sábado, 28 de novembro de 2009

crueldade

Não sei o que é, mas parece um aperto no coração. As imagens entram-me pelos olhos dentro como a realidade que assolapa a vida: nem todas as pessoas são boas. Quer dizer, acredito que a pureza seja algo inerente em cada um de nós, mas porque é que nem todos sabem reconhecê-lo no outro? E dói, e custa e magoa ver que assim é. Pergunto-me continuamente pelo motivo da existência da palavra crueldade e de todo o seu significado. Como é que alguém pode ser feliz sendo cruel? Que me desculpem, mas não consigo entender... O quão difícil é ver alguém ser cruel e orgulhar-se disso.
Não falo apenas do que é sentir a crueldade na pele, mas sim vê-la ser sentida na pele daqueles que mais nos fazem sorrir. É ainda pior, corrói ainda mais... Por isso é que parece um aperto no coração. Faz com que o coração se sinta mais pequeno e dorido, com mais dificuldade em viver. Caiu ao chão e agora está cheio de arranhadelas que deixam uma sensação de incómodo permanente.
Que faço agora? Que posso fazer para que tal não aconteça? A minha vontade é sair por aí que nem uma desordeira no mundo e apontar o dedo, confrontar os cruéis com aquilo que fazem. Gritar-lhes o quanto são maus, o quanto perturbam a alma de alguém e os desacreditam perante si mesmos. Sim, perante si mesmos. Mas eu seria apenas isso que agora digo - uma desordeira no mundo. Todos os cruéis olhariam para mim e me pensariam como uma maluca, que nada sabe do que diz... Incólumes no seu pedestal, não entenderiam as minhas palavras sequer. Nada a fazer, nada senão continuar estupidamente a assistir a este espectáculo trágico onde aquilo que mais amo é espezinhado a cada minuto...
É assim, é com a crueldade e a vontade de lutar contra ela que tenho a certeza de quanto sou pequena no mundo. Por mais vontade que tenha em mudar, sou apenas uma louca, uma louca que acredita nos outros e que se preenche ao vê-los felizes.

sábado, 21 de novembro de 2009

Eu, a incompreensão.

Acabei de mandar o telemóvel contra a parede, mas não é que aquela merda ainda dá luz? Que raiva! Só tenho vontade de mandar a cadeira para trás ao levantar-me e mandar a porcaria do telefone contra o chão até ele morrer de vez. Mas quem é que teve a triste ideia de que é preciso andar sempre em contacto? Só um pobre inocente, só mesmo um pobre inocente como eu que pensa que alguém é capaz de se preocupar com alguém seja por que motivo for. Ai! Estou farta de estar em contacto, farta, farta, farta! Estou cansada de poder clicar numas teclas para falar com as pessoas e dizer porcarias e porcarias e ainda mais porcarias! E depois, o que acontece? Pimbas, lá vai o telemóvel contra o que tiver de ir. Porra, mas porque é que sou tão complicada?! Juro que me pergunto como é que alguém teve a magnifíca ideia de me dar este feitiozinho anormal que não figura nos dias de hoje. Que raios!
Será que um dia vai aparecer alguém que seja corajoso o suficiente para me dizer: eu percebo-te, porque sou como tu? Não acredito nisso, é impossível. Ninguém é burro ao ponto de ser como eu. Ninguém a não ser eu própria! Estou tão cansada, mas tão cansada de gostar das coisas. Das coisas, das pessoas, de tudo... Dantes até podia meter piada, se calhar até me passava ao lado, porque eu era uma criançazinha inocente e acreditava em tudo o que me diziam, que ninguém fazia maldades, que ninguém era cruel... Tal como quem teve a triste ideia de que é preciso ter um telemóvel, houve alguém que teve outra ideia tão brilhante ou pior, que foi a de nos fazer crescer. Mas quem é o triste que disse que deviamos crescer? Quem é que foi a mente criadora que disse que eu agora ia saber o que é gostar das coisas, das pessoas, de tudo? Raios o partam também, seja lá quem for!
Merda, mas porque é que nem comigo mesma consigo falar? Porque é que nem eu percebo o que quero dizer a mim própria? Será que cá por dentro não falo português? Dei em filósofa? Dei em professora de Semiologia que fala, fala, fala e ninguém entende o que ela está para ali a dizer? Só pode ter sido. Devo estar cheia de signos e significados e significantes e remas e legisignos e tudo o mais e seja lá isso o que for, porque não consigo mesmo entender! Haverá alguém capaz de me explicar o que se passa dentro de mim? Haverá alguém capaz de me explicar porque é que eu, eu, eu e eu, gosto de pessoas? Hoje em dia ninguém gosta de pessoas!
Acho que o telemóvel já não está a dar luz. Espero que nunca mais dê. Espero mesmo não ter vontade nenhuma de voltar a pegar-lhe para tentar falar com alguém. Espero ainda mais que me consiga arrastar até à cama e amanhã acorde a achar que sou um robôt e que está um dia perfeitamente natural. Espero mesmo, espero mesmo muito.

domingo, 15 de novembro de 2009

EFF'09

Foi uma experiência única e diferente, com a qual muito aprendi. Descobri que a motivação nunca acaba, desde que saibamos contornar as adversidades. Agora que chegou ao fim, o meu coração agradece toda a companhia que tive ao longo das duas últimas semanas e acima de tudo àqueles que me proporcionaram esta oportunidade. Para sempre, o meu muito obrigada! Se esta pequena amostra de momentos já é por si só deslumbrante, imaginem como será para quem a viveu, como eu.



Frio

Tenho frio... Chego ao centro do labirinto e sento-me no chão. O vento está forte e faz com que o meu cabelo me tape os olhos. É com dificuldade que olho à minha volta e tento encontrar o caminho de volta, mas duvido que assim o vá encontrar. Tento vislumbrar qual a estrada por onde vim, mas parece-me tão difícil saber qual é... É que apenas me deixei caminhar até aqui, seguindo o meu instinto. Por mais que queira, não sei como voltar para trás. Deixo-me cair de encontro ao chão e olho o céu lá em cima. Desisto, desisto de tentar voltar para trás. O que me faz falta é saber como seguir em frente... Mas, como é que vim parar aqui?
Tenho frio... Precisava de me guiar por algum lado, mas o meu sentido de orientação é péssimo, como sempre foi. Perco-me uma vez mais, agora nos meus pensamentos. Porque é que todos vão dar ao mesmo sítio? Percebo que é lá onde vão ter o sítio onde eu gostava de estar, mas é impossível que lá chegue se nem sei como até aqui vim... É, aquele momento onde vejo a minha calma e quietude é impossível de alcançar e não sou ninguém para lutar contra isso. Vim até aqui a tentar e tentei, com toda a minha força e determinação. Tentei correr sobre as barreiras e saltar com todo o meu empenho, só que não consegui... Dei por mim a tropeçar numas atrás das outras até que vim aqui parar, ao nada. Depois de ter saltado todas as barreiras, cheguei ao vazio. E não encontro nenhum caminho que saia do vazio e me leve até onde quero ir... Afinal, como vim aqui parar? Afinal, onde me levas tu?
Tenho frio... Corri apenas atrás das minhas convicções, atrás daquilo por que queria correr. Agora não tenho forças. Perdi a vontade de voltar a levantar-me e continuar no caminho, por onde quer que ele fosse. Não sei como aqui vim parar, não sei para onde é suposto que vá. Apenas segui, segui em frente, saltei, corri, dei tudo de mim por aqui chegar. E agora? O que deveria ser este lugar? Por onde devo eu continuar? Aliás, devo continuar a tentar? Devo continuar a correr sem saber onde o caminho me leva?... Fecho os olhos e adormeço. Quando acordar talvez já esteja noutro lugar que não este e onde saiba o que é.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

asas são para voar

Vou ser sincera: estou cansada.
Já nem consigo ter domínio total sobre o meu corpo e deixo apenas que ele se afunde pela cadeira abaixo. Os meus pensamentos estão a perder-se vezes de mais e vejo-me algures noutro lugar que não este. As obras aqui ao lado causam ruído e mais ruído, barulho e dor de cabeça. Será que podia apenas desaparecer por uma hora? Tento por tudo lembrar-me de um refúgio aqui perto, um sítio para onde possa fugir e encontrar-me apenas porque sim. Ainda que aquele habitat que mais me cativa esteja aqui tão perto, não faria qualquer sentido visitá-lo. Não é o meu, ainda que seja da mesma natureza, com a mesma àgua límpida, não é o meu... E o meu, que agora está ainda mais longe...
Preciso das minhas asas, daquelas asas que me fazem voar num segundo para qualquer lugar, mas não as encontro. Parece que até elas me abandonaram hoje... Hoje, agora. Foram embora sabe-se lá para onde, desapareceram porque sim. Aqui, no meio de tanta gente, estou sozinha. Apenas sozinha e perdida num lugar que nem sei bem explicar onde é. É aqui, quem sabe onde que venha cá ter. Eu não sei das minhas asas e não posso fugir. Não sei das minhas asas da imaginação que me levam a qualquer lugar. Não sei... Porque é que elas foram embora? Agora queria gritar. Ir para acolá e gritar, gritar porque me apetece e porque nada tenho que dizer. Gritar, porque sim.
Estou cansada e preciso de voar, mesmo, muito. Só queria era ter as minhas asas de volta, agora.

domingo, 8 de novembro de 2009

diferença.

Não sei que te diga ou que escreva. Nem sequer sei que te pense. Nada me apetece senão o tudo que não sei o que é e por isso nem sequer posso pedir. Não posso pedi-lo porque não posso fazê-lo, porque não tenho esse direito e porque seria uma inutilidade. Olho pela janela e vejo o reflexo destas luzes sob as quais escrevo. Queria procurar-te no céu, mas aqui vai ser complicado. Sei que lá estás, sempre, nem que seja para que eu te veja. Não és a minha estrelinha protectora, mas sim aquela luz lá no alto a quem falo continuamente e que quero proteger acima de tudo.
Aqui vai uma confusão e acho que me enquadro no sistema: as pessoas passam para lá e para cá, com conversas trocadas. No meio há sempre um momento de descontração que ninguém sabe bem de onde vem. Agora acho que vou vestir o casaco e palmilhar até à entrada. Já conheço o caminho sem nunca me enganar e sei que lá fora vou poder ver-te. Não valerá a pena o arrepio na espinha do frio?
Não sei que te diga, que te escreva, que te pense. Gostava de te ver agora. Apenas de te olhar, olhar para o mundo e para ti dentro dele. Gostava de ver o que espelha o teu rosto expressivo para saber o que te dizer, o que te escrever e o que de ti pensar. É isso, vou mesmo lá fora. Ainda que não seja a tua cara é a tua paz de espírito que está à minha espera e só isso já faz toda a diferença. Sabes, tu és a diferença.