sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Insensibilidade

Que me custa, que não entendo, que nada me diz. Que tanto é, que muito move, que a tantos fala. Insensibilidade que raio és tu no meio desta trovoada?
Ontem decidi sair de casa disposta a amar. Presenteei com um sorriso até aquela nuvem mais longínqua que tanto me disse, num nada de palavras. Caiu uma lágrima para o sol, um toque dado no mar. O vento forte fez abrigar-me dentro da gola alta do casaco, mas o coração lá dentro ardia numa chama incessante. O comboio irritante que me trouxe, com a cabeça encostada na janela de uma forma desconfortável, amei-o. Amei-o, apenas porque só sei amar.
Hoje decidi sair de casa disposta a ver os outros a amar. Quieta, calada, observadora. Que vi rostos sem expressão, bocas afuniladas num reprimir de emoções, olhos sem cor. Que soube de palavras fúteis, de todos, no nada. Aquelas personagens que pareciam ser as principais deixaram-se levar com o vento, apenas. Não têm casaco e o gelo penetra até ao mais fundo recanto, soltando-se no expressar de uma fotografia a descoberto, seguida do rugido mais medonho que possa haver.
Tenho medo, medo das diferenças do ontem e do hoje. Medo, porque o ontem já passou e ficará sempre para trás, por mais que se queira tê-lo de volta. Mas é verdade, é real, é um saber, que toda a minha energia gasta em amar, apenas, em amar, acabou nisto, nesta trovoada constante e impenetrável. Será que valeu a pena ter-me disposto a ir assim de encontro ao mundo, despida? Porque o decidi, ser diferente.
Quis deixar-me tocar, deixar-me sentir, querer descobrir. - Foi até onde a minha vontade me levou. Sem motivação, sem nada, com querer. Foi um passado, feliz. O presente traz-me o que odeio, o que repudio. A verdade, nua e crua, aos olhos de todos e de cada um, sem que haja outra hipótese senão deixar ir o guarda-chuva com o vento. Sem opções, sem escolhas.

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