quinta-feira, 30 de abril de 2009

as coisas complicadas da vida

Deitada na sua cama, não conseguia dormir. De olhos fechados, as lágrimas caiam insistentes e o aperto no seu coração fazia eco na almofada, onde ouvia o seu batimento cardíaco dorido e descompassado. Lembrava-se de como tinha chegado até esta noite que já ia longa, mas não conseguia encontrar algo que lhe descansasse o espírito. "São as coisas complicadas da vida", pensou. Encolhida que nem um caracol, só lhe apetecia fechar-se na sua concha. As fungadelas eram persistentes, mas nem o choro quente a aquecia entre os lençóis. De nada lhe valia pensar o que fazer, no que viria a seguir, porque certamente não iria encontrar resposta. Decidiu conformar-se e ficar ali, quieta, até o sono chegar. De manhã, ao acordar, perguntou-se se afinal não teria sido tudo um sonho. Rapidamente viu que não: era a verdade, nua e crua. Agora, pé ante pé, tenta continuar a caminhar. Sem saber para onde, sem saber porquê, o trilho tem de ser seguido... Certeza? A de que esta noite não foi mais uma, foi aquela. Aquela onde tudo muda porque tudo fica igual, sem um pormenor. Mesmo que esse pormenor seja grande, que fazer agora? Nada. Nada e nada. Apenas e só nada porque "são as coisas complicadas da vida"...
Mode: Mesmo Assim - Rita Guerra

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mesmo assim

Por mais que tente para que não aconteça, consegues chegar até ao meu pensamento com uma rapidez fulminante. Tento encontrar uma explicação para este caminho que não sei onde nos leva, mas não consigo. Talvez não nos leve a lado nenhum, talvez mas quase certamente... Onde vais?
Refugio-me na música como espelho do meu coração. Muitas das vezes as palavras de alguém que nem conhecemos fazem muito sentido no contexto da nossa vida. Como as que ouço agora costumam dizer, talvez tenha mesmo de ser assim. Mesmo assim. Mas o que é ser mesmo assim, afinal?
Não quero, não vou, preocupar-me contigo. Confesso, no entanto, que não entendo porque te tornaste nesta frieza tão distante quando eras simplesmente aquele calor próximo... Lembro-me de quando partilhávamos minutos da nossa vida. Sinceramente, tenho saudades. Sabes aquela sensação de que o mundo deixava de andar, apenas, simplesmente, porque alguém queria partilhar um momento contigo? Um momento, um sorriso, um gesto, um olhar? Um lugar, uma memória, uma palavra, uma brincadeira? Porque não páras para pensar na pessoa que há dentro de ti? Porque não me explicas o que vai aí dentro? Será que não podes trazer o encanto de volta?
Não sei se o sabes, porque já não sei nada de ti... Já soube. Nada custa mais senão tudo isto, senão esta sensação que vai e vem com o tempo, contigo... Amizade, tenho a tua falta. A falta do teu querer.
Mode: Deixa-me sonhar, Rita Guerra

terça-feira, 28 de abril de 2009

Certeza

Há alturas em que pomos tudo em causa, mas hoje dei por mim a pensar e vi que, desde há uns tempos para cá, há uma coisa que nunca coloquei em questão: a paixão por aquilo que quero fazer de mim. O jornalismo tem inúmeras vertentes e nunca se faz um trabalho sem se fazer mais dois ou três. É a pureza na arte de comunicar com os outros.
Sinto-me feliz por conseguir disfrutar de o fazer. Sinto-me bem com o cansaço, com o stress, com a pressão, com a vontade de mostrar a quem assiste que estou ali para dizer qualquer coisa. Seja com letras, com imagens, com a minha voz, gosto de saber que, por muito poucas que possam ser as pessoas, está alguém do outro lado.
Lembro-me da minha vergonha de sempre, do medo em ir ter com os outros e simplesmente falar. Lembro-me de tudo aquilo por que já passei até hoje e facilmente retiro uma conclusão de tudo: ainda falta passar por tanto!... Mas quero, quero continuar, quero descobrir, quero saber que, afinal, estou num processo de conhecimento do mundo constante. Por mais complicada, diferente, secante até, que possa parecer alguma coisa, não posso dizer que não retirei nada de alguma das que fiz até hoje.
Agora, descobri uma nova vertente. Porque não contar histórias por imagens? Porque não correr com uma câmara ao ombro, porque não montar um tripé em três tempos, porque não existir preocupação com a colocação dos factos no ecrã? Sempre pensei que teria medo. Sempre pensei que ficaria melhor do outro lado. Talvez. A verdade é que, de cada vez que descubro mais um bocadinho do que é "ser jornalista", mais vontade tenho em continuar, em frente.
Acho que posso afirmar que sempre fui ambiciosa. Não sei ser doutra maneira. Sonhadora e ambiciosa. Para quê contentar-me com pouco se não lutei por mais? Não oficialmente sabedora do que é esta arte, sinto-me jornalista. Nem que seja uma amostra de. Certamente que irei tentar alcançar o patamar que ambiciono. Não sei se o consigo, mas vou dar tudo de mim por isso. Gosto tanto do que faço. De escrever, de contar coisas. Disto. Sinto-me feliz. Sinto-me uma amostra de jornalista feliz.
Isso não me chega para ter a certeza?

domingo, 26 de abril de 2009

Ode às pessoas

Vou ser do contra, vou quebrar a rotina, vou tirar daqui o costume. Vou fazer uma ode às pessoas, às que importam, às que fazem sentido. Áquelas que estão sempre no quebrar da rotina, nos momentos espontâneos, nas horas que marcam. Lembro-me de não saber quem eram, de onde vinham. Conhecia-lhes o sorriso e pouco mais. Umas palavras tímidas, uns momentos comuns, nada de especial. Até ao dia!...
Até ao dia em que deixaram aquele sorriso.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

GRITEI

Não sou nenhuma coitada e devia dar-me por feliz com a vida que levo, mas não consigo. Aqueles dias em que acordo e me sei perdida do mundo são constantes e não sei que mais possa fazer para trazer a paz de volta. Procuro-me entre lugares onde acho poder encontrar harmonia, ver uma aura que dá conta de que afinal vale a pena. Mas, parece que não existe. Esse lugar onde eu poderia achar que alguma coisa faz sentido, é mais uma miragem por entre mil e um pormenores da vida.
Tento concentrar-me apenas naquilo que quero, no que acho que preciso. Parece que tudo corre de feição, mas acaba por faltar sempre aquele detalhe essencial, o mais importante de todos. Às vezes um olá pode significar muita coisa, às vezes um adeus pode significar uma vida. Agora, não quero um olá nem um adeus. Preciso somente de um "Força!". Por mais que queira manter o equilíbrio dentro de mim não consigo saber que caminho seguir. Não é mais fácil desistir de tudo e ser uma qualquer?
A inutilidade vem ao de cima quando dou por mim a pensar como devo agir. A confiança naquilo que sou nunca foi o meu forte, mas daí a contestá-la em virtude do mundo... Há mil e uma situações onde está o meu cunho, o meu nome, mas acima de tudo está o meu sentimento. Mesmo que seja um pequeno gesto, a palavra mais estúpida, há sempre algo de nós em cada coisa. Infelizmente apercebo-me de que nem toda a gente tem consciência disso... A vida é rotineira de mais, e a rotina que vamos construindo dia após dia faz com que nos transformemos em virtude disso. Não sei se quero deixar de ser o que sempre fui em virtude da minha rotina. Aliás, não quero. As pessoas continuam a ser importantes, os gestos continuam a ter destaque, as palavras continuam a marcar-me...
Pergunto-me se serei assim uma criança tão iludida ao ponto de não querer erguer uma vida de insensibilidade. Assumo que as pessoas estão cada vez mais dispersas umas das outras mas não consigo compreender de que forma é que o olhar para o próprio umbigo e até as responsabilidades que a vida acarreta são capazes de mudar tudo. Aliás, serei assim tão criancinha por acreditar que consigo crescer e gostar à mesma dos outros? Não sei se, afinal, quando julgo estar a crescer estou a mingar e a transformar-me num anão inútil que toda a gente pisa porque anda apressada.
O nó na garganta é agora o grito da minha revolta. Cansei-me de sentir o aperto no coração e a mágoa nas lágrimas sem que ninguém dê conta daquilo que faz. Hoje sei-me alguém diferente, mais ainda, por conseguir sentir desilusão para com o mundo, por querer mais do que o que os outros estão dispostos a dar. Alguém que me conheça, conhecendo mais do que muitos, sabe o quanto sinto as coisas. Cansei-me de que me chamem piegas só porque sim, cansei-me de que metam sentimentos dentro quando eles não existem.
Mas será assim tão complicado alguém perceber que, ao contrário do cúmulo dos mortais, eu gosto dos outros pela pequenês dos seus gestos?
Fartei da mágoa, fartei da dor. Fartei de ser vista como o palhaço a quem todos apontam o dedo e todos riem. Ainda que poucos sejam os que vêm mais do que essa estúpida insignificância em mim, esses servem... Só lamento o facto de que, aqueles onde vejo algo, por mais honesto e subtil que possa ser, façam de mim a fotografia para onde mandam setas, daquelas que espetam e custam a sair depois. É que mesmo não acertando no alvo, andam lá perto. Até que um dia, com a prática, acertam mesmo em cheio!...
Eu, pura estúpida criança revoltada da vida, continuo aqui quieta, impávida, absorta. Somente com vontade de chegar ao meio da rua e gritar. Gritar até perder a voz, fazer com que alguém oiça verdadeiramente aquilo que digo. Mas não o ouvir com os ouvidos, sim o ouvir com o coração. Não sou perfeita, não quero sê-lo.
Será que custa assim tanto largar tudo, despir as roupas do mundo, fechar os olhos, ouvir o silêncio e pensar o quão más pessoas somos no dia a dia?
Ah, custa sim. Afinal de contas, não há tempo!...
Sinceramente, estou magoada de mais. Não consigo tomar uma atitude senão continuar apenas aos tropeções... Bate forte e não passa depressa. Mas vai passando, até bater outra vez.
Agora gritei. Gritei apenas na ponta dos meus dedos. Não vou corrigir o que seja do que aqui está escrito. Foi a minha espontaniedade a falar mais alto, a minha raiva. Isso vale muito mais.
A mágoa ganhou voz... mas não saiu de cá.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Medo.

Queria expressar com toda a plenitude a forma de como sente isto. É aquele frio que nunca sai e a dor de barriga intensa. É somente o que mais a preenche e assusta. Seja em que momento for, está sempre presente. Seja em que altura for, não deixa de aterrar no seu coração.
A maneira de como é constrói-se ao longo daquilo a que chama vida e também esta coisa má se altera com o tempo... Consigo, este sentimento sempre se adequou mais às pessoas. Quando há um gesto partilhado, um olhar cúmplice, a palavra dita, há-o sempre: o Medo. Rei e senhor de si só, penetra naquilo que ela própria é de uma forma avassaladora e que a faz sucumbir com o vento. Mal respira, porque o Medo não a deixa fazê-lo. A entrega que tem com os outros é de tal forma total que o Medo fica, desde o primeiro momento, ameaçador em todas as situações. Ela não sabe porquê: será de si, dos outros, do Medo? Sozinha, tenta fazer com que o Medo se vá embora, mas não consigue.
Ao existir a partilha para consigo, nela permanece o Medo. O Medo de perder essa partilha, o Medo da mentira, o Medo da substituição, o Medo do cansaço, o Medo constante de mais uma facada nas costas... Será que não devia ela ter Medo do próprio Medo? Dá por si com Medo de se perder entre ilusões, entre imagens que cria nos outros mas que afinal nada são.
Hoje tem mais Medo do que nunca. Perdida do mundo, não sabe para onde correr. Se houvesse uma porta aberta para si... Se houvesse aquela partilha que já houve e lhe trouxe segurança... Já nem pede tanto: ao menos que lhe deiam uma janela. Mas não, parece que não encontra aquele seu porto de abrigo onde apenas um olhar lhe valia de muito. Sabe que já o teve, mas esse seu Medo, essa sua entrega total, não terá estragado isso? Sente-se inútil, sem encontrar uma explicação para o que quer que seja, apenas com o Medo a tomar conta de si a cada lágrima corrida... Sozinha, apenas quieta e a olhar para o infinito, o seu pensamento vagueia... Vagueia sem rumo porque se concentra numa só ideia: o Medo. E no final de tudo, desse seu passeio dentro de si, não consegue mais uma vez explicar por que o sente. Talvez nunca o conseguirá. Mas que esse sentimento é cada vez mais desolador. O Medo de perder todo o seu mundo de sentimentos, de pessoas, de afinidades, é o que a faz ter cada vez mais Medo do Medo. Porque se perde de vez aquilo que tem Medo de perder, tem Medo de não o conseguir suportar.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

o Entrave.

Dei conta que o mundo não chega até mim. Por entre palavras e gestos, expressões fundamentais, não absorvo nada. Há a certeza de que tudo fica presente, mas afinal é cada vez mais efémero. A verdade acaba por não ser real e a mão estendida que achavas estar sempre lá vai embora, sem explicação.
Tenho o peito aberto para receber e emanar tudo de mim. Dou sempre, por vezes demais, mas nada entra aqui, porque ninguém o dá. Ainda que não desesperadamente, quero receber. Faz falta ter uma apreensão daquilo que o mundo é.
Talvez receba um pouco, mas não é o que quero ter. Não será o mundo cinzento demais? Tenho a esperança de receber tal como dou, mas isso parece absurdo. O querer um abraço de volta já não existe, é preciso suplicar por um.
Será assim tão normal não encontrar compreensão? Serei eu a parte errada? Não consigo ter a certeza mas cada vez me parece mais que sim. As pessoas perderam a cor no lugar certo e são agora uma palete de pretos e cinzentos.
O mundo não chega até mim porque não se dá como me dou. Se um dia me deixar levar pelo mundo talvez não me sinta perdida. Há um entrave: gosto de ser diferente. Ainda que não consiga receber nada, é mais gratificante continuar assim: é preciso desesperar para conseguir. Gosto de coisas difíceis.
Mesmo que o mundo não chegue até mim, eu vou chegar ao mundo. Se assim não fosse, como poderia gostar de pessoas?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

desisti.

Uma estrada comprida sem que lhe veja o fim. O meu vestido vermelho que arroja pelo chão e que teimo em segurar. O cabelo comprido e esvoaçante, arrastado para trás com a brisa. Um arrepio de frio. O que procuro afinal? Decidi não me importar mais. Ir por aí sem defesas, genuinamente. Não certa de que será a melhor escolha, mas claramente convicta.
Da última vez que vesti o meu vestido, estava à tua espera. Descobria-te lá ao longe, por entre um nevoeiro cerrado, e fazia de ti o meu menino de bronze. Eras a miragem no centro do meu jardim, o sussurrar que eu gostava de ouvir. As fadas pulavam no ar junto a ti, denunciando-te. Na tua aura encantante tudo parecia verdade.
Com uma flor pousada na minha orelha, vai ser diferente. De um momento para o outro as fadas perderam a cor e nunca mais te vi. Por mais que tenha tentado procurar-te desde então, nunca mais consegui encontrar-te. Não sei quem te levou para longe, mas cada vez tenho mais a certeza de que não vais voltar. Porquê? Não sei... Mais fácil seria se o soubesse, para largar de novo o meu vestido de encontro ao chão e caminhar apenas, sem pressas.
Lembro-me da canção que entoavas, sempre calmo e perto do meu coração. Traz-me boas recordações, momentos felizes e diferentes, mas que se perderam porque decidiste ir embora. Talvez compreenda o que te levou a partir. Talvez, porque tenho a certeza de que há coisas mais importantes que essas razões... Talvez também serei eu demasiado sonhadora para pensar que há algo mais importante. Mas há, não há?... Se um dia me responderes que não, que aquilo que te fez ir embora foi o mais importante, então, aquele que pensava ser o meu menino de bronze não passou afinal de mais um ser ilusório igual a tantos outros... Mas não poderias voltar por um bocadinho e cantar aquela música? Querer-me fazer acreditar de que estou errada?
Largo o meu vestido contra o chão. Não há-de ser impedimento para eu não andar. Quanto muito faz-me ir mais devagar... Mas vou. Larguei o meu sonho e continuo por aí. Sem saber se será a escolha certa, mas claramente convicta. Desisti.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

wrong way

Cada vez tenho mais a certeza: devo ser um ser anormal dentro do mundo. Aliás, será que alguém me ensina então como é o mundo, como tudo funciona? Alguém me diz o que é isto que está dentro de mim?
Gostava de perceber o que são estas coisas que mexem aqui. Parece que mais ninguém as reconhece, que mais ninguém sofre deste problema. Grave, até, porque não encontro cura para isto. Já estou cansada de levar os dias atrás um dos outros numa mistura de lágrimas, sorrisos, ilusões, desilusões... Será que há alguém para quem estas palavras tenham o mesmo significado que têm para mim?
Queria descobrir a fórmula para ser como os outros. Para estar sempre tudo bem, sem dificuldades para ninguém, estar tudo, digamos, normal. Mas... Ainda que eu seja uma estranheza no mundo, não é suposto levar a vida com encanto? Com pessoas? Com momentos? Com sensações? Afinal fui eu a única pessoa que aprendi uma coisa que é sentir?
Já não sei nada. A cada minuto menos sei. Mas cheguei à conclusão de que, quando vim, trouxe o livro de instruções errado.