sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

voltar à praia

Olho para fotografias de outros dias e vejo que tomámos caminhos diferentes. Enquanto tudo parecia ser capaz de nos aproximar, agora o areal está mais extenso e é mais difícil chegar ao mar. Descubro tudo aquilo de que queria abdicar e digno-me a vivê-lo com agitação incessante. São rumos que se constróem com o passar dos minutos e que, quando somados, acabam por fazer diferença. Estou apenas a levar outro caminho que não aquele que pensei tomar, porque não fazes parte dele. Saí num apeadeiro por aí e explorei-o até ao mais ínfimo pormenor e é isso que agora faço. Recordações são o que te traz até aqui, nessa tua constante calma e lucidez exasperante que nunca consegui ter.
É como o temporal anunciado que teima em não aparecer e chega o momento em que duvidamos da sua existência. Aquela altura em que o mar já não engole a areia, apenas se afasta para que ela tenha espaço para respirar. Rotas distantes em que não somos o mar que vai e vem sobre a areia, mas antes o mar e a areia. Mesmo quando tudo se assusta com a vinda do temporal, ele decide não vir porque descobriu um outro caminho. Foi, apenas, por outro lado. Deixou de querer abater-se sobre nós e passou a querer ir num outro trilho. Afinal, talvez ele nunca tenha querido vir para cá. Agora, enquanto vai para outro lado que não este, assola tudo por onde passa. Os danos que não causou aqui causa noutro lugar, vive os momentos. A areia já não é um com o mar.
São como as fotografias. Fotografias que antes vi caminharem juntas no mesmo sentido mas que agora vão em direcções diferentes. Não opostas, mas diferentes. Quem sabe, talvez um dia voltem a encontrar-se mais à frente. Pode ser que em vez de mudar de rumo, tenhamos apenas tomado um atalho. Agora a areia é areia e o mar é o mar, pode ser que um dia voltem a ser a praia.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

frio de angústia

Tenho demasiada angústia para que possa exprimi-la. É extravassador o quanto invade sonhos, transportando mil e um quereres que custam em ser reais. Depois há as mil e uma voltas por entre lençois que apenas trazem momentos inquietantes até na hora de descanso. Não sei que mais tentar nem o que mais preciso dar. Não vejo inconstância, mas talvez tenha existido. Não sei. Chegou o tempo em que apenas não há mais tempo, porque a angústia toma conta de todo o tempo que possamos ter. É assim que, de malas prontas, me destrói o facto de saber que tenho de ir embora sem sequer ter conseguido dormir direito. Espero encarar a viagem como uma jornada em branco, um momento de que pretendo desfrutar ao máximo, tendo até a capacidade de rebentar a escala. Preciso, porém, de esquecer a angústia enorme que nem consigo desabafar sobre. Até sou das pessoas que gostam de falar, mas agora não existem palavras que possam espelhar tudo aquilo que quero dizer. Por isso chegam os pesadelos, por isso chegam as noites em que o sono não é o bastante para me fazer dormir que nem uma pedra. Mesmo quando me perco dentro da minha estufa que transborda calor, sinto frio. Tenho frio, muito frio. Esta angústia sobre a qual nem consigo escrever, não me deixa o coração a transbordar de raiva e a fervilhar de calor. Deixa-me antes como que nua e despida, com um coração partido e totalmente gelado. Talvez seja por isso que, depois de ter já as malas arrumadas, me pergunte se, mesmo com tanto agasalho, não irei eu ter ainda mais frio.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

luta

Existem coisas pelas quais lutamos continuamente ainda que não saibamos o que nos move. Perguntamo-nos vezes sem conta porque é que continuamos a insistir, mas nunca encontramos resposta. Pode até parecer algum tipo de masoquismo, tanta tentativa por um simples momento bem sucedido, mas não há forma de desistir, por muito que essa ideia nos passe pela cabeça.
Eis que damos por nós, sem qualquer jeito ou habilidade, mas com uma vontade de vencer incrível. Não, não é por ser um desafio que há esse encorajamento, porque, mesmo que pudesse ser um desafio, também a sensatez está presente para nos avisar quando chega o momento em que não é preciso continuar a tentar. Não é, de todo, um desafio. É apenas a vontade, a vontade de querer dar mais e mais, a impulsividade para que nos empenhemos ainda mais um bocadinho e com isso consigamos chegar mais além. Mas sim, o caminho é difícil e perpetuoso.
Sem jeito, sem saber como, seguimos em frente porque lutamos, lutamos sem saber o porquê da luta - não conseguimos vê-lo. Mesmo que mil e um aspectos à nossa volta nos mandem para baixo, mesmo que tropecemos vezes sem conta em pedrinhas pelo caminho, continuamos. Podem haver lágrimas perdidas, pouco importa, o que interessa é que a vontade em continuar se mantém, mesmo que a audiência nos olhe de lado e se ria por continuarmos a insistir. Mesmo que alguém ache que não temos fibra e não nos esforçamos o suficiente, apenas nós sabemos o quanto estamos a dar, apenas nós sabemos a força que colocamos em cada murro até ao fim da luta.
Há sempre um momento em que nos perguntamos: se ninguém, se não eu, acredita que posso conseguir ganhar, então, valerá a pena continuar a colocar força nos meus braços ou devo apenas deixar-me cair no chão para que os outros vençam? Vale sempre a pena, é essa a resposta. Sempre que nos perguntamos se vale a pena, acabamos por concluir que sim, que vale sempre a pena. Afinal, ainda que não se consiga definir o que nos move em determinadas batalhas, a resposta acaba por aparecer mais clara do que qualquer outra. Aparece, um dia, na nossa mente e aí sabemos que vale a pena. Essas coisas pelas quais lutamos continuamente sem nunca desistir, são movidas pelo amor. O prémio que recebemos por ter ganho a luta, é o exacerbar de que o amor pelo nosso objectivo nos fez ganhar. Eu quero ganhar esta luta, porque tenho amor por ela. Portanto, contra tudo e todos, vou continuar a lutar para que um dia, depois de muitas batalhas, também eu possa sair vencedora.