acabou nisto, nesta trovoada constante e impenetrável. Será que valeu a pena ter-me disposto a ir assim de encontro ao mundo, despida? Porque o decidi, ser diferente.
Quis deixar-me tocar, deixar-me sentir, querer descobrir. - Foi até onde a minha vontade me levou. Sem motivação, sem nada, com querer. Foi um passado, feliz. O presente traz-me o que odeio, o que repudio. A verdade, nua e crua, aos olhos de todos e de cada um, sem que haja outra hipótese senão deixar ir o guarda-chuva com o vento. Sem opções, sem escolhas.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

.destinO

Acabada de se sentar na cadeira do costume, olha pelo vidro, mas nada vê. Tira o MP3 da mala e liga-o, enquanto colona os phones nos ouvidos. O pensamento está lá fora, perdido em vagas ideias de incompreensão e mágoa. Nem sempre foi assim, mas ultimamente tem-lo sido vezes demais. O comboio começa a andar e ainda que saiba onde tem de sair, o caminho parece diferente, totalmente novo.
Perguntas, mais perguntas, ausência de respostas, ideias soltas até, tudo, de uma vez, e a cada apeadeiro mais pessoas entram na carruagem. A música ecoa nos seus ouvidos mas nem sabe qual toca, apenas a leva de encontro a um outro mundo, aquele que não este. Sempre que o comboio pára pergunta-se se não deverá sair ainda que seja numa estação desconhecida. Razões não há, mas a necessidade de abandonar aquele espaço lá fora, aquele terror de perdição, impera cada vez mais.
Olha à sua volta e as pessoas entram e saem, umas apressadas outras cansadas logo pela manhã. Será que também ouvem a mesma música que agora escuta? Não sabe o que sentem, mas pelo canto do olho observa algumas e tenta adivinhar. Aquela senhora que dorme à sua frente, será que o faz para fugir dos mesmos pensamentos que a assolapam? E a que lê, concentrada na sua história de encantar, será porque gosta mais daquele mundo? Não sabe, não adivinha. Mas ela, ela sim, quieta, sozinha, ouve mais umas palavras envoltas em melodias preciosas que tanto lhe dizem, muito lhe recordam.
"Próxima estação, a tua." - Desliga a música e a acalmia esvai-se. De novo à realidade que ainda agora questionava... Terá mesmo de ser assim? É ali o seu destino e mesmo que queira perder-se, como antes, é impossível. Levanta-se, deixando para trás o seu banco. A porta abre-se e assim que mete um pé naquele chão de lajes com pedrinhas sabe, está de volta. Aquele horizonte que mal via dentro do comboio é real, é o seu destino. Resta-lhe aguentá-lo, vive-lo, mais a bem, menos a mal. Depois, há-de chegar de novo o momento em que a porta se abrirá outra vez, trazendo-a de volta para o seu ponto de partida, o mesmo de sempre.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Assalto

Poderás explicar-me porque não me deixas quieta? Esforço-me por não lembrar onde estás, perdido dentro de mim, mas ainda que eu não queira, vens cá ter sempre, às minhas ideias, aos meus sonhos... Nem quando tento esquecer o mundo, me largas. Poderei dormir somente? Sem que me assaltes na quietude do sono, de uma forma absurda e magoada?
Deixa-me quieta, senão me procuras. Porque teimas em deixar-me arrepiada se nada vês em mim? Gostava de dormir somente, sem te pensar, sem te ver, sem dar conta de que me preocupo em ti. Mas teimas, teimas em dar-me a inquietude, em trazer-me a saudade que não quero ter.
Pára de me assaltar, de me querer levar de uma vez só, se não é nada disso que pretendes. Não quero que me roubes se de nada te vale roubar-me, senão apenas por aquele teu gabar de que o fazes. Não quero, sai daqui. Complicas tudo quando decides ser ladrão de um sonho meu. Estás lá sempre, ainda que me esforce por que não me leves o pensamento inconsciente.
Deixa-me quieta... Mas será isso que procuro? Que te vás, de uma vez? Quero que me deixes na acalmia, mas não que te vás. Porque não ficas apenas no presente? Na veracidade?... Apenas, só, na normalidade das coisas? Porque não queres. Porque és cobarde, de todas as maneiras. Porque só te sentes bem se me incomodas, quando não o quero.
Porque tu, seu ladrão de sonhos, não tens a coragem para assaltar o meu pensamento de caras, assumidamente. E assim, com o meu passear pelas nuvens lá vens, escondido, por detrás da tua máscara subtil, tirar-me o descanso.
Poderás ou não explicar-me porque não me deixas em paz?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Perdida

Sentada, o seu pensamento caminha por aí. A música ecoa no quarto, até lhe chegar ao coração. E é assim, autónomo, que um choro escondido teima em mostrar-se, sem razão, apenas sentido.
Não sabe o que é, o que será. Tudo é tão efémero que apenas, no meio do nada, um trilho se estende à sua frente, aquele onde nunca se encontra. Sabe, lá no fundo, que lhe falta tanto. Mas onde encontrar esse tanto? Ele aparece, de vez em quando, mas mais uma vez vira as costas e vai embora.
Por mais que procure, não se encontra. A apatia é fatal e as ideias acumuladas no seu espírito, são apenas um amontoado de condições que se lhe impõem. Faz-lhe falta a companhia, o conforto. Faz-lhe falta ela própria, que não sabe onde anda, enganada mais uma vez. Queria apenas aquela acalmia que outrora sentia, dentro de si, rodeada dos seus importantes suportes. Agora, mesmo com eles por perto, perdida, é como está. As palavras não fazem sentido de tão inócuas que são. Será que algum dia vai passar?
Vontade, é a de desligar. De partir, ir, viajar de encontro a um objectivo. Seria bom se pudesse ser feito agora... Mas não, parece ainda demorar. Faltará assim tanto para que deixe tudo para trás? Sabe que nada será fácil no seu novo caminho, mas sente que tem de o seguir, tem de se superar. Pelo menos lá, tudo seria diferente daqui e ainda que perdida à mesma, não seria da mesma forma.
Que lhe custa, procurar-se e não se encontrar. Querer escolher aquele rumo, mas não saber qual seguir. E a vontade, é só uma, só essa. Deitar fora tudo aquilo que inconscientemente colheu, sem saber que o fizera. Afinal, apenas acredita, porque assim é, ingénua. Ingénua, cheia do sentir. Não dá para que assim não o seja, se sempre assim o foi. Tudo o que a ela se liga, a ela fica ligado. Porque sente, porque vive, porque quer disfrutar. No final, além de perdida dentro de si, fica também ferida com aquilo que a fez perder-se.

domingo, 16 de novembro de 2008

nada

Não te vou pedir nada. Nada, senão que fiques. É tanta a imensidão que me constróis, que nem sei como é capaz de ser assim.
Refúgio de sentidos soltos, pretensões vagas, senão apenas o que são. Custa, sem saber, faz falta que te sintas. Nada é o que quero de ti, o nada que me dás e tanto me preenche. Podes ficar mais um bocadinho?
Imagino-te no areal solto, indo de encontro à àgua. E esse teu sorriso parvo? Que reconforto sabê-lo. O sol ilumina-te e aqui quieta vejo a tua grandeza. Mas nada, o arrepio sai-me das costas para os braços, aqueles que envolverias uma vez só, no sempre. Não te vou pedir nada, prometo. Deixa-me apenas que te olhe.
Tenho o teu toque no meu cabelo e não deixo que desapareça. Aquela pele suave que sem querer tocava, traz-me tanta certeza, tanto querer de nada. E se te perdes? Se tudo se desvanece? Que ficará, é certo. A ilusão de te ter em mim, que quis, que construí, que não sei se é verdadeira.
Mas vai, podes ir. Deixa para trás apenas o teu rasto, o que julguei puro, o que quis ser teu. Quem sabe, um dia, seja ou não, o todo. Podes ficar, mas não te peço nada. Prometi. Dá-te apenas... somente. Somente o que quis descobrir, o que acreditei ser real.
Deixa-me apenas a tua mão, o teu sorriso, a tua vontade e puxa-me. Puxa-me e leva-me a caminhar de praia em praia, contigo a meu lado. Mas pedir-to, nada.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Que.

Que me apetece tanto gritar-te aos ouvidos, que nem sei que te diga já. Porquê? Porque te mandas em devaneios loucos, apenas porque, sem dó nem piedade. Devias, tanto, querer conhecer outra hora.
Que me apetece chorar diante de ti, que os meus olhos são já cegos. Não vês apenas a plenitude, encontra-se tanto de inutilidade aí dentro que me confunde e emaranha. Precisas, mesmo, de saber o que é o mais.
Que me apetece dar-te um estalo na cara, que a minha mão é uma pedra mármore. A vergonha não te consome, ainda que te pertença. Aliás, a vergonha é redutora em ti, apenas mostra que afinal não passas de uma alma sem sonho.
Que é tanta a frieza tua, que nem vale a pena o tudo para se deparar com o teu nada. Será que existe algum calor aí dentro? Findo noutra coisa que não em atracções robustas e infantis?
Que me entristece, ver que tanto podes ser e nada te importa. Importante apenas o fútil, porque é o fútil que te atrái. Mas será somente o fútil que queres ser?
Que me dói ver-te incólume, sem um gargalhar genuinamente sentido, somente prazenteiro, porque sim. Que não te quero, que nada. Que deverias apenas ser, ser, mas não és capaz.
Que me consome apenas a tristeza, a minha, sabendo que tudo isto sabes mas apenas nada te importa. Para quê te importar? Para quê me importar eu? Somente para o nada, somente para a minha robustez exagerada do pensar, se possa um dia traduzir naquilo que sentirás. Mas conseguirei? Não.
Que me chateia, que me deixa enfastiada. Ainda que o saibas, tudo, que sou eu senão o nada?

sábado, 8 de novembro de 2008

Mundo

O mundo gira, mas nem sempre à tua volta. Achas demais, que tanto te apetece. Consegues até fazer-me sentir somente a futilidade, porque na maior parte das vezes é isso que transmites. Enjoa, mas não há nada a fazer.
Um dia quando o mundo parar de vez, repararás. Afinal, nem sempre é assim tão perfeito e indissociável. Não tenho que diga, mas também não tenho que te páre. Sabes aquela gota de àgua que é apenas mais uma no meio de todo o oceano? Oceano? Sou essa mesma, aquela, mas mais uma. Já tu, supremo poder dos mares, não serás também apenas outra gota? Ainda que não o queiras ser, parece-me bem que o sejas.
Agora o mundo roda, sem sentimento. E depois quando aquele caroço plantado no chão der origem a uma nova àrvore, não fará mais sentido? Porque há momentos em que é preciso cair, morrer, enterrar. Acaba por sair algo tão novo de lá do fundo, que tudo é mais perfeito que tanto. Olha, porque não caimos os dois?
Depois, o mundo abranda. Há tão mais a certeza de que os grãos de areia passeiam com o vento, apenas livres e vivos. Vês, quando temos algo que é uma vida e não sabemos aproveitá-la? Existe tanto desnecessário, para quê traze-lo? Não, não quero. Devia? Não, não devo.
Sabes, é que quando o mundo decidir deixar seguir a sua vida de forma normal, já estarei em toda a levianeza da existência. Tu, não sei onde andarás. Talvez um pouco sem rumo, não?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Gostava de ser apenas uma nuvem, sabes? Para poder andar por todo o mundo, gastar-me e voltar a nascer. Era o que mais queria. Ainda agora aqui estou e já fico cansada, de ver, de saber o mundo. Preferia tão mais desaparecer e voltar a vir por inteiro.
Tento tanto, mas tanto, que não consigo. A acalmia não fica sempre, quando era somente o que eu queria. A calma. Depois existe a falta de tudo, de tanto. Basta querer ser, saber, mas nunca se tem a certeza. Gostava de me gostar, de me orgulhar, de me sorrir. Gostava, mas não consigo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

É, sabes daquele jeito? Em que levantas voo um palmo acima do chão mas logo cais e voltas a terra? Pois, é mesmo assim. É tão assim que nem sei que te diga. Trazes-me o sonho, mas logo o mundo me traz a realidade. Afinal nem sempre tudo é como julgamos ser. Mas devia...
Sabes quando pensamos que a realidade é tão boa que é um sonho? Pois, não passa apenas de uma ilusão. É o que dá, acreditar. Aceitar que há somente uma boa intenção dentro de cada alma. Oh, mas se assim fosse!... Se assim fosse agora levitaria, não estaria somente a pairar.
Mas pronto, por mais que queira mudar, nada senão acreditar. Acreditar que cada realidade é um sonho tão distante que amanhã, hoje, agora, um sonho é apenas uma realidade aqui tão perto.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Momento.

Fazes-me falta, como tu sabes fazer. Tenho medo de que vás para longe, boiando sobre as ondas, que não consiga encontrar-te mais. Gosto de quando ficas em mim, de quando ficamos apenas sentados na areia a olhar o mar. É-nos tão cúmplice, não é? Transporta toda a acalmia, o mimo de um coração. E gosto, gosto de te olhar quando olhas o mar. Sei que te vives, que estás apenas a disfrutar de um momento, O Momento. Pareces-me tão meu, que penso que nada me és. Quero saber que sim, que te terei aqui, mas com todo este mar, como poderás prometer-me que a corrente não te leva? Não sei que mais te queira, senão querer-te somente. Mas é salgado o mar, ainda que lhe deixe toda a minha doçura. Que fique algo puro meu, para ti, se fores. Fica, mas vai. Somente, o que apeteça, o que te peça o mar, somente. Ao menos sei que se as ondas te levarem, terás tanto um beijo meu como uma lágrima. E assim, irei contigo. Ainda que me leves, que fiques, ou não.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Não sei.

Não sei o que me és, nem o que me poderás ser. Sei que te estimo e que o bem que me fazes é imenso. Hoje enquanto vagueava o meu pensamento voou. Afinal para onde me levas tu? Elevas-me no ar com uma delicadeza subtil, até que levemente volto ao chão, sorrindo, caindo num campo minado de flores num dia de Primavera.
Não sei o que me és, nem o que me poderás ser. Foi estranha a forma de como chegaste, mas tão tua. Juízos de valor, basta uma palavra. Ainda bem que mais uma vez me enganei. Tinha medo, é verdade. Nem sempre é fácil, nem sempre tudo se ultrapassa assim, rapidamente. Será que consegui? Será que decidi deixar-me ir?
Não sei o que me és, nem o que me poderás ser. Sei o que já me foste. Sei que achei que serias um, mais um como tantos outros. Não sei o que me és. Não sei o que quero que me sejas. Sei que as incertezas estão certas e que quando voo lá no alto, me dás a mão e levas contigo. Não sei para onde me levas, mas eu quero ir. Não sei se tudo é bom ou mau, se faz sentido ou não, mas sei que estás presente. Isso é o que importa, não?
Não sei.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Falta de.

Chego a casa e largo as minhas coisas para cima da cama. Estou farta de te pensar. Ligo o computador e apetece-me tanto o chá quente. Os parvos dos pássaros já me enervam com aquele piar insistente e canso-me de sentir. Sabes quando queremos passar-nos da cabeça e falar? Falar somente sem apenas dizer nada?
Já me cansei de tentar. Quer dizer, parece impossível. Saber que basta um simples gesto e posso ter-te aqui. Mas terei de ser sempre eu a tentar?
Não gosto de me sentir desiludida. Mas é tão insistente não é? Acabo por agarrar na minha pasta e folheio as micas para não dizer que não faço nada. Desisto. Mando-me para trás na cama e fecho os olhos. Dou por mim e parti para outro mundo.
Lá encontro-te, tenho-te por perto. Lá talvez os meus desejos sejam uma ordem. Apenas sei que quando voltar de novo à minha cama, não será nada igual. Será outra vez o mesmo, o mesmo que dispenso.
Saudade.
Se aperta, é porque foram bons momentos.
Se dói, é porque há medo de os perder.
Agora aperta, doendo cada vez mais.

sábado, 20 de setembro de 2008

Porque há pessoas a quem o mundo se apega, se dirige apenas para fazê-las feliz. Neste mundo, há algumas que vêm ao seu encontro. Será que que vale a pena? O rio continua a correr e por mais que um peixe fique junto á margem, talvez um dia se engane e se deixe ir com o leito. Parece permanente, sólido e firme. Mas não o é, escorrega e vai, desaparece de uma vez.
Voltar atrás? Será que há força suficiente para isso? É preciso querer, viver, saber o remar contra a maré. O desejo de que tal aconteça, é mais forte que nunca. Só depende do que se apega ao mundo, porque o mundo ainda o quer.
É a precaridade de todo um sentimento aqui, daquele que se tinha mas foi embora. E quando se quer que volte, como prometeu, roda-se o papel e descobre-se que o bilhete era só de ida, sem volta.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Parabéns.

Nem sei se é normal fazer isto, mas a verdade é que este meu Feeling Inside fez no passado dia 2 de Setembro um ano de existência. Motivo para comemorar? Talvez!... Uns dias sim, outros não, aqui fui deixando um pouco de mim. Veremos o que nos traz mais um ano. A minha vida passou muito e eu cresci. Gostava de continuar com isso e de partilhá-lo uma vez mais.
Portanto, parabéns para o meu The Feeling Inside.

sábado, 30 de agosto de 2008

Facas no peito^

Já falei aqui de quando nos espetam facas nas costas. Pois bem, afinal, também se espetam facas no peito. Daquelas facas, que de tão velhas e pouco afiadas, pensamos ser incapazes de o fazer. Mas, a verdade, é que espetam. Tomam posição à nossa frente, para que as vejamos. E depois, num golpe seco, vêm direitas a nós. Já foste.
Espetam com tal intensidade que falta o ar no momento do embate. Que vamos de encontro à parede mais próxima, com toda a força. E fica, espetada, enquanto caem as lágrimas. Que nunca acabam, nunca secam. Pensava eu que só eram por trás, sem as vermos, com a cobardia dos outros. Afinal, também são claras, olhos nos olhos, com intenção, ferindo mesmo, por não se acreditar que é verdade.
E é assim que, depois das facas nas costas que nos deixam absortos na crueldade das pessoas, existem as facas no peito que trazem a mais pura, completa e magoada desilusão.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Saudade~

Saudade, palavra tão portuguesa essa. É o que toda a gente diz. Mas Saudade é uma palavra minha. Não sei explicá-la, mas está aqui, vês?
Parece que me falta o ar. Ou melhor, que respiro com menos vontade. Parece que não sei falar. Tudo o que digo é apenas sinceridade.
Sinto falta de ti, apenas tenho a memória. Preciso do presente aqui, junto, uma vitória.
Esta palavra minha diz tudo, tudo o que é sentir. Transparece o meu mundo, recorda o que me faz sorrir.
Mas faltas tu, faltas tu aqui. Quero mandar a Saudade embora e dizer-lhe que, ainda que seja uma palavra bela, eu, aqui dentro, vês?, não gosto dela.
Não sei... É mais que isso. É um olhar, um sorriso, um abraço apertado, um beijinho na testa, uma festa na face, um bater de coração bem alto, que voa. Lembras-te de quando era tudo nosso? Sozinho, sem ela? Quero de volta!
Saudade, palavra minha. Vai embora, sim? Durante um bocadinho... Traz de volta o meu sonho pequenino, a minha vontade feliz. Aquele desejo, Saudade, que quando mo concretizas, sorris.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tarde.

Recordações. O que foi mau já esqueci, o que foi bom, é permanente. Lembro-me de tudo de vez em quando, inconscientemente. Lembro-me do meu sorriso, da minha necessidade de viver. Lembro-me de uma tarde fatídica, muito feliz. Das promessas consumadas por cada lágrima, pelo sofrimento emanado por caras horrendas, expressões de dor. Soube que nunca iria esquecê-la e agora, passado já este tempo, tenho-a aqui presente, como se tivesse sido hoje. Toda a sinceridade que veio ao de cima, todos aqueles abraços apertados e palavras eternas. Um dia teria de vivê-la, passar por ela. E, tal como queria, foi melhor do que o que imaginava. A dor consumiu toda a minha pele, cada pedaço de mim. Os momentos bons ficaram presos na minha memória, cada vez mais enraizados ao passar de um segundo. Teve de ser. Agora, tenho na minha presença aquela cara, aqueles olhos húmidos e únicos, aquelas mãos que me acariciavam, aqueles braços que me apertavam contra o seu peito. As palavras ditas ao ouvido, as vontades de um futuro. Tudo, o beicinho apertado e querido, a tristeza que emanava de duas almas. Futuro prometido, depende de nós. O que foi bom traz-me este sorriso, ambição de continuar. Foi a pior tarde da minha vida. E também a que me trouxe mais felicidade.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O medo de ter medo.

Existem seres com os quais nos preocupamos. Que estimamos e acarinhamos mais que tudo, que nos são especiais e fundamentais. Aqueles com que nos importamos mais do que connosco mesmos. E é mau, martirizante, saber que um dia esses, os nossos, possam sofrer.
Tenho medo da angústia, daquela que deixa apertos nas gargantas, nós bem amarrados e uns olhos humedecidos. Tenho medo da fraqueza, a que faz com que nos deixemos pisar. Tenho medo do medo, que faz com que receemos em nome daqueles de quem gostamos.
Sei que não estão bem. Os que não estão, não estão. E aí vêm todos os meus medos, vêm a angústia, a fraqueza e o... Medo.
Não sei que diga nem que faça. Apenas está perdido por entre este meu medo tudo aquilo que enfrento. A felicidade de ter alguém que estimo e com que me preocupo. Alguém que quero que esteja bem. Alguém de quem preciso do sorriso. Apenas esses, fazem com que o meu medo de ter medo seja de toda e qualquer maneira, um medo inútil.

domingo, 20 de julho de 2008

A Paixão.

Venho falar de uma paixão.
Quando era míuda não gostava de brincar com meninas. A maior parte das vezes encontrar-me-iam junto dos rapazes, a jogar à bola. Também tive a minha crise dos 5 anos, porque na festa final do Infantário o meu namorado não me deu a flor de papel quando cantámos o "Menina estás à janela" e foi dá-la a outra qualquer. Depois, na escola primária, descobri o futebol.
Punha-me dentro de campo e fazia a minha jogada, ou era a Joana Pinta ou a Nuna Gomes. Estrelas de outrora que logo comecei a estimar!... Eram uma dupla fenomenal, ninguém conseguia criticar tal coisa. Um dia, uma colega da minha mãe trouxe-me um envelope. Lá dentro, tinha um postal com uma fotografia do João Pinto com as inscrições mais valiosas que poderia receber: Para a Cláudia Ameixa com um beijinho. E toda aquela assinatura brilhante e intocável. Durante anos, permaneceu numa moldura, junto da minha cabeceira, como um troféu conquistado. E o meu jogo de bola continuava, sempre, em cada intervalo.
Lembro-me da minha roupa de quase sempre, uns calçoes e uma tshirt, um fato de treino nada original. Vestidos? Lacinhos? Carrapitos no cabelo cheios de ganchinhos super mimosos? Não, obrigada. Bastava-me uma bola de futebol solta depois do almoço sobre aquele cimento e estava ali o meu verdadeiro eu. Com o passar dos anos, nada como jogar à bola. Deixei de ser a Joana Pinta, mas passei a ser a Ameixa. E com cada torneio que se avizinhava, lá vinham os nervos que me faziam entrar e sair constantemente de campo. Ainda assim, vê-la rolar em direcção à baliza já era um sonho!
Sonho de pernas cortadas, que é rara a mulher que ganha um futuro aqui. Fora do campo, a paixão encontrou o seu pleno na bancada. E era ver-me, equipada orgulhosamente de uma vermelhidão imensa. Festejos a cada glória, tristeza a cada derrota. Aqui há uns anos tivemos uma perda pesada. Apenas me recordo que foram alguns os minutos que chorei agarrada a uma amiga, que ria, estupefacta por eu chorar por um jogo perdido. Não foi um jogo, foi uma vitória desperdiçada. Foi um sentimento de desilusão.
Consegui implementar nesta casa uma paixão comum. A míuda fanática da bola e do Glorioso. Quem diria. Cachecóis voavam, bonés, prendas sempre com um vermelho presente. Trouxe então toda a minha família atrás de um fenómeno: o futebol e o Benfica. E ganhámos uma taça àqueles do Norte, onde consegui arrastar a minha mãe até à Luz. Foi passar toda a 2ª circular com um hino aos gritos, estar lá, dentro de um espírito, uma união. E voltar, perdidas na noite, com um pau na mão, não fosse alguém estragar aqueles sorrisos.
Cada sentimento colado a esta força que me controla, é crescente a cada dia. Porque aconteceu, não sei. Como apareceu, não há nada que o explique. A única certeza é que esta minha paixão é partilhada por mais de 180 mil pessoas no mundo. Umas mais que outras, todas aqui estamos para o mesmo. Viver o futebol, amar o Benfica.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

=)

Abre a janela e voa. Sai, deixa-te levar pela brisa. Estica os braços e levanta o queixo para o cabelo esvoaçar. Fecha os olhos e sente o mundo. Afinal ainda existem coisas boas.
Dá piruetas até ao infinito, ri como nunca, grita, festeja, sente-te aqui. Vá, anda. Dá-me a mão que eu levo-te comigo, para não teres medo. Vês como tudo é mágico? Esquece as pedras onde tropeçaste, ultrapassa as barreiras que se colocaram no teu caminho. És tão especial quanto eu!
Mais um cambalhota feita por entre nuvens de sorrisos. Renasce! Há sempre algo que nos puxa em frente, sempre, só que às vezes é mais difícil de encontrar. Nada está perdido, nada. Não existe um fim, existe um novo início! Não vês que até as gargalhadas são outras?
Vamos, corre pelo vento! Já está longe, lá em baixo, o quarto de onde saiste. Agora continua, salta! Vamos, passear, colher flores do céu! Não é boa condutora esta aragem que nos traz? Ah, como somos capazes de deixar também o nosso rasto luminoso, ardente de magia e encantamento. Cheio de nós, vivo.
Anda, não temas. Voa, mesmo que não saibas. Sorri, ainda que não haja motivo. Grita, nem que seja apenas um grunhido. Sente. Sente, mais do que nunca.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sei lá

Estou cansada de pessoas. De sentimentos, de coisas, de momentos, de lágrimas, de irritações dentro de mim. Cansada de me questionar sobre tudo, sobre o que se merece ou não. Na imensidão do mundo poucas são as palavras que realmente importam, menos ainda são aquelas que se sentem. Pode até existir toda uma articulação de conceitos, a criação de uma frase extremamente bonita. Mas que importa isso, se não sai de lá nada?
Cansam as pessoas. As que não veêm porque não querem. Ou as que só veêm o que querem. Isto da mágoa tem muito que se lhe diga.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

23/06/2008

Mais uma lágrima que cai, mais um bocado de pele que se rasga. Estou cansada de pessoas.
Na maior parte das vezes não falo, sinto. Por cada sorriso que me dão, eu assimilo. Por casa abraço, eu aconchego. Por cada lágrima... Sou uma caixa do sentir. Não sei é se gosto de gostar.
Sinto-me especial quando vejo um sorriso, quando sorrio para alguém, quando sinto amor pelas pessoas, quando estimo outros iguais a mim e me sinto inútil ao vê-los grandes, ao tê-los grandes.
Ainda assim há tanta vontade de desistir, tanta. Quando o meu sorriso se substitui por um nó demasiado apertado na garganta, num respirar ofegante, pelas lágrimas tristes e contínuas, pela expressão monstruosa de um horrível sofrer. A dor é mais forte, é o que se sente em primazia.
Tento iludir-me de que não é assim, de que os momentos bons são mais capazes. Podem ser, quem sabe. O que custa é ver um momento de amor transformado num de dor. Complementam-se, parece-me. Podia ser ao contrário, primeiro a dor, depois o amor. Na maior parte das vezes não é assim que acontece.
As pessoas são quem mos trazem, sou uma construção de pessoas. Vivem cá dentro. Confio nelas, a confiança, confio, acredito, creio. Dou-lhes a mão e trago-as para um paraíso meu.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

^

O nó está a apertar e há algum tempo que se sentia assim. Troca, desespero, raiva. Impulso incontrolável de ódio, sensação de desprezo, a repulsa personificada. Não vai cair porque não quer que caia, quer que se aguente, se cale e sofra só. Um momento vale por mil, mil que valem por uma vida e o espeto sempre pronto a atacar. Fixa o alvo e afia-se. Nada a fazer, aí vem ele, direitinho.
Não é desilusão, é horror. Aperto corrosivo, que não sara e se desfaz. Queima e arde, aqui, de uma só vez. Continua, sem cessar. Permanece, sempre ao de leve, com uma amargura maior de vez em quando
Agora mata, pesadelos vivos e reais.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amizade.

Não é preciso falar muito nem pouco, basta falar. Um olhar que diga, algo que o dite, o suspiro cúmplice. E é assim que sei, que me congratulo de ver que é verdade. Há medo de a perder, que se desvaneça e saia, que vá embora, de uma vez, como tantas que já foi. Numas alturas volta, mas acaba sempre por seguir o seu caminho. O perder é constante, ir sem retornar, ir, porque decidiu.
E foi, mesmo que tenha feito tudo para que ficasse. Agora, sei que posso tê-la sem que se desvaneça como a brisa que passa rápido. Aos poucos vai ficando, perdurando, fortalecendo-se. Como é boa a sensação. Momentos inesquecíveis de partilha entre o sol e o mar, escritos num areal da vida, permanentes, nossos.
Tu que prendes e pedes, cedes e ofereces, cativas e trazes. Que me respiras. Nem que se esteja longe, a distância não existe. Nada deixa que nos percamos. O nosso caminho está traçado, não vamos sair dele.
Seguir o trilho, rumo a nós. Porque não é preciso tudo, basta que se una, que seja um, o que ja é, mais forte. Isso, sempre.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A corda.

Agora o meu coração está a doer. Tem uma corda que o aperta e rasga, que o fere e faz com que escorram lágrimas dos meus olhos.
A verdade é esta, a que aceito. Aliás, não poderia ser de outra forma. A vida é efemera, mas mesmo assim o sofrimento quer fazer parte dela. Consegue, destrói, espeta e mata. O meu coração está a doer. Ergo a cabeça, mas o que acontece é que as lágrimas caem mais direitas. A corda está a apertar, cada vez mais. Ainda acho que há algo que o mantém vivo... Sim, existe.
Com cada rasgão, cada fio de corda que prende mais, as lágrimas acalmam. A dor suporta-se, mas não desaparece. Uma vontade de gritar é espontânea, mas quando se abre a boca, o som prende. Pensamentos, não existem. Vontades, não se revelam. Sentimentos, esses, não desaparecem e não percebo o porquê.
E continua, doendo, sem parar, o insuportável coração! Não percebes que gostava que soltasses a corda? Que me deixasses respirar de novo, sem te aleijares? És um cobarde! Não te aguentas com um aperto, não lhe dás luta, deixas-te simplesmente amachucar, emaranhar!
Não tenho vergonha de ti, coração. És como eu quero que sejas. Mas a corda, não podemos mesmo mandá-la embora?

domingo, 25 de maio de 2008

O Grão de Areia

Foi quando o maior grão de areia dedidiu juntar-se a outro. Mais grãozinhos, mais pequenos que ele, saltavam-lhe para as costas, apanhando boleia. Aos poucos, ele foi ficando cansado, já não conseguia aguentar mais aquele peso, aquela dor sobre si, quando não tinha culpa de que os grãos pequenos se lhe tivessem colado. Às vezes tentava esquecê-los, fingir que não estavam lá, mas sempre que um novo grão subia para aquele monte a dor voltava. Ele revoltava-se, ainda que pouco depois tudo fosse o mesmo de novo.
Acumulou uma quantidade de grãozinhos sem fim e quando um deles fez mais força, o grão de areia desabou. Caiu, com todos os outros por cima de si, empurrando-o para baixo. Sabia que conseguiria voltar à tona, mas para isso teria de fazer imensa força. Contudo, faltava-lhe a coragem. Faltava-lhe um motivo para que viesse ao de cima, imponente, como o maior grão de areia do início. Ainda assim, sabia também que quando mais baixo fosse, mais complicado seria voltar ao de cima.
Outros grãos de areia incentivavam-no a subir, gritavam-lhe, que era capaz e uma estupidez estar naquela situação, sem reagir. Um, apenas um, aquele que se lhe juntara, deixava que o grão de areia continuasse no fundo, aguentando, aguentando...
Ele era apenas um grão de areia em todo aquele deserto. Mas era um grão de areia que precisava de viver e ali, aguentando, nem sempre conseguia fazê-lo da melhor forma. Outros grãos de areia passeavam com a brisa que de vez em quando passava, mas ele mantinha-se quieto, com todos os outros por cima. Que devia fazer? Mandá-los embora e seguir a aragem, ou aguentar, outro após outro, os grãos de areia que o faziam viver de uma forma inconstante?
Precisava de si, apenas o sabia. Precisava de se sentir bonito, de saber que era O Grão de Areia no meio de todo aquele deserto.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Respirar.

Espetou-se-lhe no peito e as lágrimas rolaram.
Sem raciocinar, apenas imóvel e quieta.
Memórias, lugares, pessoas, tudo, cada momento na sua mente, cada recordação na palma da sua mão. Podia soprá-las ao vento ou guardá-las para sempre. Podia guardar-lhes a felicidade e tapar-lhes a mágoa. Podia aproveitá-las, mas não conseguia transformá-las em passado.
Nunca seria algo deixado para trás, pois nunca deixaria de existir.
Mas elas caíam, insistentes e repetitivas. Não paravam, sabe-se lá porquê.
Eram o espelho de uma alma afogada que soltava naquelas ondas o excesso de que não precisava para poder respirar.

terça-feira, 15 de abril de 2008

As minhas 7 Maravilhas

Pois é, aqui está um desafio que me foi deixado pela minha amiga Diana e que me faz escrever pela segunda vez hoje, visto que só agora me lembrei de ir dar a revisão aos meus blogs amigos e ler o que escrevem, ainda que ela me tenha lembrado há imenso tempo. Enfim, nem é preciso comentários não é? Desculpa rapariga! Aqui vai então disto, é o que sair, que é para ser mais autêntico!
1ª maravilha minha:
Ser feliz! É lindo, sei lá, é brutal. Adoro, amo ser feliz. Acordar e ir para o espelho com uma cara de nem sei o quê e cantar, dançar de felicidade. É maravilhoso, pois é.
2ª maravilha minha:
Mimos. Adoro mimos. Mimar e ser mimada, é mesmo bom. Ainda faz com que se concretize mais a primeira, sabe?
3ª maravilha minha:
Ter a minha família e os meus amigos comigo. Olhar para as caras que todos os dias me fazem gostar de mim. Os meus pais e a piteca mais o puto, o meu bixinho, os verdadeiros amigos que, embora poucos mas excelentes, se mantém e aquelas amigas que a cada dia são mais minhas - Ni, Cata, Sofia.
4ª maravilha minha:
O meu Milkie. Opah, eu amo o meu carro, ninguém tem noção. Precisa que lhe limpe o pó!... Adoro conduzi-lo, sinto-me mesmo bem, livre! E quando ele ronca a pedir a mudança acima, cada vez mais depressa mas sempre tão bem. Pena que beba tanto, coitadinho. Mas eu amo o meu carro, bolas!
5ª maravilha minha:
O meu Benfica. E nem quero comentários de lagartagem e tripeirada odiosa aqui. O Benfica é o maior clube do mundo. E é o meu! Acabou, é maravilhoso e não há discussão.
6ª maravilha minha:
Pronto, vou ser gulosa: Um sundae de chocolate com as nozes. Ai fogo, é um pecado, juro. Quando as parvas das mulheres são forretas com o chocolate e as nozes fico mesmo aziada, fogo, parolas!
7ª e última maravilha minha:
Comida vá, de novo. Aquela massa do QuasiPronti que a Ni me ensinou! É fusilli com molho de natas, cogumelos e fiambre, mais milho, azeitonas e atum. Ai senhores, que antes de um sundae é tipo a 8ª maravilha do mundo!
E aqui está, deixo agora o desafio para a Ni e a Florbela! Se o quiserem fazer, é só seguir o exemplo!

Tão perto e tão longe.

Entrei aqui e deparei-me com a minha página.
A música começou a tocar, e fiquei a escutá-la, olhando o infinito e apenas a assimilar a letra.
Recordações mágicas atravessaram o meu espírito e sorri, com cada uma mais presente que a outra. Depois, tive o medo comigo, aquele que agora me atravessa a caminho de algo que parece um martírio, um fim longínquo de que sempre que parece acabado, volta, sem cessar.
Vivi a música, palavra por palavra, e soube que a sentia.
Há sempre um bocadinho bom dentro de nós, sempre uma identificação de um momento, um sorriso e uma lágrima.
Porque se choramos, rimos. Se rimos, se rimos, somos felizes. Se os fazemos em conjunto, nada de melhor há.
Porque tão perto e tão longe te tenho aqui, com vontade de mim, com amor de ti.
Mesmo sem chorar, rio sem fim. Afinal, cada sorriso solta uma gota feliz, que sei estar presente.
O que existe num conjunto, partilhado e diferente, é único. E tão perto e tão longe somos apenas nós, uma alma especial.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Desilusão.

Em vez de deixar o título para o fim, hoje foi a primeira coisa que aqui escrevi.
Nem sei bem como me sinto. Esforço-me por reter a água que quer sair dos meus olhos e pronto. Não consigo perceber que mais fazer. Tentei de tudo, empenhei-me. Agora, vejo o sonho real a ficar mais longe, a ficar mais difícil. Tento raciocinar e o meu pensamento apenas me diz que a partir de agora não vai ser mais assim. A minha atitude muda, eu mudo, não vai ser igual. Não quero que seja.
Muito já ficou para trás e é isso que agora magoa. A frustração e o ver tudo colocado em causa. Por causa de algo que não consegui concretizar. Mas porquê? Porque não consegui? Nem eu sou capaz de o dizer, isso custa. Não raciocino, firo-me.
Agora, só acho que estou desiludida.

domingo, 6 de abril de 2008

Recordações de mágoa.

Comecei com recordações e soube que viria aqui parar. Apetece-me escrever e mesmo que saia um texto enormíssimo que ninguém vai ler, facto a que já me acostumei, tenho de soltar, uma vez mais, as amarras que me prendem a garganta e me fazem ter vontade de romper tudo e gritar, na cara de quem merece, de uma vez só.
Os sentimentos de traição, imcompreensão e perda são bastante recriminatórios. Já pensaram o que é senti-los todos juntos? Deve ser algo extremamente enervante. E é, meus amigos, é sim. Digo-vos porque o sei, porque sempre que me lembro disto me dá vontade de mandar cabeçadas na parede e chapadas que já deveriam ter sido dadas.
Gostava de poder apagar memórias, recordações de pessoas que me foram muito e que neste momento não me são nada. Que chegaram a este ponto porque lé se colocaram. Gostava de poder disfarçar as cicatrizes das facadas nas costas, que levei, uma após outra. Gostava de não me importar com isto. Fiz tudo o que poderia ter feito. Gostava, essencialmente, de entender porque tudo chegou a este nada.
Lembro-me de todos os supostos melhores amigos que tive, daqueles que diziam gostar de mim e apoiar-me num sempre que pelos vistos já acabou. Todos. Podia aqui enumerá-los do primeiro ao último. Ainda assim, não vou fazê-lo. Se me apagaram, porquê dar-lhes essa importância? Há pessoas com as quais nem sempre fui correcta, mas, graças a qualquer discernimento, consegui dar a mão à palmatória e assumir que errei. Entristece-me saber que há quem sinta que errou comigo e não seja capaz de me dirigir uma palavra.
Chegou a mesquinhice, a sobreposição de uns sobre os outros, a manipulação de mentes desprotegidas que procuram algo sem saber o quê. E são esses que mais doem. Os que foram embora apenas porque alguém os puxou e obrigou, esse alguém que me esfaqueia, noite após noite. Agarra na sua faca e encosta-lha ao pescoço, àquele meu amigo, dizendo que agora é dele e pronto. Assim que o tem consigo, volta-se para mim. Sorri, com aquela cara desdenhosa e puxa-me um braço. Vira-me, ergue a faca e zás!, já nem sinto dor. Sempre, sempre a mesma face, o mesmo corpo nojento, a mesma alma imunda de necessidade de afirmação. Podia variar, podiam ser também outras facas, de outros donos, mas não, é sempre a mesma, já ensanguentada e pronta para me magoar.
Mas que se lixe a faca, que vá para a merda. O que importa, aliás, o que eu quero salientar aqui de relevante, é o facto de, seja porque motivo for, todos os que se encontravam de braço dado comigo rapidamente passam para o lado de quem me esfaqueia. E assistem, incólumes, ao meu cair de joelhos no chão. Acho que, lá no fundo, até acham graça. Não são eles quem cai!
E nem sei, nem sei bem que diga. Outros, leva-os o tempo. Não me esqueço deles. Foram importantes!... Mas não é que, em quase todos, está sempre presente aquele punho cerrado em torno do cabo da faca? Poucos são os que não estão lá, daquele lado a olhar para mim, sem compaixão ou saudades de um passado.
Mas tento, não desisti. Caída no chão, de joelhos, com o sangue a escorrer-me pelas costas e as lágrimas pela face, eu gritei. Pedi ajuda, implorei que me dessem a mão. Amigo meu que agora, sem dó nem piedade, te passaste para o inimigo, vem cá, arrepende-te, vem cá, volta atrás e ajuda-me. Por entre pingos da minha chuva, julguei ver um sorriso e algo que se esticava na minha direcção, mas eram apenas ilusões de óptica. Eu tentei, pedi ajuda, pedi que tudo voltasse. Apenas quando vi que mais nada havia a fazer, parei, deixei-me ficar ali, enrolada em mim, ganhando forças para me levantar.
Quando o avermelhado espesso deixou de correr, ergui o peito em direcção à luz. O sol mandava-me levantar, será que eu conseguia? Respirei fundo. O meu corpo foi-se mexendo e nas minhas costas formava-se mais uma crosta. Questionei-me: Que mal fiz eu? Depois de tanto pensar, cheguei a demasiadas conclusões inconclusivas. Será que tinha sido por ter gostado de mais? Ou por ter acreditado num olhar e num sorriso elucidativos? Nem sei.
Depois de relembrar uma vez mais todas as facadas de que, a pouco e pouco, me esforço por apagar a cicatriz, apenas descortino um título para todo este emaranhado que às vezes nem eu entendo. São somente recordações, recordações de mágoa.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Um sorriso e um bom dia para si.

Hoje, quando ia para a escola e estava a entrar na estação do comboio, dei conta daquela Senhora que lá está todos os dias, sempre cedo, a distribuir o jornal. Pensei em escrever sobre ela. Passa lá imenso tempo, com os jornais no braço, dobrando e esticando um de cada vez à medida que as pessoas entram na estação, apressada para poder chegar a todos e com um bom dia na boca, murmurado enquanto já dobra outro exemplar daqueles, prestes a entregá-lo.
E decidi então escrever porque, sempre que lá passo mais cedo e me deparo com ela, quando a simpática senhora, com o seu ar quase assustado de tanta rapidez com que estende jornais, me dá os seus bons dias eu faço questão de lhe sorrir e dizer bom dia. Nem preciso de parar, apenas lhe retribuo o que ela me dá. Será assim tão estranho?
Sentei-me no comboio e dei por mim a questionar-me sobre isso. Passam por ali centenas de pessoas numa manhã. Serei a única que lhe retribui? É que, quando passo, ainda que rapidamente, não vejo mais ninguém a tomar uma atitude idêntica à minha. Aliás, será que a senhora, de tão aterefada que está, repara no meu gesto? Espero que sim. Mesmo que não, faço-o com todo o gosto. Porque não começar o dia a sorrir?

quarta-feira, 19 de março de 2008

o dia do Pai.

Hoje é o Dia do Pai. Hoje olho para o meu pai e vejo o quanto gosto dele, o quanto me fará falta, todas as vezes em que deveria abraçá-lo e não o faço, sabe-se lá porquê.
Recordo todos os momentos, cada conversa, cada lágrima e cada sorriso. O meu pai!... Hoje ofereci-lhe uma caneca para as suas cervejas, fui comprá-la com a minha irmã. Foi um tempo bem passado, nós as duas debruçadas nas montras a tentar escolher algo com que nos identificássemos e de que o nosso pai gostasse. Acho que conseguimos, embora neste momento pense se não deveria antes ter-lhe dado mais um abraço e um beijinho.
Vejo no meu pai a pessoa que gostava de ser. Toda a força, todo o carinho sempre disposto a ser partilhado connosco, até para brincar às lutas de vez em quando. Nunca me faltam as palavras quando tenho de falar do meu pai, admiro-o mais do que a qualquer outra pessoa que possa ser muito conhecida e ter feito algo grandioso.
Hoje penso muito, mesmo. Penso nas situações em que o pai não está assim, como o meu. Sei como gostariam de o ter, como lhes faz falta, como, lá no fundo, não deixa de estar presente. Dói, quere-lo e não o ter por perto sem que seja na suave brisa da manhã ou no raio de sol que nos fulmina o olhar. Custa, não poder abraçá-lo fisicamente e dar também o beijinho que muitas vezes desperdiço. Não consigo imaginar qual o sentimento ao olhar para as nuvens e ver um sorriso de um pai, inteirinho para quem o quer, sem que o veja, assim, como eu, na sua frente e possa depois dar-lhe a mão.
Repensei coisas em que tenho pensado nos últimos tempos. Eu gosto imenso do meu pai, é o meu ídolo. Se perdesse o meu pai, estaria perdida até ao fim da vida.

sábado, 15 de março de 2008

Até um dia!...

Repleta de ti, repleta de mágoa.
Insatisfeita, chorosa, nervosa, feliz. Quando te vejo a virar a esquina e a dar conta da minha presença pelo canto do teu olho sincero, sei que estou aí. Soltas um sorriso malandro, querias assustar-me. Não sejas tonto!... Sorrio-te e sei que vieste de livre vontade, que me quiseste contemplar, vislumbrando todo o fundo.
A pureza está presente, é o adquirido há já algum tempo. Entrelaçamos os dedos e acaricio-te a face, a forma de como me vês é o que me traz a sensação de que ao acordar me miras, rindo e gritando bom dia, enérgico e fugaz.
Querida, risonha, segura, feliz. Nada pode ser chamativo do que és, nada sabe o que sentes. Sei-o eu, sabe-lo tu, sabemo-lo, um do outro e é tudo o que faz muita diferença. Aliás, a certeza que nunca se tem move-nos neste mar onde a ondulação cresce, morre sempre feliz, bate na areia e escreve juras, que será sempre, sempre da mesma forma, faz promessas inesquecíveis, diz que será sempre, sempre da mesma forma e sabe que, enquanto golfinhos que um dia cruzaram a vida, ficaremos sempre presentes, até um dia!...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Capaz, sou, mas não fui.

Desapontada. Apenas comigo.
Sinto-me capaz de tudo, mas será que o consigo? Lembro-me do que tenho comigo, tudo o que me dá força para seguir em frente e continuar. É bom ouvir "Tens o meu apoio incondicional!", melhor ainda é senti-lo. Oh, eu sei-me capaz!
Porque não o fui logo? Porque tive de me frustrar para o poder fazer depois? Porque é assim, precisei de crescer quanto a isto, assustar-me para entender que é mesmo o meu sonho que quero seguir e que todos os esforços para o concretizar serão recompensados.
Tenho tudo para ser feliz, basta que conduza todas as vertentes nesse mesmo objectivo. E eu, eu sou capaz.
Desapontada comigo, por todos os avisos e todas as expectativas a que não correspondi. Acreditada de capacidade, agora, confiante, capaz de querer ser capaz. Conseguirei. Eu sei tanto que sim, se não o sei!... Afinal de contas, tenho o teu apoio incondicional.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Fale-me mais do Menino de Ouro.

Pedi-lho e ela pareceu entender-me. Contudo, não me falou. Mostrou-mo, para que o descobrisse. Talvez por sua tamanha riqueza, toda uma áurea me prendia a ele: Ali estava o que qualquer ser humano sonhava alcançar. Mas ela não mo recusou, partilhou-o comigo mesmo depois de me saber encantada com o seu tesouro.
Vi-me percorrer caminhos, sempre atrás dele. Era tudo aquilo que me guiava e eu sabia ir no trilho certo. Anestesiada de qualquer dor, o desejo e o amor por ele cresciam a olhos vistos, passos gigantes. Dei por mim num cruzamento, ao fim de longas estradas sem encontrar nada. Fosse por onde fosse, era ele quem eu tinha de seguir. Foi em frente, sempre em frente, e eu fui com ele. Num momento, estacou. Olhou para mim, mostrou-me a relíquia que era ao mesmo tempo em que me estendia uma mão. Deveria eu pegá-la? Queria ela partilhá-lo comigo assim tanto? Foi impulsivo, agarrei-o com toda a força. Depois, logo saberia.
No fim da estrada, voltei a encontrá-la. Ela, que me tinha dado a partilha, o conhecimento dele, que me havia incitado a descobri-lo. Mostrei-lhe as nossas mãos entrecruzadas, ela sorriu. Seria agora que iria conhecer a sua voz? Disse-me que eu era esperta em não o ter largado, ele era de facto mais do que rico. Tentei explicar-lhe que não o tinha feito em nome da sua riqueza, mas sim respondendo a um sentimento que não conseguia esconder mais. Eu tinha amor dentro de mim por aquele rapaz de quem conhecia a silhueta e o toque da mão, firme. Ela compreendeu-me, disse que havia sido por isso que mo mostrara, para eu saber o que é amar algo rico sem ser pelo desejo de riqueza.
Percebi, o meu Menino de Ouro assim o era porque ela assim o tinha construído. Partilhou-o comigo, ainda não sei porquê... Talvez porque eu seja capaz de o amar por toda a sua simplicidade. Aí, percebi-o ainda mais. O Menino de Ouro era assim para mim, porque desde o primeiro momento eu queria que o fosse.
E agora, por todo o mundo, sei que eu e ela somos as únicas que sabemos qual o encanto que ele emana. E tudo isto, porque sem sabermos como, lhe pedi para me falar mais sobre o Menino de Ouro.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Amor

Dá-me para divagar, pensar, sentir, sobre isso e a conclusão nenhuma chegar. É estranho, mas saboroso ao mesmo tempo. Consigo digerir cada palavra intensa dita pelo meu olhar somente em teu nome. É, é o que nos move aquilo de que falo.
Gosto de falar-lhe sem lhe tocar, fazer com que paire apenas aqui, diante de mim, onde o meu olhar persegue o vazio, encontrando a sua presença num sorriso esboçado. Como te tenho, como te sinto. Como te respiro, sabes? Sei somente que me fazes sorrir, suspirar, estar assim, eu, por inteiro, feliz, minha. Eu.
Tento perceber o que és. De onde sais?, de onde?, sentimento esse que tudo faz girar? Quero explicar-te, fazer com que te entenda, mas, afinal, sei-te de cor. Sei que estás aqui, em tudo quanto contemplo. Por te ter comigo, sei-te, mais que muitos, sei-te sentir. Trazes-me muito abraçado a ti. Muito - a entrega, o querer, o ter ainda mais saudade, a vontade de trocar um olhar, receber um sorriso, sentir um abraço. Tudo - o ar que respiro, a minha concepção de vida. Tenho-te tanto!
Decoro o teu toque, este roçagar não pode acabar mais, não vou deixar. Contigo sinto. Estou viva, contigo, sim, vivo, sou. Vejo o que me dás. Trazes-me alguém contigo, a pessoa que me representa o mundo. Sinto-a comigo, dentro de mim. Debaixo daqueles olhos castanho-claros encontro-me tão protegida! Com o cabelo em que tanto mexo. A cara que tanto acaricio. O sorriso que tão me é essencial. Tudo, sabes, tudo. Aquele toque em que me sinto querida, viva, eu. Foste tu quem mo trouxe. Devo dizer que a culpa é tua? És tu, tu, tu quem fez com que tudo isto acontecesse? Com que ele palpitasse assim sempre que o vê? Admite! Admite que foste o responsável pelo meu doce cativo com aquela presença, aquela mão que me agarra! A culpa, é tua! Com que então... A culpa é tua!
Obrigada, Obrigada. Obrigada por ser tua a culpa, por me teres trazido a paz, por me teres ensinado a cumplicidade, a felicidade, a alegria contemplada nas lágrimas, o saltar fora do corpo todo um coração. Obrigada por seres o responsável, o único que me mostra o que sou, que me dá o alguém que me preenche, que me dá a vida, o oxigénio, um ser, me dá a mim. Obrigada.
A ti, que não sei definir o que és, a ti, devo tudo. Tudo o que não se sabe ser. A ti, Amor, devo toda a essência da palavra vida.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Quero.

Quero que voes,
que saias daqui de uma vez.
Vai, por aí!...
Quero que poises,
que não te levantes,
que permaneças imóvel num só pensamento.
Quero algo,
que fique memorável e inteiro,
único e lisonjeiro,
tudo o que me falta na vida.
Quero paz,
desassossego que me aconchega,
Quero dualidade,
o bom e o melhor.
Quero algo,
quero uma vida, minha.
Quero sentir-me alguém,
saber que tenho valor,
que sou Um,
que posso gostar de mim sem que me recriminem por isso.
Quero saber que sou,
apesar de todo um físico que o desacredite,
apesar de não saber se o serei.
Quero algo, quero a vida.
Quero que te vás embora, eu fico.
Quero que fiques, eu vou.
Quero algo,
Quero saber que sei,
que sinto,
que vivo,
que sou,
que também tenho direito a sentir-me diferente.
Afinal, posso querer ou não?
É que eu quero.