quarta-feira, 21 de outubro de 2009

não querer desejar

O dia está cinzento lá fora e a chuva ameaça cair. Encolho-me do frio e esforço-me por reprimir o desejo de ir para a cama com tanto que tenho para fazer. Mas talvez não seja só isso... Talvez haja mais alguma coisa que me faça ter força para não dormir: tenho medo de sonhar. Fechar os olhos e desligar do mundo significa ir para fora daqui. Viajar até um sítio do imaginário que muito traz, mas que pode nem sempre ser bom... Mas não, não é dos pesadelos que tenho medo. O meu receio é sonhar com algo bom demais para que possa, um dia, ser verdade aos meus olhos abertos. Não quero ver coisas que não existem e ficar a ansiá-las. Não quero sonhar mais. Queria dormir apenas e, depois de levantar voo da minha cama, ver somente o mesmo dia cinzento que está lá fora e sentir o mesmo frio que agora sinto. Contudo, não é assim tão fácil...
Um sonho é exteriorização dos nossos medos ou dos nossos desejos mais profundos. Para mim o problema está em não querer desejar mais do que aquilo que tenho... Na verdade, sempre fui ambiciosa em todos os aspectos de mim, mas não quero ambicionar num sonho. Não quero querer mais do que o que já há, apenas porque quando abrir os olhos estará tudo igual ao que deixei quando adormeci. Porque é que existe uma necessidade de mais? Porque é que existem os nossos desejos mais profundos? Ver o que lá no fundo gostávamos de ter em nós é embaraçoso. Deixa vergonha sobre o meu rosto, sobre mim mesma. Afinal de contas, sempre fui apologista de que nos devemos contentar com o caminho que a vida nos dá... Então, porque é que hei-de adormecer e querer mais?
Tenho medo. Tenho medo de adormecer enquanto chove. Tenho medo de depois acordar enquanto anseio que a minha campainha toque e esteja um dia solarengo. Para que depois eu vá até à varanda ainda com o corpo pesado e dê conta que, como eu lá no pedacinho mais escondidinho de mim queria, me vieste visitar, sempre a sorrir.

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