domingo, 13 de setembro de 2009

Bloco de notas.

Há a vontade de mudar o mundo, fazer as pessoas acreditar. É raro alguém dar tudo de si sem reservas, somente com o prazer de fazer. Confiança é algo difícil de encontrar hoje em dia. Valerá a pena procurar?
Há que fazer das pessoas um bloco de notas e escrever em todas elas um bocadinho de nós. Há algumas em que a caneta não escreve bem e esforça-mo-nos por conseguir deixar a marca que queremos. Noutras a tinta não entra e não há nada a fazer, é tempo perdido tentar escrever. Poucas, são aquelas onde a caneta flui com naturalidade e que absorvem a marca. Difíceis de encontrar, tão encantantes de escrever.
Aos poucos o nosso bloco de notas já nos chama para que lhe levemos notícias. Sabe tão bem mais assim!... Damos por nós e já nos escrevem também, em pedaços importantes de personalidade. Afinal, conseguimos rever-nos naquela simples pessoa personificada numas folhas de papel.
Por mais raras que sejam, ainda as há. Aquelas em que tens orgulho e te reconheces, as que, em que momento seja, te são fiéis. Por mais complicado que pareça ser possível dar voz à palavra confiança, consegue-se sempre, basta procurar o melhor tipo de papel.
Devo ser uma excepção, mas acredito nas pessoas. Umas sem as outras, o que podemos ser afinal? Não neguemos: há sempre alguém que se parece connosco. Quando isso pode ser uma constante feliz, é bem mais proveitoso viver a vida. Há vontade de mudar o mundo, mas poucos se esforçam por fazê-lo... Há que quere-lo e a cada dia correr em busca do melhor bloco de notas que possa haver. Eu já encontrei o meu. Façam-no, saiam por aí... Quem sabe se não estará na papelaria ao virar da esquina?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

eu, com o nada.

O meu castelo acabou de ruir. Veio uma onda tão grande que o destruiu com um só ataque. Já há alguns dias que o vento o ameaçava, fazendo com que alguns grãos se soltassem e o tornassem mais frágil, mas  sempre se havia conseguido manter imóvel... Agora não, tombou mesmo de vez, tal foi a força do mar. A sua bandeira hasteada na torre mais alta, não passa agora de um pau enviesado num monte de areia disforme, igual a tantos outros. Mas porquê? Estava tão firme, tão sólido, construído de uma forma tão natural e verdadeira, que parecia bom de mais para ser verdade. E era. Será que não passou de uma ilusão? Será que afinal nunca tive um castelo onde vi o meu porto de abrigo?...
Pensei que sim. Tenho-o visto construído aqui, à minha frente. Tenho-o tido, de sorriso nos lábios, com o vento a fazer esvoaçar o meu cabelo e o barulho do mar a torná-lo real. Mas foi embora, como por magia. Bastou um segundo e desapareceu. O encanto à volta do castelo quebrou-se, como tudo o resto. Agora resto eu, com o nada. Nunca pensei ganhar-lhe tanto apego. Sinto falta do meu castelo. Uma construção à minha frente, que me fazia viver a cada dia. Desapareceu. Não sei se tenho força para voltar a construir outro.
O meu castelo acabou de ruir e eu com ele me deixei levar pela onda. Sem rumo, sem força, sem convicção. Por aí, perdida de tudo.

domingo, 6 de setembro de 2009

medo e cíume

É corrosivo, horrível e mau. É o sentir algo tão destrutivo. É a mágoa da insegurança que se personifica quando se olha para banalidades, banalidades que num momento parecem tudo significar. O corroer do interior debaixo de algo que não se quer sentir. É o que se odeia, é o cíume. É o que se teme, é o medo.
É o medo que ganha expressão, quando sentido como algo que não queremos perder. É o temer que haja um assalto àquilo que se é e que se leve embora o que mais se quer que fique. Assim, quando se vê algo aproximar, corrói por dentro, como uma ferida que está cada vez mais difícil de sarar... Um arranhão que vai esfolando continuamente, cuja dor somente acalma quando o medo se esconde por momentos.
O cíume é o medo. Saudável quando contido, mas sempre aterrador. Algo que assolapa cada respirar fundo, com o medo do esquecimento e do abandono. Só quando vem aquele algodão embebido num desinfectante carinhoso é que a dor acalma... Absorve a plenitude por momentos, para depois, pouco depois, voltar a lembrar a corrosão.
O medo é o cíume. Quando se tem medo é porque algo é verdadeiramente importante. Quando se tem cíume é porque algo é tão importante ao ponto de ser verdadeiro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

o meu Livro

Decidi deixar de ler livros e escrever o meu pela minha própria mão. Olho à minha volta, reprimo uma lágrima, pergunto-me sobre onde estou. Agora sinto o bater do meu coração em todas as partes do meu corpo e a minha respiração sai ofegante por cada poro: tenho de viver a vida ao máximo. Os momentos são efémeros demais para que se possa pensar neles, é preciso vivê-los com a toda a sua intensidade. O mundo pode acabar amanhã, as coisas podem deixar de fazer sentido daqui a pouco, é preciso dar sentido ao agora.
É mau pensar no futuro, é mau pensar no presente. É ainda pior pensar no passado quando o presente é o que somos agora e o futuro é o que queremos ser. Questões e mais questões, onde será que posso ter errado? Estará tudo a bater certo? Não, não quero demorar mais tempo perdida com a minha razão. É preciso cometer loucuras, é preciso agarrar nas coisas e ir, porque sim, porque quero, porque tudo me leva até lá. É preciso definir o destino e ir ao encontro dele, correndo riscos em busca da felicidade perdida lá longe.
É esta a minha história, é este o meu conto sem rumo e cheio de indefinições. Para cada dia existe uma página em branco, que preencho a cada minuto. A de ontem está feita, a de hoje vou construindo e a de amanhã está totalmente em branco. Não faço previsões, não mexo no que já passou. Limito-me a escrever com a naturalidade da brisa que corre lá fora e me leva para onde quer que seja.