sábado, 31 de janeiro de 2009

Uma vez mais aquelas sensações que já conheço: a traição e a mágoa. Culpa? Sou deveras confiança e felicidade. Não há quem não consiga trazer a ilusão e a efemeridade. Será assim tão difícil prosperar o que devia ser correcto?
Tenho saudades de ser criança. Naquela altura nada doia senão um arranhão no joelho quando caia a jogar à bola. Agora, ainda que a ferida não seja visível, traz tanta dor que preferia arranha-me pelo corpo todo. Infelizmente, a inocência não se reconquista, já passou... Quem sabe se um dia não encontrarei cumplicidade no mundo por esta forma saudosista daquelas tardes de futebol? É que afinal, não doiam nada.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

doce ilusão

Levantei-me pela manhã e quis que hoje fosse um dia diferente. O tempo continua meio cinzento mas a minha rotina está encaminhada. Vejo os carros passar pela janela e nem me dou conta do caminho que levo. O meu pensamento está perdido e não sei como ir buscá-lo.
Começo a perceber que nem tudo é assim tão fácil, infelizmente a vida não é como pensamos que vai ser naquele dia em que nos chamaram "a princesa". Relembro pessoas que por um motivo ou outro estiveram tão perto e agora estão longe. Tenho saudades. Saudades de doces ilusões com sabor a Chupa Chups de Morango.
Houve um dia em que acordei e me senti mais feliz do que nunca. No dia seguinte, o meu mundo desmoronou-se. Houve um dia em que acordei e soube que ia ter aqueles amigos para sempre. No dia seguinte, não tinham ido embora. Houve um dia em que acordei e sorri, segui o meu caminho com a felicidade espelhada no rosto. No dia seguinte escondi-me o mais que pude por detrás da roupa.
Lá fora começa a cair aquela chuva molha-tolos, mas nada hoje estragaria o que quer fosse. Reparo que em pequenos pormenores da simplicidade de uma vida, me recordo de muito. Ainda que sejam apenas isso, lembranças, é bom ter de volta aquele sabor inconfundível do morango... O aperto da saudade é incontrolável. Decido fechar os olhos e entregar-me, navegar por momentos em que tudo era uma infância inocente, em que todas as pessoas eram únicas, em que todos os sonhos eram reais. Passeio.
Volto a mim e continuo um caminho. A vida não pára, um dia todos acabaremos por crescer... Será que algumas pessoas também darão conta disso? Reflexões. Eu, sozinha no meu caminho, sei que terei sempre a minha doce ilusão. Basta-me que feche os olhos, que sinta aquele sabor, que me saiba criança, e depressa terei a sensação de que todos estarão sempre aqui. Até um dia!, um dia em que acorde e dê conta que hoje, que hoje quero que seja novamente um dia diferente.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

o Fim.

Chegou a tua hora: pega em tudo e sai daqui. Não quero que deixes uma única recordação, seja ela qual for. Quero que te apagues, que vás porta fora e esperes lá em baixo, que tudo o que teu é lá irá ter pela janela.
Sai, sai daqui e não voltes para trás. Não tentes sequer tocar à campainha porque não vou ouvi-la. Chega, basta das intromissões inúteis que fazes, basta de tudo o que te inclua numa ideia. Vai e não voltes.
Apaga tudo aquilo que marcaste, sem deixares um tempo, uma memória. Apaga tudo permanentemente porque não me faz mais sentido. Uma vez que seja reage!, toma uma atitude. Faz o que te mando e parte para onde quer que seja, desde que não aqui.
Cansei-me de ti. Da tua estupidez, da tua inércia. Da tua falta de reacção, mesmo que o mundo desabe. Para que serves? Criar ilusões. Rápido, segue o teu caminho para longe do meu. Respeita a minha vontade uma vez que seja, dá dois minutos de atenção ao que quero: vai-te embora, de uma vez ...
Má?, eu? Acordei, revi a minha ideologia, os meus quereres. Bastou para que descobrisse: nada daquilo que afirmaste é verdade, nada do que transpareceste um dia teve sentido. Agora, fartei-me de futilidades, fartei-me de ti. Tentativas? Inúmeras, todas em vão. Esperança?, acabou. Tu, aí, vai-te embora.
Arruma as tuas coisas até ao último canto, até ao último grão de pó. Junta-as e sai daqui, vai-te embora, leva-te de mim com tudo o que tenhas trazido. Chegou a tua hora, aqui tens o veredicto: segue o teu caminho, chegou o teu fim.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Amiga

As pessoas chegam, porque sim. Vêm na sua forma simples, sabem se se querem dar ou não. Só nos cabe recebê-las, ou mandá-las embora. Por defeito, recebo-as sempre. Lembro-me de cada uma, da primeira à última, de como me escondi para depois me mostrar. Daquela, que foi embora, da outra, que ficou. De todas, ainda que não lhes tenha uma palavra sabida há tempos. Recordo momentos, maus, bons, momentos em que tive ajuda, em que ajudei. Momentos em que fui outrora criança e me ensinaram a jogar a bola, momentos em que agora sou maior e não sei reagir de outra forma que não com a mesma ingenuidade. Sei de quando me senti traída, desiludida. Mas sei essencialmente de quando me sinto em pleno. Sei que cada lágrima minha toca um coração que a recebe, ainda que a guarde ou deite fora. Nada, nada é em vão. Tenho saudades daqueles que ainda aqui tão perto, estão longe. Saudade dos outros que tanto me fizeram crescer. Saudades daqueles que imensos dias comigo partilharam, saudades daqueles que agora chegam, mas ficam. Não sei o que é ser meu amigo, mas sei o que é ser amiga dos outros. Sei que os preciso, que os estimo, que os gosto, que me são essenciais. Sei daqueles, de todos, que por um motivo ou outro, acabaram por deixar algo seu em mim. Esses, tão esses, tão de mim.Não agradeço a ninguém senão a mim mesma, por um dia ter sido ingénua e capaz de os receber para os guardar. Obrigada à minha inocência, à minha ilusão credibilizada. Obrigada a mim, por um dia, grande dia, ter decidido que iria ser uma, eu, a amiga.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Arte

Mil e uma voltas à cabeça, somente uma conclusão: a arte do sentir é ingrata. Vangloriam-se uns de que essa arte nada lhes diz, outros arrependem-se de que a mesma lhes seja totalmente inata. É assim, sem escolhas. Enquanto que há quem aprenda desde sempre a não conhecer o outro, há também quem não consiga viver sem o mesmo. Estranho, não? Se se cruzam as dualidades, como será que acaba a história? Rápido, fácil, simples e eficaz.
Quando naquele dia decidiste vir até aqui, tanto eu como tu sabiamos o que nos esperava. A minha pessoa, quieta, sublime, sentia cada respiração tua como a força envolvente da vontade, transpirada de sentires puros, que apenas terias dentro de ti. Tu, inexpressivo, de olhar profundo, nem sei que te chamar. Toda aquela nuance que parecia ser verdade, afinal são representações cruéis de quem não conhece a arte. E agora, que culpa tenho eu que sejas desse jeito inculto, sem preocupações, sem vontades que ultrapassem a futilidade? Porque sim, fútil, é o que existe dentro de ti.
Não quero ser-te superior, mas tenho tanta convicção de que isso é verdade. Afinal tenho vontades e ambições, tenho gostos, conheço paixões... Tu, o que tens? Nada, apenas o nada que dentro de um todo tudo engloba, de uma forma simples e directa. O que tens? Nada, senão a ingratidão. Certamente que sei que nunca mo pediste, mas fizeste tanto que o mereceste. Agora, joga-lo assim fora, como se nada te fosse. Aliás, nada te é. Haverá alguém capaz, um dia, de puxar algo daí de dentro? De colocar um pouco de arte na pessoa que dizes ser?
Não sei que veja quando me vens ao pensamento. Acabo por imaginar-te em palco, diante de toda uma plateia ansiosa em ver-te. O que fazes, é simples. Finges com toda a tua alma, com toda a tua arte! Esta sim, é a tua arte. A única que tens e consegues respirar: o fingimento. Representas como os actores mais famosos que possam existir, de uma forma apenas tua e que consegue cativar todo o público, arrancando-lhes uma brilhante salva de palmas no final. Parabéns, uma vez mais, conseguiste! Não te sentes agora aquilo a que alguém com a minha arte chamaria de feliz? Bem, nem que tente explicar-te, não o entenderias, não é? Mas sabes, tenho uma má notícia para ti. Há sempre um dia em que o pano cai e o que acontece a seguir não é o normal. Há sempre um dia em que apenas uma pessoa vai ver o teu espectáculo, porque as outras já se cansaram de um texto igual. Há sempre um dia em que deixas de convencer, porque te gastaste com tanto fingir. Há sempre um dia em que a tua arte deixa de existir e passas a ser um nada, vazio, uma vez mais. Haverá um dia em que talvez a minha arte deixe de fazer sentido contigo, porque não a mereces.
No dia em que deixar cair o meu pano para o final da minha peça, a tua deixará de ter razão para existir. No dia em que eu fechar as cortinas, também tu verás aquilo que tentas esconder. A minha peça acabou, porque eu decidi pôr um fim na minha arte contigo. A tua, acabará porque a esgotaste, porque até essa tua arte tão nobre do fingir te deixou, como todas as outras artes que por tua livre e espontânea vontade não quiseste conhecer, nem deixaste que te abraçassem. Lembraste de quando no meu alter-ego me achei melhor que tu? Lá no fundo, todos os dias, pensas nisso e sabes que é verdade. A arte do sentir pode ser ingrata, mas é mil e uma vezes melhor e mais pura que a triste arte do fingir. Triste arte do fingir. Triste, porque até existindo, toda ela não passa de uma reles mentira.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Esquecida

Uma flor sozinha no meio de um campo. Abanando-se com o vento, para lá e para cá, num vai vem de vontades e quereres, sem nada à sua volta. A luz do sol aquece uma alma, mas a sua altivez nem sempre se conserva. Ali quieta, aquela flor tem falta de vontade de viver.
No outro dia, uma menina correu a visitá-la e para espanto seu, não a arrancou do chão. Deixou-se por ali ficar à sua volta, cantando deliciada com as suas cores amarelas e laranjas. Nesse momento, a flor sentiu-se altiva, querida, uma vez que fosse. Agora, de novo ali sozinha, pergunta-se se valerá a pena procurar pelo mais. Aliás, será que existe um mais? Quando cresceu naquele lugar, lembra-se de haverem amigas suas por perto, com quem falava e ria, disfrutando a brisa do vento. Todas foram colhidas e levadas por um senhor grande, sabe-se lá para onde, mas ela ficou ali, a única. Admirou-se de não ter sido pisada sequer. Foi somente... esquecida.
Desde aí que se pergunta se alguém voltará um dia para a colher, para a pisar, para a ver. Tem a certeza de que ninguém virá, seja para o que for... Porquê alguém importar-se apenas consigo? Fica-se pelas suas ambições, pelos seus sonhos de conhecer outro lugar como as suas amigas, onde serão apenas isso: ilusões recheadas de vontades diferentes. A verdade, tem-na consigo: nunca passará da flor perdida naquele campo, deixada para trás ainda jovem, naquele dia. Quem sabe não apareça de novo aquela ou outra menina que brinque um pouco consigo e depois parta, livre...