quarta-feira, 28 de outubro de 2009

É amor, sabes?

Chego a casa e estou cansada, pesam-me os olhos. À minha volta estão todos os meus objectos habituais, tudo aquilo que deixo em cima da secreária ao acaso. Perco-me a olhar para o amontoado de coisas e vejo que, sendo elas as mesmas coisas banais de sempre, me lembram de ti. Quer dizer, haverá algo que não me lembre de ti? Não é obcessão, não é paixão. É amor, sabes? Mas um amor diferente, o amor mais especial e nobre que alguma vez encontrei. É amor de amizade, amor que nunca trai ainda que por vezes tenha de fazer doer. Sinto amor por ti, amor de uma amizade que não tem igual pela forma de como cresceu e se cimentou. Porque já está mais do que certo que será para sempre, num daqueles sempres onde não existe fim.
Lembro-me de ti ao olhar para uma simples moldura. Lá sei que poderiam estar presentes todos os bocadinhos que já passei contigo. Qualquer um, sem excepção. Sempre foram ricos, cheios de vivacidade e confiança. Mas que é de ti agora? Que é dessa tua força incrível de seguir em frente? Dessa tua palavra forte, por mais baixa que fosse dita? Não sei onde andas... Tenho ideias, pequenos pensamentos sobre onde poderás estar a cada hora do dia, mas não sei, nunca sei... Lembro-me de ti, lembro-me muito de ti. Sei que estás longe, quando o que mais queria era ter-te perto. Não é obcessão, não é paixão. É amor, sabes?
"Mas a verdadeira amizade, do tipo mais puro, nasce do amor. Nunca morre, nunca perde o brilho. Continua mesmo para lá da morte." - Nunca me esqueças, Lesley Pearse

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

tenho de andar de saltos altos?

Estava a regressar a casa no comboio quando me espantei com o mundo (fique contente, professor). Dei por mim a ouvir um barulho que sempre ouvi, que sempre lá tinha estado, mas que nunca associei. Era aquele "tloc, tloc, tloc" inconfundível que, no momento, percebi serem as senhoras a movimentar-se com os seus sapatos de saltos altos. Saio do comboio e vou até à escada rolante com extrema agilidade. Olho para aqueles que ainda caminhavam sobre a plataforma e espanto-me uma vez mais (de novo contente, professor): para trás começam a ficar mulheres, infinitamente carregadas, todas elas com um "tloc, tloc, tloc" que as persegue. Não me parecem ter nada a mais que eu senão esse mesmo "tloc, tloc, tloc". Então porque é que não chegam tão rapidamente à escada quanto eu? Dei por mim a olhar para jornalistas de desporto, mulheres, e espantei-me (mais uma vez, professor). Todas elas caminhavam com um "tloc, tloc, tloc" apressado, quer levassem tripés às costas, quer não. Olhei para tal situação durante alguns minutos e perguntei-me: será que para eu poder ser jornalista também tenho de andar com um "tloc, tloc, tloc"?
Lembro-me de uma vez ter tentado fazê-lo. Armei-me em espertinha e toca de fazer "tloc, tloc, tloc" para a faculdade ainda para mais num dia em que teria de trabalhar afincadamente. Carreguei tripés às costas, câmaras, coloquei tudo a postos, sempre no "tloc, tloc, tloc". Resultado: ao fim de hora e meia desejava caminhar silenciosamente de novo. Lembro-me de outra vez ter tentado fazê-lo. Fui até ao local da reportagem e não havia lugar para estacionar, portanto tive de deixar o carro muito longe do sítio onde se desenrolava a acção e lá foi "tloc, tloc, tloc" a subir e a descer. Resultado: quando cheguei aonde deveria estar desejava caminhar silenciosamente de novo. Duas vezes, duas singelas vezes que me fizeram com que não repetisse a experiência. Mas, depois de hoje me ter espantado continuamente, deverei eu voltar a insistir no "tloc, tloc, tloc"?
Reparei numa senhora que, por me ter distraído com um jornal, conseguia caminhar à minha frente no seu "tloc, tloc, tloc". Contudo, passados cinco segundos já ia a tapar-me o caminho. Decidi então levar um passo mais lento e reparei que a passada da senhora não era firme. Pelo contrário, era desengonçada e cansada. Imaginei-lhe uma cara de sofrimento enquanto eu, no meu caminhar que levitava, até sorria para o ar. Mas ela lá continuava, "tloc, tloc, tloc". Pouco depois perdi a paciência. O barulho daquelas botas no chão começava a martelar na minha cabeça e lembrei-me que, segundo o que vi, para ser jornalista, também eu tenho de martelar a cabeça das pessoas. Coloquei um pé fora do passeio e ultrapassei a senhora, desconcertada com aquela ideia. Chegada ao carro olho para trás, por cima do ombro. Lá ao fundo ainda vem a senhora com o seu "tloc, tloc, tloc", mas agora também ela atrás de outra senhora igualmente "tloc, tloc, tloc". Será que se aparecesse mais uma mulher faria fila? Fiquei a espantar-me (a última vez para ficar contente, professor) com a maneira de como caminhavam: achei que poderiam cair a qualquer momento.
Deixem-me ser sincera: quero ser jornalista, mas não quero ser "tloc, tloc, tloc". Eu, nas minhas simples botinhas pretas, sem adornos e lantejoulas, sou capaz de caminhar melhor que umas "tloc, tloc, tloc". Posso não ter metade do brilho, mas tenho uma passada firme e decidida, que segue sempre o seu caminho sem hesitar, rumo a um objectivo. Levo tripés, levo câmaras. Levo um simples microfone e um gravador, ou até mesmo só um bloco de notas. Levo o que for preciso, mas não levo o "tloc, tloc, tloc". Caminho apenas porque me decido a caminhar, sem nunca ficar desengonçada. Ainda que possam não ter tanto adorno que chame à atenção, as minhas botinhas pretas levam-me aos mesmos caminhos onde umas "tloc, tloc, tloc" levam quem as usar. Eu apenas chego mais depressa e de uma forma mais convicta. Ainda precisarei de ouvir um "tloc, tloc, tloc" para ser jornalista?
(Menos quando caio nas escadas da estação porque chove...)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

não querer desejar

O dia está cinzento lá fora e a chuva ameaça cair. Encolho-me do frio e esforço-me por reprimir o desejo de ir para a cama com tanto que tenho para fazer. Mas talvez não seja só isso... Talvez haja mais alguma coisa que me faça ter força para não dormir: tenho medo de sonhar. Fechar os olhos e desligar do mundo significa ir para fora daqui. Viajar até um sítio do imaginário que muito traz, mas que pode nem sempre ser bom... Mas não, não é dos pesadelos que tenho medo. O meu receio é sonhar com algo bom demais para que possa, um dia, ser verdade aos meus olhos abertos. Não quero ver coisas que não existem e ficar a ansiá-las. Não quero sonhar mais. Queria dormir apenas e, depois de levantar voo da minha cama, ver somente o mesmo dia cinzento que está lá fora e sentir o mesmo frio que agora sinto. Contudo, não é assim tão fácil...
Um sonho é exteriorização dos nossos medos ou dos nossos desejos mais profundos. Para mim o problema está em não querer desejar mais do que aquilo que tenho... Na verdade, sempre fui ambiciosa em todos os aspectos de mim, mas não quero ambicionar num sonho. Não quero querer mais do que o que já há, apenas porque quando abrir os olhos estará tudo igual ao que deixei quando adormeci. Porque é que existe uma necessidade de mais? Porque é que existem os nossos desejos mais profundos? Ver o que lá no fundo gostávamos de ter em nós é embaraçoso. Deixa vergonha sobre o meu rosto, sobre mim mesma. Afinal de contas, sempre fui apologista de que nos devemos contentar com o caminho que a vida nos dá... Então, porque é que hei-de adormecer e querer mais?
Tenho medo. Tenho medo de adormecer enquanto chove. Tenho medo de depois acordar enquanto anseio que a minha campainha toque e esteja um dia solarengo. Para que depois eu vá até à varanda ainda com o corpo pesado e dê conta que, como eu lá no pedacinho mais escondidinho de mim queria, me vieste visitar, sempre a sorrir.

domingo, 18 de outubro de 2009

asas

Mas que é de mim afinal? Muito não faz sentido na minha mente, nem sei bem o que quero... Aliás, gostava de ter asas e voar, voar por aí sem rumo. Parece que aqui tudo é complicado, tudo é mais difícil do que aquilo que inicialmente se supõe...
Chega aquela parte em que tudo se desmorona, em que não se consegue ver a seguinte fase de uma forma risonha e feliz. O inconstante é o mais coerente, o olhar pesado mantém-se e a leviandade começa a ficar cada vez mais cheia de pormenores insignificantes... E tu, e todos, por onde andarão? Onde se foram colocar aqueles pilares que me mantinham incólume? Onde está a razão que me fazia acreditar que era possível sorrir por muito tempo e sempre com vontade?
Não quero encarar o momento de que mais tenho medo, não quero fraquejar... Não quero parecer uma florzinha que pode ser espezinhada quando afinal sempre o fui. Tenho medo, muito medo de ouvir palavras que não quero ouvir. Medo de assimiliar ideias e decisões que não quero tornar reais. Não quero fraquejar, não quero cair. Não quero!
Desabo enconstada à parede e acabo no chão, onde encontro a estupidez e a desilusão comigo mesma... Soluço atrás de soluço, tudo queima o meu rosto quando por ele desce... Não aguentei mais. Porque é que consigo sempre questionar o mundo?

"Mas só quando quiseres pousar na paixão que te roer, é o amor que vês nascer sem prazo e idade de acabar. Não há leis para te prender, aconteça o que acontecer. Não vejo leis para te prender, aconteça o que acontecer."

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a mensagem do coração

Parece que não deu mais. O meu nó na garganta começou a formar-se, as imagens que os meus olhos viam ficaram distorcidas, e, quando fechei as pálpebras, uma gota de àgua caiu. Quente e dorida, escorre agora pela minha cara abaixo. Mas o que é que se passa comigo? Gostava de poder ir até à minha janela e saltar para o ar. Subir alto no céu e sentar-me numa nuvem para lá ficar até me apetecer, até deixar de ter forças para largar mais lágrimas.
É horrível como quero dizer tudo mas não consigo dizer nada. Tenho mil e um pensamentos dentro de mim e não sei se algum deles fará sentido. Porque é que existem momentos tão cruéis? Não encontro explicação nenhuma que possa ditar as razões pelas quais sinto esta amargura senão o meu egoísmo e a cobardia. Parecem aqueles anos em que sempre tive o meu João Pestana para dormir comigo e lhe tinha um enorme amor, mesmo quando estava em farrapos. Até que um dia ele desapareceu, alguém o levou e nunca mais consegui encontrá-lo... Sempre fui egoísta por o querer junto de mim, por ser apenas eu a cuidar dele e a dar-lhe o meu mimo. Também fui, e ainda sou, cobarde, por tê-lo deixado ir embora e agora não conseguir dizer-lhe o quanto tenho saudades dele e o quanto me custa a sua ausência. Será que é isto que se passa comigo hoje?
Continuam a rolar, cheias de calor, as gotas que saem pelos meus olhos vindas directas do coração. Já me dói muito o aperto na garganta. Afinal de contas, devo merecer isto. Devo merecer a angústia sem explicação coerente, o sofrer na sua forma mais abstracta e sentida. Ninguém me mandou ser egoísta e cobarde... Se mo tivessem mandando, eu não o seria, provavelmente. Gostava que fosse tudo mais fácil de explicar e de dizer... Mas não consigo. Não vale a pena perguntar o porquê, não tem definição possível. Apenas não consigo andar mais a sorrir por aí como se aos meus olhos o mundo estivesse colorido. É que não está.
Fecho os olhos e tento ouvir o meu coração. Até ele é mau comigo. Decifro a sua mensagem, ele deverá ter razão: quem te manda saber sentir demais e ter saudades disso?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

complicar demais

Dias e dias passaram... Mais de mil e um pensamentos voaram dentro de mim e há muito que procuro a conclusão de nem sei bem o quê. Está difícil encontrá-la. Aliás, será que a quero mesmo?
A cada dia percebo que somos todos complicados demais, mesmo todos. Até aqueles que sorriem sempre e dizem que é impossível nunca estar tudo bem. Todos somos complicados mesmo na nossa simplicidade. A partir do momento em que passamos tempo apenas a pensar, criamos histórias dentro da nossa cabeça, contos que queremos insistentemente que sejam reais. Ao passo em que também questionamos atitudes e vontades que temos ou queremos ter. Enfim, só o facto de escrever toda esta atabalhoação já demonstra que eu mesma sou complicada demais. Não?
Às vezes tenho saudades de quando era criança. Quer dizer, quais eram as minhas preocupações? Chorava se não tinha uma bola de futebol? Pouco, muito pouco comparado com o agora... Na verdade, todos temos uma criança dentro de nós, é certo, mas é uma criança crescida. Às vezes tenho vontade de ser tão pequenina para fazer o que me fez hoje a Mariana: veio visitar-me logo pela manhã, mas como eu ainda dormia, rabiscou umas letras dispersas numa folha de papel, acompanhadas por um simples boneco, sendo que o mais evidenciado nele são os dedos enormes, até maiores do que as pernas que ela desenhou. E colocou-o ao pé de mim, pô-lo ali ao lado da minha almofada para que, assim que eu acordasse, desse de caras com aquela obra... Foi o que aconteceu.
Acordei a sorrir perante a simplicidade. Perante um gesto pequeno para muitos, mas enorme para mim. É que quando ela me viu sorrir perante o seu desenho, devolveu-me um sorriso ainda maior que o meu.  Naquele momento, eu soube que aquela menina gosta imenso de mim. De facto, basta que descompliquemos o complicado demais para que um simples desenho faça tudo valer a pena.