quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

dizer vs não dizer

Seria tão mais fácil se eu conseguisse explicá-lo. Seria tão mais fácil se eu pudesse encontrar as palavras certas para definir este aperto sempre que vejo a tua imagem. Seria tão mais fácil se eu te dissesse tudo, com as letras todas, mas não sei que letras são essas. Seria tão mais fácil... seria?

Talvez não. Talvez colocá-lo em palavras banais lhe retirasse toda a sua autenticidade, mas a tua falta é tanta que se não o disser parece que a sinto ainda maior. Por isso acho que seria mais fácil se o explicasse, ainda que ao mesmo tempo acredite que perderia sentido. Não sei estar sem ti, chega dizer isso?

Não sou capaz de colocar em palavras que conheça aquilo que sinto dentro de mim quando sei que estás longe. Não consigo reprimir um aperto que dói, que custa a passar, mas também não encontro uma explicação lógica para a sua existência. Não tenho capacidades para explicar o que quer que seja, pois é tão puro que a sua inocência não mo permite expressar.

Sim, talvez fosse mais fácil se eu conseguisse explicá-lo, com letras, com palavras. Mas será mesmo necessário? Talvez não. Talvez o meu sorriso ao ver-te numa imagem seja suficiente. Talvez as minhas lágrimas que caem enquanto olho para essa mesma imagem sejam suficientes. Talvez o meu nó na garganta seja suficiente. Talvez o meu coração aos pulos seja suficiente. Talvez, talvez todos os sinais físicos provenientes do que sinto sejam suficientes.

Então não importa, não importa que seja mais fácil se o conseguisse explicar. Para quê? Sem o explicar, sem a facilidade de colocar tudo em palavras, sei que o sinto... e senti-lo, e sentir-te, vale muito mais a pena. Afinal de contas, não estás aqui agora e eu sinto muito a tua falta. Sinto muito a tua falta, de ti e do teu abraço. Que, tal como eu, sem palavras, diz tudo, sem nada dizer.

sábado, 25 de dezembro de 2010

um pequeno peluche

Se um pequeno peluche pudesse falar, encontraria a forma mais infantil e simples de partilhar contigo todas as palavras que partilho com ele. Dir-te-ia tudo, até mesmo aquilo que não lhe sei dizer. Companheiro de horas de sono e de todas as horas do dia, só ele sabe o que ainda me seduz. Só ele sente aquilo que sei sentir, porque agora só ele me parece conhecer com todas as letrinhas pelas quais sou escrita.

Na sua camisola laranja, que já vai ficando larga de andar sempre com ele na mão, o pequeno peluche enche o peito de ar e respira com força. Está cheio de amor, enchendo sempre mais e mais a cada minuto que passa. Mesmo que possa andar dentro do meu bolso, só ele me acompanha nas pequenas coisas rotineiras de um dia comum, perdido entre tantos outros.

Pois é, se o agora meu pequeno peluche pudesse falar, dir-te-ia aquilo que eu já não consigo exprimir. Ele é como tu, importante e indispensável. Com ele sei ter-te mais perto quando sei estares mais longe... e não consigo afastá-lo muito tempo de mim. Um simples boneco pode tornar-se no objecto mais importante que temos connosco. Basta sonhar, basta querer e basta sentir.

Assim, se todos tivessem um pequeno peluche como eu tenho, poderiam partilhar com ele até o impossível. É que, sem falar, encontramos um grande amigo que podemos abraçar, a qualquer hora, a qualquer momento e sentir-nos reconfortados com isso. A imaginação leva-nos onde queremos e o amor move-nos até qualquer lugar. Aliando tudo isso num pequeno peluche, posso sentir-me querida mesmo sabendo que hoje não estás aqui.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

falamos?

Sabes aquela vontade incessante de falar, mesmo que nada haja para dizer? É isso, é mais ou menos isso. É como um furacão dentro da minha cabeça, que quer sair e ir ao teu encontro para te fazer sentir num reboliço, sabendo que te encontro algures e que, finalmente, estou contigo.

Os dias passam mas demoram a passar, as ocupações parecem não existir quando afinal há muito para fazer. Não consigo largar o meu pijama e não me apetece sair à rua, já sei que não te vou ver lá. Não quero conduzir porque não sei que caminho tomaria. Não quero sequer tomar o ar de lá de fora com medo que esteja frio demais, pois sei que não vais estar por perto para me aquecer.

É assim que me apetece falar, dizer e conversar, mesmo sem um assunto concreto para o fazer. Falando contigo sentir-te-ia mais perto e talvez isso me aconchegasse a alma. O meu coração está longe de mim, porque o enviei contigo. Os vestígios dele que restaram em mim dão-me conta de uma saudade que mói, que dói e que corrói.

Nunca pensei que custasse tanto... mas também nunca pensei que iria gostar de ti desta maneira. Há que aguentar os dias que parecem ter o dobro do tempo. Há que ter esperança, ter imaginação, e visualizar, na minha mente, a imagem feliz da minha pessoa a correr de encontro a ti. Depois, num abraço, não te falaria sequer, para me poder reencontrar.

(Imortais - Mafalda Veiga)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Abraça-me bem

Conseguiria descrever cada traço do teu rosto, se mo pedissem. Seria capaz de pintar o teu sorriso com lápis de cor, se mo pedissem. Repetiria o timbre da tua voz, se mo pedissem. Montar-te-ia na minha imaginação como o ser magnífico que és, tal como faço sozinha a cada minuto que passa.

Deixei de ter medo de mim mesma, para passar a reencontrar-me com aquela faceta que andava perdida, sem encontrar rumo por entre os caminhos da vida.

Deixei-me naufragar em ti para passar a conhecer-te. Hoje, não quero largar-te mais. Abraças-me bem?

(Abraça-me bem - Mafalda Veiga)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

uma ilha

Está mais frio aqui do que lá fora, onde o sol reluz entre o fresco que ainda deixa secar a roupa. A música toca enquanto escrevo, num momento em que apenas me apetece um chocolate quente para me aquecer as mãos e a alma. Não sei o que me deu, mas sei que te deste e que estou feliz assim.

Cada som que antes me parecia vulgar, agora transmite uma mensagem que compreendo e assimilo com o passar das horas. Parece que sempre te tive, embora tenhas andado longe por muito tempo. Já se dizia: quem espera sempre alcança, enquanto me obrigo a beber golos e golos de água gélida mas ao mesmo tempo essencial, como tu.

Sou de viagens constantes, nem que sejam dentro dos meus sonhos mais profundos e inconfessáveis. Sou de sonhos, sabes disso. Sou de ti, que me és um sonho diferente e inesquecível a cada momento. Sou de ondas, que vêm inesperadamente e rebentam, revoltando a areia onde caem, não deixando nada inteiro à sua passagem.

"Já nem me embala o balanço do vento, e o balanço do vento eu deixei
Junto à gaveta onde as ondas dispersam as coisas que eu nunca juntei"

(Uma Ilha - Deolinda)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

mas sei que vais reparar

Bastou que sorrisses para que eu o soubesse. Ainda que o negasse, já te tinhas entranhado no mais profundo de mim onde nem eu consigo chegar. Depois, nada a fazer se não suportar a longa estranheza de algo tão puro e inesperado.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

forte

Hoje dei-me conta do quanto sou forte e de como isso está personificado em tudo o que é meu e que me envolve. Percebi que a minha capacidade de ser determinada e decidida face a todos os desafios que se me apresentam, se reflecte na coisa mais insignificante que possa existir.

Como o pontapé que dei numas tábuas, mas que apenas me deixou uma nódoa negra e não magoou mais. Ou como o telemóvel que cai dentro de água, saindo de lá a pingar, mas que volta a funcionar algum tempo depois. Até mesmo um ovo, que me dão para tomar conta e que, encontrão após encontrão, ainda se mantém intacto. Hoje percebi que sou forte!

Sou forte porque deixo que os meus ideais me guiem, que me definam e que me façam. Sou forte porque me mantenho a caminho, faça chuva ou faça sol. Sou forte porque ninguém me obriga a ser fraca. Sou forte, porque sou eu. Apenas não tinha dado conta. Hoje, sei o quanto sou forte.

(Então, se sou forte, porque é que não consigo dizer que gosto de ti?)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

gosto, sonhar

Eu gosto de sonhar. Gosto de acreditar que um dia vou andar por aí, sem rumo, e vou encontrar aquele sorriso que procuro ao virar da esquina. Eu gosto de desfrutar. Gosto de passar horas a fio na cama, desfrutando dos lençóis quentes enquanto a chuva cai lá fora. Eu gosto de viver. Gosto de correr pelas aldeolas que nem uma criança perdida descobrindo algo novo em cada ruela.

Agora quero cantar, quero voar e rir, rir de mim mesma, rir sem remédio e sem conseguir parar. Quero sentir, quero fazer com que se soltem as borboletas do meu estomâgo que teimo em reprimir. Quero olhar, quero dar a mão, quero correr. Agora quero saber que estou viva e faço tudo o que me apetece fazer. Quero sair à rua e gritar que estou aqui para que qualquer um oiça e volte a ouvir.

Vou, sem me importar com o que tenho vestido. Vou, porque quero descobrir, quero saber o que está ali, por detrás daquilo que não vejo e não conheço. Vou porque faz parte de mim, porque vivo e sou, porque sinto e respiro.Vou e acredito que vens comigo e me acompanhas nesta aventura, sem rumo e apenas com um objectivo: sonhar.

Eu gosto de sonhar, de desfrutar e de viver. Eu gosto de sentir. Gosto de voar sem sair do mesmo sítio. Gosto de imaginar. Gosto de acreditar que a vida é o que faço dela e que em cada sorriso existe um sentimento sincero. Gosto de ver para além do que veêm os meus olhos. Gosto de me expressar. Gosto de escrever. Gosto de cantar. Gosto de sonhar, de desfrutar e de viver. Gosto de correr.

Vem daí!, dá-me a mão e anda! Vamos correr sobre esta calçada escorregadia até chegarmos lá ao fundo e desatarmos a rir que nem perdidos. Vamos caminhar e ver, vamos descobrir e comentar. Anda, vamos sonhar! Vamos viver o que ainda não vivemos, vamos acreditar que o nosso desejo mais profundo pode ser tornado realidade, vem daí!

Gosto de sonhar, de desfrutar e de viver. Gosto de sentir. Gosto de ti. Então, vamos? Anda comigo, é que hoje sinto-me capaz de tudo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

um problema de expressão

Para ser diferente, hoje vou 'cantar' convosco. Pode ser? É que muitas vezes o problema é mesmo este, não saber como dizer o que nos vai na alma ou no coração... e estou assim hoje, estou assim de vez em quando. Ainda que as palavras escritas me levem muitas vezes numa incursão ao céu dentro de um sonho profundo, desta vez decidi levar a minha voz desafinada comigo enquanto entoo esta melodia... Vamos?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

o balão

Sinto-me tão cheia... tão cheia, mas ao mesmo tempo tão vazia. A felicidade emana em cada poro, em cada ferida conseguida numa brincadeira inofensiva, em cada momento que me recorda um sorriso diferente. Assim o é, assim o gosto, mas ainda assim, não é.

Porque sei ser-me, correndo pelo mundo em busca. À procura da hora, do lugar e do movimento para ser tudo, tudo o que me apeteça ser. E sou-o, sendo somente. Respirando, falando, gritando, chorando, sentindo... Sou. Tudo me enche como um balão, no qual se sopra. Vemô-lo crescer, ficando cheio, sempre a aumentar de tamanho.

Só que o balão enfraquece. Chega a um ponto em que vai esvaziando, sem avisar ninguém. Depois de encher constamente de felicidades nas mais pequenas coisas, o balão cheio desaparece. E é nesse momento em que o teu pensamento mais triste te invade o espírito, em que lembras o pensamento que te traz um momento em que não te soubeste ser, que ficas vazio. Tão cheio, mas tão vazio.

Existem mágoas, dores tão profundas que nunca irão deixar de marcar a tua existência. Memórias inultrapassáveis que te trespassam o coração como uma flecha afiada, sem dó nem piedade. Isso esvazia, isso tira o recheio ao que estava cheio. Assim, o cheio fica cheio e vazio ao mesmo tempo.

Ainda que esteja cheio de sopros fortes e constantes, há sempre a agulha para fazer um furinho e deixar escoar o ar que se encontra dentro do balão. Resta vê-lo voar sem rumo, numa altura efémera e sem aviso. Depois, é preciso encher novamente o peito de ar e ganhar forças para voltar a soprar num novo balão.

Porque se me sou e  se me quero sentir sempre tão cheia, mas tão cheia... tenho de o saber ser. Sou-me, em cada momento, em cada insignificância... Há que estar sempre a soprar pra dentro do balão, só assim ficarei cheia... ainda que vazia ao mesmo tempo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

indiferença

É tão dolorosa a tua indiferença... nem sequer consigo ficar triste. Fico apenas quieta e impávida, a sofrê-la de uma forma tão profunda que é impossível de ser falada sequer. Não entendo. Vejo duas almas que se encontram noutro mundo que não este, porque respiram a mesma essência. Mas hoje, ontem e amanhã, nunca se afeiçoarão como eu gostaria que o fizessem.

Continuo sem reacção, embora tudo fervilhe dentro do meu peito numa manifestação de revolta calada que não se quer deixar abalar de novo. Afinal de contas nada és, e é um nada que tenho de fazer de ti. Não me custa porque não criei expectativas, mas ao mesmo tempo é difícil, porque sonhei poder tê-las. O problema está em mim, sempre esteve e sempre estará.

Não espero mais, porque nada anseio. Assim prossigo, sem me lembrar de algo que possa justificar o que quer que seja. Porque é isso mesmo, porque o será sempre, uma indiferença incólume a tudo o que está aqui e ainda cá chegará. Nada espero, porque nada penso, embora queira tudo aquilo que não vem e nunca virá.  Acaba por doer essa indiferença mortífera, ainda que nunca tenha conhecido outra coisa diferente disso mesmo.

sábado, 23 de outubro de 2010

espelhos

"Espelho: superfície altamente polida para produzir reflexão regular dos raios luminosos e das imagens dos objectos; lâmina de vidro ou cristal, geralmente prateada na parte posterior, utilizada como reflector da luz ou para observação de imagens".

Segundo o que me diz o dicionário, todas estas palavrinhas, aqui inscritas entre aspas, juntas, são a definição do que é um espelho. 'Talvez', respondo-me eu. Um espelho não me parece ser um mero objecto em que vejo o reflexo daquilo para o qual o aponto. Não apenas uma coisa de vidro, em que pego, que me permite ver a minha cara de desilusão neste momento. 'Para mim, um espelho, é tudo aquilo em que recordo o que já experimentei, vendo-o representado das mais diversas maneiras, sentindo-o de uma forma tão diferente que me sabe a igual', afirmo-me.

Lembro-me de andar apaixonada pelo Miguel anos a fio, na escola primária. Viesse quem viesse, era o Miguel quem eu queria. Ele passava-me a bola nos jogos do recreio, sentava-se ao meu lado nas aulas e até chorava quando chegava a hora do toque e a mãe não estava lá fora para o ir buscar. Toda a gente gozava com ele por causa disso, se calhar até eu gozei, na minha parvoíce de miúda, mas eu gostava mesmo daquele rapaz. Ele nunca queria namorar comigo, nunca, mas eu continuava a endereçar-lhe todos os postais que escrevíamos no dia dos namorados. Até que houve uma vez, não sei porquê, em que ele decidiu que ia namorar comigo, já na quarta classe. Eu fiquei felicíssima: era a namorada do Miguel. Passado um tempo, há uma outra rapariga que começa a dar nas vistas junto do Miguel e ele decide deixar de namorar comigo, para namorar com ela. Céus, como fiquei devastada. O Miguel tinha-me trocado por outra miúda que nem sequer sabia jogar à bola.

Lembro-me de me apaixonar, há uns poucos anos. De acreditar que o mundo parava quando o via, de achar que ia parar de respirar na primeira vez em que o abracei. Ainda consigo vislumbrar aquele sorriso catita que me deixava sem jeito, fosse por que motivo fosse. Fomos passear e decidimos ficar juntos. Eu fiquei felicíssima, era a namorada dele. Passado um tempo, há uma outra rapariga que começa a dar nas vistas junto dele e sou eu quem decide deixar de namorar com ele. Céus, como fiquei devastada. Ele tinha-me trocado por outra miúda que nem sequer sentia o mundo parar perto dele.

Para mim, isto é um espelho. São duas histórias diferentes, mas com a mesma base dentro de si. Um espelho que se completa, que reage e cresce de acordo com as mudanças que a vida nos proporciona. Na primeira vez, deixei que fosse o Miguel a não querer namorar mais comigo, por muito que soubesse que a outra menina o tinha enfeitiçado. Da segunda vez, fui eu a não querer namorar mais com ele, por que me achei com muito mais valor do que o que a outra rapariga poderia vir a ter.

Para mim, isto é um espelho. São duas histórias diferentes, mas com a mesma base dentro de si. O que nelas se diferencia é apenas a minha imagem. Na primeira, uma menina pequenina, sem alguns dentes, desejosa de dar uns pontapés na bola ao recreio. Na segunda, uma jovem decidida a marcar um golo, por muito complicado que fosse ultrapassar o adversário.

Para mim, isto é um espelho. Não ter medo de reconhecer os momentos maus que se afiguram à nossa volta, quer estejam eles antes ou depois da decisão que temos de tomar. Respeitar-nos acima de qualquer coisa, fazendo prevalecer aquilo em que acreditamos que somos e que construímos dentro do nosso ser.

Para mim, isto é um espelho. Crescer e dessa forma ver as coisas diferentes, tomar decisões conscientes, que não estejam somente ligadas ao comodismo de não querer enfrentar batalhas. É preciso travar lutas, porque só no fim delas vai estar a nossa vitória plena.

Para mim, isto é um espelho. Acabar devastadíssima com o Miguel ou com ele, mas saber que, de uma situação para a outra, tornei-me alguém com personalidade própria e vontade de enfrentar a vida, mesmo que ela me deixe triste de vez em quando.

Percebes tu o que é um espelho? Ou será que para ti continua a ser apenas um mero objecto, em que pegas e metes à frente da tua cara, vendo apenas o teu reflexo de medo e cobardia? Se assim é, o nosso espelho é diferente. Eu gostava que percebesses o que é um espelho para mim, que tomasses esse conceito como teu e o sentisses da mesma forma. Afinal de contas, gosto de ti e quero que estejas bem. Não quero ver no teu espelho a minha sensação de 'devastadíssima'. O que quero ver no teu espelho é que travaste uma luta, sem medos. Quero ver que aceitaste o seu resultado, que olhaste em frente e disseste que, para ti, um espelho é 'tudo aquilo em que recordo o que já experimentei, vendo-o representado das mais diversas maneiras, sentindo-o de uma forma tão diferente que me sabe a igual'.

Olha bem para o teu reflexo. Não vejas mais essa cara cobarde. Vê apenas a tua expressão de luta, de vitória e de crescimento. É apenas o que preciso para olhar para o meu e não ver mais a minha faceta de desilusão. Vive, espelha-te, para que eu me espelhe contigo e em ti, novamente.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

saberemos...

Se tu soubesses... se eu soubesse! Posso não te ter por perto para te olhar, mas vejo-te constantemente. O teu nome paira no meu pensamento e não sei que fazer com ele. Depois, amanhã é um novo dia e a rotina mantém-se igual. Não sei fugir, não sei agir, não sei sentir. Será que ainda sei sonhar?

Vejo-te agora, aqui mesmo. Um olhar terno que só eu desvendo por acreditar que assim o é... ou por o saber, simplesmente, tendo a certeza de que se um dia me deres um abraço será o mais terno de todos até então. Mesmo no meio da multidão, sei sempre onde páras e quando sorris. Se tu soubesses...

Não existe explicação plausível e minimamente aceitável. É apenas como um rio onde a água naturalmente corre, no seu leito, nada mais ou menos complicado. Ainda agora, agora mesmo, te imagino na timidez constante que, embora não pareças ter, faz tanta parte de ti como um simples inspirar/expirar.

Só tu fazes o meu sol brilhar, conseguindo com que eu perca o jeito e não te saiba falar. Saberei sorrir-te? Saberei distinguir o que é isto que não identifico, de algo que não conheço mesmo? Acabas por chegar sempre, demorando mais ou menos tempo. Naturalmente, como um dia em que entras num café e pedes um copo de água... mas eu complico, eu transformo e não entendo, não defino, não resolvo. Imagino e anseio. Será que transmito? Se eu soubesse!

Se tu soubesses... se eu soubesse!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

atabalhoamento

Queria ir dormir, mas não consigo. Não tenho explicação que justifique todas as viagens do meu pensamento, mas a verdade é que ele se farta de voar por aí, acabando por para sempre no mesmo destino. Tento a todo o custo programar-me, ainda que me pareça mais difícil a cada dia. Nem sei que diga ou que escreva, apenas sei que penso em tudo o que não quero pensar e não consigo exprimir.

É como aquelas máquinas de jogos de quando era pequena: coloca-se uma moeda e depois, com o gancho, tentas agarrar o brinquedo que queres para o poderes ter. O problema surge quando consegues tirar todos os brinquedos dentro da máquina, menos o que queres - assim estou eu.

Todos os dias me levanto e me pergunto porque é que não posso dormir mais um pouco. Abrir a porta e levar com o vento frio na cara faz com que me retraia e me apeteça voltar de novo para dentro, mas nunca volto. Vou contra ele e deixo-me ir, em mais uma rotina, em mais um dia que já está programado por inteiro. Com tanta definição, só mesmo o meu pensamento para ser livre de voar e poder chegar onde quiser.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

fascínio

Tenho-te um fascínio. Não me peças para to explicar, porque nem eu sei de onde ele veio, nem como é. Apenas to tenho, simplesmente, como tão natural é respirarmos a cada momento. Não consigo controlá-lo, tal como não consigo deixar de te imaginar a sorrir para mim, com um ar meigo que não conheço, mas que idealizo de uma forma tão pura que me parece familiar.
Não encontro um motivo ou uma explicação, por minimalista que seja, para te ter tal fascínio, mas tenho. Talvez partilhemos as mesmas motivações sem o saber, ou talvez o saibamos demais que não precisamos de o dizer. Resta-me olhar-te de soslaio, como até agora, e sorrir na esperança de que repares em mim... ou deixar-me levar pela brisa, indo até onde terei de ir, sem ansiar um desfecho e a história do mesmo.
Tenho-te um fascínio, e isso basta. Agora, 'o sonho comanda a vida', portanto caminharemos até onde nos levar. Porque ter-te fascínio é saber-te feliz, e isso é saber sonhar. Sonhar que, para além de uma estrela no céu,  és a estrela que move os meus dias na procura de um sorriso sincero.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mano

Foi há dez anos, lembro-me muito bem. Andava no básico. Em todas as aulas, hora e meia após hora e meia, pedia aos professores para sair e telefonar ao meu pai, sempre com a mesma pergunta: "já nasceu?".

Lembro-me de o ir ver e ter de subir escadas e mais escadas, de estar no quarto da maternidade e gritar golos do Benfica enquanto ele e mais três bebés choravam.

Sei que lhe demos mil e uma alcunhas, e continuamos a dá-las, tratando-o sempre como o nosso bombom.

E quando ele tinha aqueles caracolinhos dourados, aos quais ninguém conseguia resistir? As bochechas gordinhas, super fofinho e engraçado, sempre com vontade de correr e já com o bichinho da bola e dos carrinhos...

Depois chegou a hora da escola e chorei quando terminou o infantário.

Hoje já sabe andar de bicicleta. Medricas como eu fui, mas sabe. E joga à bola, joga muito bem à bola, melhor do que o que eu joguei algum dia...

Aquele bolinho pequenino já está grande, agora só quer é cromos. Colar cadernetas e cadernetas, trocá-los com os amigos e decorar mil nomes de jogadores de futebol.

O meu menino cresceu e está cada vez mais forte. Agora já me escreve fitas de finalista, e hoje já lhe escrevi uma cartinha... porque ele já sabe ler e escrever.

E o tempo passa, e eu cá continuo com ele. Tal como naquele dia em que o vi como um bebé, parecido a todos os outros bebés.

Mesmo igual, tinha algo de especial, que ainda hoje continua a ter e é o mais importante de tudo o resto: é o meu mano, e eu vou gostar sempre mais que muito dele.

Parabéns Joãozinho.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

e tu?

Mas e tu?
Saberás o que é o amor? Saberás o que é a honestidade?
Mas e tu?
Aqui, solta, caminho por entre trilhos que não sei onde me levam. Sonhos em demasia reflectem sentimentos incomportáveis que ninguém poderá perceber. E então? Deverá a vida ser ignorada? Espera, não sei. Não sei onde vou, porque vou, onde quero ir. Ouves a melodia? É isso, é a energia, é a capacidade de seguir sem ter um rebuçado que nos adoce a boca. E com o seu suave encanto vem, chega, fica e não se deixa que vá embora.
Sabes aquela sensação de que temos de  sorrir, de rir mesmo com vontade da coisa mais inútil que exista, como uma mosca a esvoaçar à nossa volta? É como aquela flor ali pousada que transmite a paz e tudo o resto. O mundo encontrado nas coisas mais simples, como o lixo que se perde nas ruas movimentadas e que anda, que segue com o vento. Sabes, é isso, é esse querer.
Mas não, é o apressado, o buscar do encanto que teima em não se perceber. É o gostar de tudo, por mais que seja apenas um pacote de açucar vazio. Ou aquela taça de cereais suja que te esqueceste de levar para a cozinha. E as rosas, dentro de uma jarra cheia de pó. Secas, que te recordam como as tens e o que com elas aprendeste.
E aquele livro com folhas em branco, cheias de linhas para que lhes escrevas, mas não sabes o que lhes escrever. Como a atitude que se tem, de mágoa que fala mais alto que a nossa essência e nos faz inúteis, sem função certa perante o caminho. E depois lembra-se disso, só disso, como a monotonia, e não de tudo aquilo que te fez apaixonar.
As conversas de outrora que te fizeram aprender e descobrir, seguir mais além. O 'nunca' que disseste com tanta certeza, mas com mais certeza ainda o refutaste, porque achaste valer a pena. Mas e tu?
Não estarás agora a seguir no teu carro rumo a um lugar oposto a este, onde achei ver a tua segurança e capacidade de expressão? Não, vais embora, vais para longe, sem que mo digas e mo expliques porquê. Estou a norte, e rumas ao sul. Porque não mo dizes? Porque não me mostras simplesmente que é isso que queres? Ou que não sabes se queres, mas que te persegue, como a solidão desafogueada em que te colocas.
Sabes, são aquelas memórias antigas, aquelas coisas escritas que lês em pensamentos, que te fazem mal. São elas que te levam a caminhar sem sair do mesmo círculo, como a chuva que cai apenas sobre o teu telhado. Porque não as ultrapassas? Porque não as apagas e segues de uma vez só? Não sei... às vezes, por muito que custe, é preciso dar o salto. É preciso deixar que morra a cobardia e que avancemos no mundo, para que o mundo avance connosco. Mas eu não sou capaz, eu não consigo fazer com que te mexas comigo se não o queres. Estendi a minha pessoa para te guiar, mas deixaste-me quieta, no mesmo sítio. E agora? Agora nada.
Porque eu vejo a flor. Continuo a ver as páginas com linhas em branco e sei que poderia levar-te na roda viva mais incoerente da tua vida. Mas andarias, serias capaz de caminhar em frente ou de querer ter sempre uma coisa que te movesse. Sabes, essa capacidade de ficar sozinho não é saudável. Não é justa. Náo é justa! Deixa-te de cobardias, deixa-te de te contentar com as coisas mais simples. Agarra nas coisas, agarra nas pedras do chão e manda-as contra a parede. Deixa de ter um ar passivo, deixa de ver o mundo rolar, corre por aí. Percebes, agarra na minha mão e puxa-me, leva-me a correr por um lado qualquer, nem que seja de encontro ao céu. Anda, define-te, define o teu rumo e aquilo que queres para ti. Leva-me nessa aventura, deixa-me que te leve até ao caminho que tens de seguir e se eu tiver de vir embora, eu venho... mas mexe-te, por favor. Não te contentes com a banalidade do mundo. Extravasa o teu querer, mostra a tua personalidade, brinda as pessoas com a tua garra. Sei que tens tudo aí dentro, que apenas te basta deitar cá para fora e gritar, ser, viver.
Salta, anda daí. Mexe-te. Vai de encontro ao céu. Bate com a cabeça. Mas anda, ganha movimento, ganha cor. Dói ver-te na prisão da neve fria quando ficas bem melhor debaixo do sol que esfria a alma, por mais quente que possa queimar a pele.
Eu sei que és capaz. E tu?
Saberás o que é o amor? Saberás o que é a honestidade?

domingo, 20 de junho de 2010

mas que

Mas que não é medo, que não é nada. Que é tudo, sendo coisa nenhuma. Parecem-me fragmentos soltos de alma, que não é minha, que não é tua.
Que não é amor, que não é paixão. Que ao roubar me leva o coração, que ao voltar me deixa caída numa rede  inquieta.
Que tudo é, nada sendo. Que não faz de mim um corpo tremendo, que rejubila quando te vê olhar. Que apenas te saiba a sal o que não sabes saber, e que tudo o resto seja o açucar compactado num quadrado.
Mas não é nada, porque não tem o tudo lá dentro. É apenas o que não é sendo, porque mais perdida já não posso estar.
Seriam palavras soltas, sem sofrimento. Seria o fim, se tivesse de ser. Mas que lhe falta a honestidade completa, a purificação que quero merecer.
Mas que não lá chego, que já lá estou, que em lugar algum te encontro mais do que este. Que mais te diga sem que o saibas, apenas nada senão o que se sente.
Mas valerá a pena?, valerá ainda querer o sabor a bom. O sabor inconfundível de tudo o que nada é, porque nada tem que se lhe diga.
Depois é quando se cai, quando se mostra a faceta errada, quando quietos nos partimos em pedaços e se mostram angústias encarceradas.
Que nada é, sendo tudo. Que no tudo se saiba não ser nada, que se saiba querer o mar e ter somente a areia. Que lhe falte tudo o que nunca irá chegar, que chegue o que nunca será possível vir.
Que lá no fundo, no teu mar, saibas que sou o sol, que teimas em extinguir.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

vazio

Quando a solidão se apodera de nós e não sabemos o que dizer, é assim, assim que sou, que estou e que fico. Eu, aqui, ali, por todo o lado. Eu, encarcerada em mim, sem capacidade de encontrar o preenchimento de todo o meu vazio.

"Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!


Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!"

Florbela Espanca

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços

Hoje faço minhas as palavras de alguém que 'fala' melhor do que eu:

Tenho saudades da carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos (...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmão, que eu nunca tive ninguém que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente é mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha pensado fazer. Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

quarta-feira, 5 de maio de 2010

qual é a essência da amizade?

Quase desde que nascemos, pelo menos desde que somos bem pequeninos, é-nos induzido o conceito daquilo que é ter amigos. Quem não se lembra dos amiguinhos do infantário? A questão é que não basta ter amigos, há que ser também um. Depois, enquanto vamos crescendo, as responsabilidades de ter amigos aumentam e o próprio conceito muda. Sim, isso mesmo. Quer dizer, na creche podiamos andar à estalada com os nossos amigos, chorar um bocadinho, e nos minutos seguintes já estar tudo bem. Depois vamos para a primária e já discutimos por um dia inteiro com os amigos, porque gostam do mesmo rapaz ou da mesma míuda que nós. Segue-se o ensino básico, em que há sempre a parvoeira de não falar com alguém durante uma semana e quando chegamos ao fim desse tempo já nem nos lembramos do motivo pelo qual deixámos de falar com o nosso amigo. Ainda há o secundário, em que se fazem grupos e todos prometem ser amigos 'forever', mas que o tempo faz esquecer... e de seguida, o que é suposto acontecer? Deveriamos nós descobrir a essência natural da amizade em vez de saber apenas o que é o egoísmo?
Sinceramente, penso que não. Essas coisas não se descobrem de um momento para o outro apenas porque é essa a altura para tal acontecer. Deveriamos ir assimilando as mensagens: perceber porque é que andámos à chapada na creche, porque é que gostámos da mesma criança na primária, lembrar do motivo pelo qual deixámos de falar com alguém no básico e ainda saber a razão que nos fez acreditar que teríamos aquele grupo de amigos para sempre. Em cada pequena coisa, em cada gesto, em cada palavra, deveríamos ser capazes de construir algo que nos ultrapassa em vez de exacerbar aquilo que somos com vista a ser melhor que tudo o resto. Enfim, é díficil, se não impossível, explicar a aprendizagem daquilo que é o verdadeiro sentido da amizade. Eu, pelo menos, não consigo fazê-lo. Não me posso dizer uma boa amiga, porque as únicas pessoas que poderão dizer isso são aquelas para quem o tento ser. Ainda assim, há pessoas que não conseguem assimilar as pequenas mensagens que vêm com aquilo que deveria ser o seu crescimento e que apenas deambulam por aí com o único propósito de elevar o seu egoísmo e estatuto que acham superior. Não compreendo.
Ainda há, nesta fase da vida, aqueles que, em vez de darem chapadas para ficar tudo bem a seguir como dantes, agora dizem coisas que ficam marcadas e agem como se nada fosse e estivesse tudo bem. Ainda há, nesta fase da vida, aqueles que, em vez de gostarem da mesma pessoa que nós na primária e ao fim do dia passarem a gostar de outra, agora se esforçam continuamente por gostarem da mesma pessoa que nós, propositadamente. Ainda há, nesta fase da vida, aqueles que, em vez de não nos falarem durante uma semana e não se lembrarem do motivo para que isso aconteça, falam connosco continuamente, sobre coisas irrisórias e com que deviam estar calados, continuamente sem cessar. Ainda há, nesta fase da vida, aqueles que, em vez de criarem grupos de amigos para sempre, se acham amigos desde sempre e se intrometem na essência de cada um destruindo a pessoa aos poucos. 
Mas serei eu a única pessoa indecente que vê tudo isto? Ou serei eu a pessoa certa ao constatá-lo?
Que me julgue quem quiser e quem se ache no direito de fazê-lo. Afinal de contas, parece que também eu estou a julgar... ou não? Que me julguem os meus verdadeiros amigos, que percebem as diferenças entre a meninice e o agora. Contudo, haverão sempre aqueles que lerão tudo isto e pensarão que endoideci, de vez. Esses, esses que não compreendem as diferenças mas acham compreender, não são meus amigos. Não seu meus amigos por um simples motivo: não são amigos de ninguém. É que para isto de saber o que é a amizade e com isso mesmo tentar melhorá-la a cada dia, é preciso, pelo menos, conhecer o significado de altruísmo e rejeitar o de egoísmo. Infelizmente, há muitos que apenas conhecem o de ilusão, sendo nesse que vivem. Eu conheço aqueles em que acho que se deve basear a amizade. Posso não ser a melhor amiga do mundo, mas tento ser uma amiga melhor a cada cinco minutos. Aqueles que não sabem o significado disso, entristecem-me. É por isso que não são meus amigos, não sabem ser amigos de ninguém.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

um dia vou escrever um livro

Um dia vou escrever um livro. Uma história recheada de sonhos, um conto com amor. Uma prosa cheia de tudo aquilo que imagino, mas que nunca consigo ver real. Um dia, vou escrever aquilo que nunca achei capaz de acontecer.

Porque mesmo quando parece que a felicidade nos cerca, nunca nos damos por satisfeitos. Queremos sempre mais, queremos realizar os nossos sonhos mais profundos que nunca ousámos dizer.

É então na escrita que nos encontramos. É ao divagar por entre letras, que podemos ser tudo aquilo que queremos. Um dia vou escrever um livro, um dia vou escrever-me. Vou ser capaz de tornar físico tudo aquilo que sei que não vai acontecer. Quando passar para as palavras todos os meus pensamentos, medos, desejos e sentimentos, vou tornar a minha história de conto de fadas num romance capaz de chegar mais além.

Um dia vou ser capaz de falar sobre as minhas angústias que hoje reprimo. Sobre o que sinto quando não me acho retribuída e finjo não me importar com isso. Vou conseguir desabafar sobre a capacidade de ser alguém que dá, pouco se importando com o que não recebe em troca. Vou fazer com que pensem que dizer que dou sem receber não é ser humilde, mas é ser honesta.

Vou escrever um livro. Vou contar a quem me quiser ler como é viver em busca do amor que não existe, na procura da pessoa que achamos perfeita mas que nunca chega. Vou dizer que é difícil que nos moldemos ao mundo, mas que sabe muito bem quando o conseguimos fazer. Vou mostrar que sonhar é essencial e que acreditar nos sonhos que temos, nos faz seguir em frente, com entusiasmo. Vou ser nua, vou ser eu. Porque quando escrevo e me lês, sei que, por muito que não possas perceber, sou eu que estou do outro lado a falar contigo, com tudo de mim. Se calhar, és tu o meu sonho perdido por aí e não sei, nem quero saber. De que importa? Porque quando escrever um livro, vai ser uma história recheada de sonhos, um conto com amor.

domingo, 18 de abril de 2010

no teu colo

Preciso do teu colo. Hoje sinto-me frágil. Acredito que dentro de um segundo irei ficar em pedaços se não me segurares nesse teu aconchego onde só agora saberia ser eu por inteiro. É assustadora a forma de como olho para ti e consigo ver a minha caixa de segredos que se construiu sem que eu desse conta e em tão pouco tempo. Infelizmente não podes estar aqui, nem estás perto. A minha cobardia deixa que me esconda dentro de mim e nunca te mostre os meus verdadeiros medos, aqueles que acho irem destruir tudo aquilo que possa haver. É por isso que quero o teu colo, para me poder sentar nele e ficar dentro dos teus braços, enquanto calados nos limitamos a respirar. Mesmo que chovesse lá fora, o tempo iria parar para que, junto de ti, eu pudesse voltar a ganhar forças para caminhar sozinha. Agora não consigo, sou pequena de mais para o fazer. Neste momento preciso que olhes para mim como essa pequena, aquela que precisa que lhe dês a mão, digas "vem comigo", e, num banco de jardim, a sentes no teu colo para que ela possa voltar a saber respirar. É que, ouvindo o teu coração bater, talvez o meu consiga aprender de novo esses movimentos tão particulares e tão especiais.

sexta-feira, 12 de março de 2010

lembro-me

Não sei porque é que ainda me lembro de ti. Não sei se é da tua expressão, da tua mão, do teu sorriso, do teu olhar ou simplesmente da tua voz. Sempre estiveste lá mas nunca te tinha visto como daquela vez e não sei porque é que te vi de maneira diferente. Talvez tenha sido o cheiro do mar ou os passos que dei enquanto caminhava para um lado qualquer. Pode ter sido a minha fala irrequieta que teimava em não cessar ou apenas tudo. Não sei o porquê, sou sincera quando digo que não encontro um motivo para que me lembre.
Depois levas-me o pensamento em sonhos, onde viajo para qualquer lado em que sempre estás. Até quando respiro acordada entras na minha cabeça sem aviso nem contexto para que o faças. Invades cada pedaço de mim seja em que lugar for, a que hora for. Não encontro sentido para que tal aconteça, mas acontece. Até nos momentos em que vejo as horas, me pergunto se saberás que horas são. Lembro-me de ti até agora enquanto os nossos mundos correm por caminhos que imagino diferentes.
Não tenho explicação para que me lembre de ti. Aliás, nem tenho uma razão que me que faça procurar uma explicação, porque essa explicação não existe. Sempre te vi e sei que sempre te verei, apenas não sei de que forma. Seja pela tua expressão, pela tua mão, pelo teu sorriso, pelo teu olhar ou pela tua voz, a questão é que me lembro de ti, sempre, por seres tu.

quarta-feira, 10 de março de 2010

excepção

Sei bem que este espaço é palco de muitos gritos meus contra o mundo, contra as pessoas. Mas há excepções, há motivos pelos quais me mantenho aqui. Há vontade em mim de viver a sorrir porque alguém faz por isso. Sentir-me bem comigo mesma, é sentir-me bem com tudo. Faltar, falta todo um caminho... Mas os primeiros passos estão dados e um dia hei-de conseguir chegar lá ao fim.

Aquele sorriso inerente a alguns rostos é o que faz com que aqui me mantenha. A mais pura cumplicidade numa expressão vale mais do que mil e uma palavras. O acreditar nesta meninice encantada de sonhos de princesas sempre felizes, faz com que o mundo ganhe outra cor e eu acredite que sou capaz. Capaz de encontrar alguém assim, sonhador. Capaz de encontrar alguém que sorria e cujo sorriso faça valer uma vida.

Afinal, as excepções valem muito mais que tudo o resto.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

voltar à praia

Olho para fotografias de outros dias e vejo que tomámos caminhos diferentes. Enquanto tudo parecia ser capaz de nos aproximar, agora o areal está mais extenso e é mais difícil chegar ao mar. Descubro tudo aquilo de que queria abdicar e digno-me a vivê-lo com agitação incessante. São rumos que se constróem com o passar dos minutos e que, quando somados, acabam por fazer diferença. Estou apenas a levar outro caminho que não aquele que pensei tomar, porque não fazes parte dele. Saí num apeadeiro por aí e explorei-o até ao mais ínfimo pormenor e é isso que agora faço. Recordações são o que te traz até aqui, nessa tua constante calma e lucidez exasperante que nunca consegui ter.
É como o temporal anunciado que teima em não aparecer e chega o momento em que duvidamos da sua existência. Aquela altura em que o mar já não engole a areia, apenas se afasta para que ela tenha espaço para respirar. Rotas distantes em que não somos o mar que vai e vem sobre a areia, mas antes o mar e a areia. Mesmo quando tudo se assusta com a vinda do temporal, ele decide não vir porque descobriu um outro caminho. Foi, apenas, por outro lado. Deixou de querer abater-se sobre nós e passou a querer ir num outro trilho. Afinal, talvez ele nunca tenha querido vir para cá. Agora, enquanto vai para outro lado que não este, assola tudo por onde passa. Os danos que não causou aqui causa noutro lugar, vive os momentos. A areia já não é um com o mar.
São como as fotografias. Fotografias que antes vi caminharem juntas no mesmo sentido mas que agora vão em direcções diferentes. Não opostas, mas diferentes. Quem sabe, talvez um dia voltem a encontrar-se mais à frente. Pode ser que em vez de mudar de rumo, tenhamos apenas tomado um atalho. Agora a areia é areia e o mar é o mar, pode ser que um dia voltem a ser a praia.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

frio de angústia

Tenho demasiada angústia para que possa exprimi-la. É extravassador o quanto invade sonhos, transportando mil e um quereres que custam em ser reais. Depois há as mil e uma voltas por entre lençois que apenas trazem momentos inquietantes até na hora de descanso. Não sei que mais tentar nem o que mais preciso dar. Não vejo inconstância, mas talvez tenha existido. Não sei. Chegou o tempo em que apenas não há mais tempo, porque a angústia toma conta de todo o tempo que possamos ter. É assim que, de malas prontas, me destrói o facto de saber que tenho de ir embora sem sequer ter conseguido dormir direito. Espero encarar a viagem como uma jornada em branco, um momento de que pretendo desfrutar ao máximo, tendo até a capacidade de rebentar a escala. Preciso, porém, de esquecer a angústia enorme que nem consigo desabafar sobre. Até sou das pessoas que gostam de falar, mas agora não existem palavras que possam espelhar tudo aquilo que quero dizer. Por isso chegam os pesadelos, por isso chegam as noites em que o sono não é o bastante para me fazer dormir que nem uma pedra. Mesmo quando me perco dentro da minha estufa que transborda calor, sinto frio. Tenho frio, muito frio. Esta angústia sobre a qual nem consigo escrever, não me deixa o coração a transbordar de raiva e a fervilhar de calor. Deixa-me antes como que nua e despida, com um coração partido e totalmente gelado. Talvez seja por isso que, depois de ter já as malas arrumadas, me pergunte se, mesmo com tanto agasalho, não irei eu ter ainda mais frio.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

luta

Existem coisas pelas quais lutamos continuamente ainda que não saibamos o que nos move. Perguntamo-nos vezes sem conta porque é que continuamos a insistir, mas nunca encontramos resposta. Pode até parecer algum tipo de masoquismo, tanta tentativa por um simples momento bem sucedido, mas não há forma de desistir, por muito que essa ideia nos passe pela cabeça.
Eis que damos por nós, sem qualquer jeito ou habilidade, mas com uma vontade de vencer incrível. Não, não é por ser um desafio que há esse encorajamento, porque, mesmo que pudesse ser um desafio, também a sensatez está presente para nos avisar quando chega o momento em que não é preciso continuar a tentar. Não é, de todo, um desafio. É apenas a vontade, a vontade de querer dar mais e mais, a impulsividade para que nos empenhemos ainda mais um bocadinho e com isso consigamos chegar mais além. Mas sim, o caminho é difícil e perpetuoso.
Sem jeito, sem saber como, seguimos em frente porque lutamos, lutamos sem saber o porquê da luta - não conseguimos vê-lo. Mesmo que mil e um aspectos à nossa volta nos mandem para baixo, mesmo que tropecemos vezes sem conta em pedrinhas pelo caminho, continuamos. Podem haver lágrimas perdidas, pouco importa, o que interessa é que a vontade em continuar se mantém, mesmo que a audiência nos olhe de lado e se ria por continuarmos a insistir. Mesmo que alguém ache que não temos fibra e não nos esforçamos o suficiente, apenas nós sabemos o quanto estamos a dar, apenas nós sabemos a força que colocamos em cada murro até ao fim da luta.
Há sempre um momento em que nos perguntamos: se ninguém, se não eu, acredita que posso conseguir ganhar, então, valerá a pena continuar a colocar força nos meus braços ou devo apenas deixar-me cair no chão para que os outros vençam? Vale sempre a pena, é essa a resposta. Sempre que nos perguntamos se vale a pena, acabamos por concluir que sim, que vale sempre a pena. Afinal, ainda que não se consiga definir o que nos move em determinadas batalhas, a resposta acaba por aparecer mais clara do que qualquer outra. Aparece, um dia, na nossa mente e aí sabemos que vale a pena. Essas coisas pelas quais lutamos continuamente sem nunca desistir, são movidas pelo amor. O prémio que recebemos por ter ganho a luta, é o exacerbar de que o amor pelo nosso objectivo nos fez ganhar. Eu quero ganhar esta luta, porque tenho amor por ela. Portanto, contra tudo e todos, vou continuar a lutar para que um dia, depois de muitas batalhas, também eu possa sair vencedora.

sábado, 30 de janeiro de 2010

a Corrida.

Há alturas em que estagnamos, em que apenas não conseguimos falar. Um minuto deixa de ter 60 segundos e passa a ter 120 no mesmo espaço de tempo. A vida corre a uma velocidade difícil de acompanhar, mas a corrida é para ser feita até à meta. Existem cruzamentos no percurso onde temos de optar qual a estrada a seguir e nem sempre fazemos a escolha mais fácil. Ainda assim, fazemos uma escolha. Enveredamos por um caminho que nos parece ser o melhor na altura. Só depois, uns metros mais à frente, é que podemos ter a certeza de que fizémos a escolha certa, ou não. Mas continuamos em frente, rumo a um objectivo. Temos momentos de fraqueza, momentos em que o cansaço parece apoderar-se de nós, mas não desistimos. Abrandamos o ritmo, estagnamos até durante algum tempo, mas acabamos por retomar o percurso, é mais forte que nós. Os sapatos começam a ficar gastos e experientes, mas não é por isso que deixam de servir. Os atacadores continuam a prendê-los bem junto aos nossos pés e é somente a sola que vai sofrendo o desgaste e ganhando conhecimento do chão. Todo o resto se mantém inteiro e íntegro, fiel a si mesmo. Continua a corrida, umas vezes connosco a pingar do esforço exigido, outras com sorrisos de uma paisagem bonita e também outras de semblante carregado. Mas há muitas, muitas mais facetas que adoptamos enquanto não alcançamos a meta. Dependendo dos percursos que formos levando, assim se faz a nossa expressão. Uns terminam a corrida muito antes de outros, outros muito depois de outros,... cada um leva o seu tempo. Até eu, que não gosto de correr, participo nesta corrida. Aliás, quem não participa? Mais rápido ou mais devagar, de forma mais ou menos intensa, todos corremos até cruzar a meta. Mesmo quando estagnamos, mesmo quando não conseguimos falar, corremos. É assim, é a vida.

sábado, 23 de janeiro de 2010

estátua de sal

Margarida Rebelo Pinto escreveu:
"Pega no telefone e liga-lhe, não tens nada a perder. Diz-lhe que tens saudades dele, que ninguém te faz tão feliz, que os teus dias são secos, frios e áridos, como um deserto imenso, sem oásis nem miragens, sempre que não estão juntos. Pega no telefone e liga-lhe. Se ele não atender, deixa-lhe uma mensagem. Ou então escreve-lhe um sms a dizer que queres estar com ele. Não te alongues nem elabores, os homens nunca percebem o que queres deixar cair nas entrelinhas. Tens de ser clara, directa, incisiva. E não podes ter medo, porque o medo é o maior inimigo do amor. Cada vez que deixares o medo entrar-te nas tuas veias, ele vai gelar-te o sangue e paralisar-te os nervos, ficas transformada numa estátua de sal e morres por dentro."
Já peguei no telefone, mesmo tendo tudo a perder. Não tenho medo, porque não há nada pior que me faça ter medo. Fui clara, directa e incisiva, sim. Já não uso entrelinhas porque elas não me ajudariam a caminhar melhor sobre esta areia grossa. Os meus dias são secos, frios e áridos, como no deserto, mas tenho oásis, tenho miragens. Não é o medo que me corre nas veias, são essas miragens. São essas miragens que me fazem ser a estátua de sal que se desfaz através dos olhos. São as miragens que um dia poderiam ser verdadeiras mas que, agora, não o são. São os oásis que parecem estar perto, mas que estão tão longe que me fazem ter a certeza de que sim, de que tenho tudo a perder. Tenho tudo a perder, mas não tenho medo. É impossível ter mais medo do que ter tudo a perder. Aliás, já perdi. Já perdi a luta que um dia tentei travar. É por isso que agora não consigo raciocinar mais, não consigo encontrar outra forma de chegar à meta... Mas não era uma meta. Era o pleno, era a capacidade de ter medo por não ter tudo a perder. Não consegui. Que me desculpe a Margarida Rebelo Pinto, mas pareço ter sido fraca de mais. Sim, fui fraca de mais. Resumo-me, portanto, à estátua de sal. Sou uma, que se desfaz lentamente, porque guarda dentro de si muito do que a fez crescer. É, sou uma estátua de sal. Desfaço-me um pouco agora, um pouco mais tarde, um dia por inteiro, algumas horas durante a noite... é, vou-me desfazendo. Sou uma estátua de sal, mas ainda assim continuo a ter coragem de fazer o teu telefone tocar. Mais uma vez.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

chocolate

Dizes não me ter esquecido mas sei que o fizeste já há algum tempo. Mantenho-me quieta e imóvel, porque me custa a assimilá-lo como verdade. Sei que o é, mas não quero sabê-lo. Não quero desabar e ficar mais uma noite perdida em soluços magoados com a verdade que me custa ver.
Lembro-me daqueles dias em que percorrias caminhos para que nos pudéssemos olhar de frente e conversar, rir e falar, apenas. O meu  verdadeiro caminho é o oposto àquele que agora tento seguir, mas pareço estar pregada ao chão sendo-me impossível mudar de direcção. Sei que não vale a pena ir de encontro a ti.
Podia dizer-te mil e uma coisas, mas de nada me valeria. Não sou ninguém para que o mundo mude de mentalidades, muito menos poderia ser alguém capaz de mudar a tua. Por mais que fale, as minhas palavras já não têm som, já não te causam eco. Acabo por passar por tonta quando na verdade sei que é tudo menos uma tonteira. Por mais estranho que pareça, até já estou cansada de tanto falar. Falar quando não nos querem ouvir é o mesmo que dormir noites e noites sem que um sonho nos atravesse o espírito. Falo e não me ouves, tal apenas me revela que estou, como sempre achei, sozinha.
Assim tenho a certeza, assim me conformo sem que o assimile dentro do meu peito. Deixei de existir, sabe-se lá porquê... Não existo mais tal como aquele chocolate perdido em cima da mesa, que alguém comeu e apenas lá deixou o embrulho. Mesmo que em cima da tua mesa já nem o embrulho vazio esteja, na minha permanece o chocolate inteiro, intacto. Será que devia também eu comê-lo e mandar o papel fora? Pode saber-me bem, mas não consigo. Ainda que digas o contrário, sei que já nem te lembras que chocolate eu era.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

estou assustada.

Aperto a caneca do chá para ver se aqueço as mãos. Olho em frente e sorvo um golo da bebida, enquanto a vejo fumegar. Mais um dia que passou e mais um dia que perdi comigo perdida por entre pensamentos inquietos. É, às vezes assusto-me comigo mesma. Lembro-me muitas vezes de o meu pai dizer constantemente que "um dia ainda te vais dar muito mal assim, há pessoas muito estúpidas lá fora e não sabes lidar com elas". Se calhar ele tem razão. Ou então sou apenas eu a pessoa estúpida.
Acho que tenho convicções fortes de mais. Se gosto então gosto mesmo, se falo então falo mesmo, se rio então rio mesmo... e por aí fora. Ainda assim, o falar e o riso chegam sempre à meta, à altura em que param antes de voltar a entrar de novo na corrida. Já o gostar, é muito mais complicado de domar. Aliás, acho que não consigo domá-lo. De tanto gostar, falo e rio que nem uma perdida, mas, essencialmente, escrevo. Quando releio desabafos do meu coração, fico assustada: não consigo imaginar como se sentiria outro alguém ao lê-lo. Há anos que ando nesta busca incessável de encontrar alguém como eu, que consiga compreender o facto de ninguém me compreender a mim, mas não encontro... Continuo, por isso, a sentir de uma forma extrema, porque sentir é o que sei fazer melhor.
Agora tenho medo de que nunca ninguém possa compreender o facto de eu gostar, de eu gostar e não me cansar de o fazer. Porque eu gosto, por cima de tudo, por cima de todos, eu gosto. É até inútil quando alguém diz "vá, não chores", quando simplesmente não consigo não chorar. É estranho quando alguém diz "vá, não te quero assim", mas não consigo não ficar assim. É isto que me assusta, muito. A caneca não consegue aquecer-me as mãos e não consigo explicar o meu coração. Não encontro validade para mais um dia perdido em pensamentos, quando os pensamentos não têm conclusão. Sou assim, louca e devassa do mundo. Ainda que chore, ainda que esteja assim, continuo a gostar. Porquê? Não sei o porquê. Não sei nada a não ser que gosto. Gosto mesmo muito. Talvez o meu pai tenha razão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

palavras a mais e a menos

Cheguei ao meu ponto de saturação máxima. Já não tenho vontade de rir apenas porque sim. O doce passou a saber amargo. Existem alturas em que nem sempre é tudo fácil e existem também outras em quecomplicamos demais. Ainda assim há momentos em que já não dá para fingir mais e é preciso ver que afinal existem situações em que caímos mesmo e não havia como evitar a queda.
Agora tenho cada vez mais a certeza de que a inocência só está presente nos olhos de uma criança, lá encontro-a a cada dia. Mas existem pessoas a mais com pensamentos desviantes, que acham que esses mesmos pensamentos são inocentes... Nunca fui ninguém para dizer por aí tudo aquilo que me apetece e muito menos para julgar o mundo, mas parece haver quem o faça sem o mínimo problema. O cerne da questão encontra-se no assunto sobre o qual falam: enquanto que falar de nós é complicado, falar dos outros é bem mais fácil do que parece. Aliás, falar dos outros apontando-lhes o dedo, então é ainda mais fácil do que o bem mais fácil de antes. O problema é que as coisas que se dizem, são ditas pela simples vontade de alguém que se acha capaz de o dizer, porque assim o quer.  Esse problema está em quando esse falar manda todos os outros abaixo menos aquele que fala.
Estou, por isso, cansada. Não consigo suportar mais palavras inquietas que apenas servem para me fazer cair agora, hoje e amanhã. Não percebo qual o prazer que existe em dizê-las. Aliás, parece-me que quem as diz nem sabe o efeito que causa ao proferi-las, mas desisto de tentar explicá-lo.
Perdi qualquer ponta de paciência para ser tolerante. A partir de agora vou deixar de perceber palavras ditas a alguém com o simples intuito de magoar o outro. Perdi até a paciência para esperar pelas palavras que alguém deveria dizer, mas não diz. Caí, não quero saber como, nem porquê. Caí e não quero pensar mais no assunto. Caí, desesperei, cansei, e não tenho problema nenhum com isso. Sempre me aguentei, mais um dia, menos um dia... diferença nenhuma faz. A diferença está apenas na certeza de que amanhã, quando acordar, vou achar tudo isto uma enorme parvoíce. Continuarei a deixar-me intimidar por tudo aquilo que é dito e mais ainda por tudo aquilo que ficou por dizer.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

luz sobre mãos

Raios partam que já não posso ouvir aquela guitarra estridente! Por onde anda a harmonia melodiosa? E esta porcaria do toque de mensagem a tocar insistentemente! Preciso de paz, será difícil de perceber?
Eis que olho em volta e percebo que não vale a pena reclamar. Estou sozinha, apenas, com o candeeiro direccionado para as minhas mãos. Sem barulho senão o das teclas a levar com a pressão dos meus dedos, sozinha, perdida em mil pensamentos que me haviam feito sorrir outrora.
Lá toca aquela porcaria outra vez! Credo! E a lengalenga insistente em que nada se percebe! Que se calem, por amor a Deus!
E valerá a pena ser agressiva com o mundo? Valerá a pena deixar de procurar as coisas boas da vida? É que encontrei ao virar da esquina a peça perdida do meu puzzle, mas agora não consigo encaixá-la no sítio certo. Pressiono-a contra o lugar onde deve entrar, mas ela não encaixa. Não se deixa encaixar sabe-se lá porquê...
Oh, por favor, porquê a mim? Porquê este zumbido irritante que vem da máquina de lavar roupa? Deixem-me quieta, por favor!
Não estou perdida, mas perdi um pedaço de mim. Aliás, sei muito bem onde ele está. mas não posso ir buscá-lo. Ele vai voltar, se tiver de voltar. Todo ele é a peça ao virar da esquina que simplesmente não encaixa no puzzle. E não encaixa porque talvez não deve encaixar, apenas não deve encaixar... Mas continuo, continuarei até ter força para tentar com que ela se coloque onde deve estar. Se um dia tiver de desistir, saberei quando chegou a hora certa para o fazer.
Pronto, agora é os pratos! O esquentador a fervilhar! Bolas, desisto! Vou sair porta-fora e vou fingir que faço parte do barulho! Não estou mais calma, não estou mais pensativa, não estou mais nada! Pimbas, la la la e trá-lá-lá!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sonhando

Não quero nem saber. Vou dormir, esquecer o mundo e desligar. É o que há a fazer, nada mais. As soluções já foram todas experimentadas e nenhuma resultou. Agora clica-se no botão com convicção e tenta-se a custo que a máquina do pensamento desligue. Apenas não percebo porque é que ela não o quer fazer!
Odeio ainda ter o teu sabor na boca, como recordação inquieta de momentos que já passaram... Não quero lembrar-me de mais nada porque já bastam as saudades que tenho. Afinal o tempo não volta atrás, apenas corre sempre no mesmo sentido.
Não quero nem saber. Apenas continuo, sonhando.


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

fotografias em mim

Fotografias, como tantas imagens que quis preservar mas que não consegui. Palavras que estariam antes expressas num pedaço de papel brilhante e que dariam menos trabalho a recuperar... Mas sempre faltou o objecto maravilha que fosse capaz de estar nos sítios certos à hora certa, a maior parte das vezes sem razão, porque nunca se consegue prever quando é necessária a objectiva de uma câmara... Culpa da boa imprevisibilidade da vida, da inconstância saudável que agora faz com que que não existam fotografias, por mais que as queira ter.
Estranho é que me lembro de todos os segundos que queria ter atados num papel para onde pudesse olhar. Lembro-me de todos, de cada um deles melhor que o outro... Mas, não será assim desnecessária a presença de tal objecto? Afinal consigo lembrar-me de tudo o que me quero lembrar, sem que seja fixo, imóvel e ensaiado. Não tenho um sorriso forçado com uma bonita paisagem de fundo num pequeno quadrado, tenho-me antes numa imagem completa a olhar o horizonte naquela praia que tudo diz e sou ainda capaz de ter novamente o cheiro do mar salgado e a textura da areia rija junto à agua. Não tenho um pequeno quadrado com a minha horrível cara de choro, tenho o sabor amargo de cada lágrima custosa de cair, ou feliz, aliás, todas elas... e nunca fui fotografada a chorar. Não tenho um pequeno quadrado com a cara de todas as pessoas que repetidamente me entoaram os parabéns, tenho as suas expressões que muito transmitiram ao longo de uma noite inesquecível...
Parece verdade, parece então que as fotografias são apenas um acessório para quando a memória começa a ficar fraca. Não sei se daqui a alguns anos terei a lucidez para recordar todos os cheiros, todos os lugares, todas as texturas... Aí, talvez gostasse de ter fotografias. Mas não existem, já nem há possibilidade de existirem. Mesmo assim, posso tentar pintar em palavras tudo o que senti e vivi, mas há algo cá dentro que me diz não ser preciso. Afinal sou eu, sou como sou... Como poderia alguma vez esquecer-me daquele abraço que num dia longíquo me causou um arrepio na espinha? Ainda agora me lembro... e é impossível pintar isso. Sou eu, apenas.