quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

sabes?

Sabes, a vida tem mesmo a capacidade de nos surpreender. De nos dar tudo quando achamos não merecer mais nada, de nos pôr molas debaixo dos pés que nos fazem saltar para tocar nas nuvens e provar o seu sabor. A vida é capaz de nos mostrar o quão pode ser imprevisível e doce, todos os dias. Que os momentos mais difíceis são e serão sempre suplantados por outros tão mais fortes, tão mais verdadeiros.
Sabes, acho que os momentos em que não nos sentimos nós são apenas a preparação efémera de que precisamos para aproveitar o que importa. O estímulo desconfortável para que possamos ser capazes de dar valor ao que é genuíno e imperfeitamente perfeito. São precisos os momentos em que desabo, a magnitude de sentires horríveis que me dão. Tenho a convicção de que, depois desses mesmos momentos, vem a recordação de ti, do que és, do que constróis, do que dás e do que me fazes querer oferecer. Da magnitude do bom que fazes despoletar em mim e me mostra que, todos os dias, é importante viver.
Sabes, não faço ideia do caminho da vida... nunca farei. Mas tenho aprendido com ela, sempre que posso, sempre que ela mo deixa. Sei, por isso, que o meu coração te enaltece, uma e outra vez, com alma e com razão. Com sentido, que só existe porque é inconsciente. Tal como tu, que não tens motivo nem conhecimento, apenas certezas inconstantes de que o caminho será sempre o certo, enquanto o fores trilhando.
Sabes, posso dizer tudo que nada passará de palavras escritas, umas atrás das outras, a procurar ser reais. Nunca conseguirei dar-lhes valor, mas ainda assim teimo e tento, repetidamente, expressar-te a ti mesmo. Para que te valorizes, para que acredites mas, sobretudo, para que nunca tenhas a mais pequena dúvida de que aquilo que não sabemos dizer, escrever e até pensar, é sempre mais verdadeiro do que tudo o que possamos dizer.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Vocês.

Sorriu. Sentiu as lágrimas que se avolumavam naquela caixinha entreaberta, mesmo ali, atrás dos olhos. Mirou o infinito e então falou:

São pessoas altruístas. O outro está sempre em primeiro lugar e fazer mais pelos outros é algo que não conseguem controlar. Esquecem-se muitas vezes deles mesmos. Não se importam com o cansaço, nem com coisas negativas que possam vir a sentir, enquanto o outro precisa deles. E o outro precisa sempre deles, porque há vários outros... e a todos respondem com prontidão, vontade e empenho tal que não é possível não os invejar.
Têm uma verdade absoluta lá contida, que transparece em cada partícula da atmosfera que os rodeia. Tudo lhes provém do coração. Confiam e entregam-se à pura arte do dar sem querer receber. São genuínos, como não há outros. 
Já viram o melhor e o pior de mim. Viram o pior de mim e mesmo assim permanecem. Não vão embora.

Sorriu de novo e respirou fundo, para que aquela gota que se esgueirou para o canto do olho não caísse. Foi assertiva consigo mesma, cimentando o seu pensamento: "Viram o pior de mim e mesmo assim permanecem". Isso tinha de lhe querer dizer alguma coisa. Tinha de ser a força para afastar as espirais descontroladas em que, muitas vezes, se colocava sem motivo. Não havia motivo, não podia haver motivo, não com estas pessoas. Continuou:

O caminho foi construído com uma transparência sem propósito. O caminho foi e continua a ser traçado de forma genuína, com o momento. 
É a verdade dos sentires, do conhecimento, dos saberes que partilhamos que está sempre inerente ao percurso que, a cada minuto, fazemos juntos.  Tem de ser assim, inconscientemente. Não porque o queremos, mas porque só assim o sabemos ser. 
Com verdade, com transparência, com amor. Com a permissão de sentir o que quer que seja, sem julgamentos.
São pessoas altruístas, sim. Verdadeiras, genuínas! Que ficam, todos os dias, onde quer que estejam.

Quando se calou, o seu pensamento divagou por segundos. Mais uma vez soube que lhes seria eternamente grata e que, por mais que tentasse, nunca saberia explicá-lo a ninguém. Afinal de contas, a pergunta tinha sido apenas:
Porque é que essas pessoas são tão especiais para ti?
E uma vez mais ficou muito longe de uma explicação que sabe que nunca conseguirá dar. As palavras não lhes fazem jus.

Os sons do coração são a mais bela melodia de amor que lhes poderei atribuir.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

pestanas

De todas as vezes. É preciso decorar-te os traços, ver-te as marcas. Saber-te de cor, para afastar a efemeridade das memórias. Cimentar-te a suavidade, as formas, a delicadeza. Agradecer-te a verdade. A conexão que criaste, tão nossa.
De todas as vezes. Existem pensamentos que não têm voz nem razão, que são apenas reflexos espelhados do coração. Há certezas indefinidas e seriedades sentidas até ao mais pequeno grão que paira no meio de nós.
De todas as vezes. Há a vontade de gritar para extravasar o que te sinto, na incapacidade de expressar com clareza o que será que é. De todas as vezes.
De todas as vezes és a maior dádiva que já conheci. A mais pura ingenuidade que alcança a perfeição com cada um dos seus defeitos.
De todas as vezes direi que te amo.
De todas as vezes... Isso nunca será suficiente.
Podes só ficar por aqui? De todas as vezes.
Para que cada fio das tuas pestanas possa ser beijado com a força do meu coração.