segunda-feira, 21 de junho de 2010

e tu?

Mas e tu?
Saberás o que é o amor? Saberás o que é a honestidade?
Mas e tu?
Aqui, solta, caminho por entre trilhos que não sei onde me levam. Sonhos em demasia reflectem sentimentos incomportáveis que ninguém poderá perceber. E então? Deverá a vida ser ignorada? Espera, não sei. Não sei onde vou, porque vou, onde quero ir. Ouves a melodia? É isso, é a energia, é a capacidade de seguir sem ter um rebuçado que nos adoce a boca. E com o seu suave encanto vem, chega, fica e não se deixa que vá embora.
Sabes aquela sensação de que temos de  sorrir, de rir mesmo com vontade da coisa mais inútil que exista, como uma mosca a esvoaçar à nossa volta? É como aquela flor ali pousada que transmite a paz e tudo o resto. O mundo encontrado nas coisas mais simples, como o lixo que se perde nas ruas movimentadas e que anda, que segue com o vento. Sabes, é isso, é esse querer.
Mas não, é o apressado, o buscar do encanto que teima em não se perceber. É o gostar de tudo, por mais que seja apenas um pacote de açucar vazio. Ou aquela taça de cereais suja que te esqueceste de levar para a cozinha. E as rosas, dentro de uma jarra cheia de pó. Secas, que te recordam como as tens e o que com elas aprendeste.
E aquele livro com folhas em branco, cheias de linhas para que lhes escrevas, mas não sabes o que lhes escrever. Como a atitude que se tem, de mágoa que fala mais alto que a nossa essência e nos faz inúteis, sem função certa perante o caminho. E depois lembra-se disso, só disso, como a monotonia, e não de tudo aquilo que te fez apaixonar.
As conversas de outrora que te fizeram aprender e descobrir, seguir mais além. O 'nunca' que disseste com tanta certeza, mas com mais certeza ainda o refutaste, porque achaste valer a pena. Mas e tu?
Não estarás agora a seguir no teu carro rumo a um lugar oposto a este, onde achei ver a tua segurança e capacidade de expressão? Não, vais embora, vais para longe, sem que mo digas e mo expliques porquê. Estou a norte, e rumas ao sul. Porque não mo dizes? Porque não me mostras simplesmente que é isso que queres? Ou que não sabes se queres, mas que te persegue, como a solidão desafogueada em que te colocas.
Sabes, são aquelas memórias antigas, aquelas coisas escritas que lês em pensamentos, que te fazem mal. São elas que te levam a caminhar sem sair do mesmo círculo, como a chuva que cai apenas sobre o teu telhado. Porque não as ultrapassas? Porque não as apagas e segues de uma vez só? Não sei... às vezes, por muito que custe, é preciso dar o salto. É preciso deixar que morra a cobardia e que avancemos no mundo, para que o mundo avance connosco. Mas eu não sou capaz, eu não consigo fazer com que te mexas comigo se não o queres. Estendi a minha pessoa para te guiar, mas deixaste-me quieta, no mesmo sítio. E agora? Agora nada.
Porque eu vejo a flor. Continuo a ver as páginas com linhas em branco e sei que poderia levar-te na roda viva mais incoerente da tua vida. Mas andarias, serias capaz de caminhar em frente ou de querer ter sempre uma coisa que te movesse. Sabes, essa capacidade de ficar sozinho não é saudável. Não é justa. Náo é justa! Deixa-te de cobardias, deixa-te de te contentar com as coisas mais simples. Agarra nas coisas, agarra nas pedras do chão e manda-as contra a parede. Deixa de ter um ar passivo, deixa de ver o mundo rolar, corre por aí. Percebes, agarra na minha mão e puxa-me, leva-me a correr por um lado qualquer, nem que seja de encontro ao céu. Anda, define-te, define o teu rumo e aquilo que queres para ti. Leva-me nessa aventura, deixa-me que te leve até ao caminho que tens de seguir e se eu tiver de vir embora, eu venho... mas mexe-te, por favor. Não te contentes com a banalidade do mundo. Extravasa o teu querer, mostra a tua personalidade, brinda as pessoas com a tua garra. Sei que tens tudo aí dentro, que apenas te basta deitar cá para fora e gritar, ser, viver.
Salta, anda daí. Mexe-te. Vai de encontro ao céu. Bate com a cabeça. Mas anda, ganha movimento, ganha cor. Dói ver-te na prisão da neve fria quando ficas bem melhor debaixo do sol que esfria a alma, por mais quente que possa queimar a pele.
Eu sei que és capaz. E tu?
Saberás o que é o amor? Saberás o que é a honestidade?

domingo, 20 de junho de 2010

mas que

Mas que não é medo, que não é nada. Que é tudo, sendo coisa nenhuma. Parecem-me fragmentos soltos de alma, que não é minha, que não é tua.
Que não é amor, que não é paixão. Que ao roubar me leva o coração, que ao voltar me deixa caída numa rede  inquieta.
Que tudo é, nada sendo. Que não faz de mim um corpo tremendo, que rejubila quando te vê olhar. Que apenas te saiba a sal o que não sabes saber, e que tudo o resto seja o açucar compactado num quadrado.
Mas não é nada, porque não tem o tudo lá dentro. É apenas o que não é sendo, porque mais perdida já não posso estar.
Seriam palavras soltas, sem sofrimento. Seria o fim, se tivesse de ser. Mas que lhe falta a honestidade completa, a purificação que quero merecer.
Mas que não lá chego, que já lá estou, que em lugar algum te encontro mais do que este. Que mais te diga sem que o saibas, apenas nada senão o que se sente.
Mas valerá a pena?, valerá ainda querer o sabor a bom. O sabor inconfundível de tudo o que nada é, porque nada tem que se lhe diga.
Depois é quando se cai, quando se mostra a faceta errada, quando quietos nos partimos em pedaços e se mostram angústias encarceradas.
Que nada é, sendo tudo. Que no tudo se saiba não ser nada, que se saiba querer o mar e ter somente a areia. Que lhe falte tudo o que nunca irá chegar, que chegue o que nunca será possível vir.
Que lá no fundo, no teu mar, saibas que sou o sol, que teimas em extinguir.