quarta-feira, 30 de julho de 2008

Tarde.

Recordações. O que foi mau já esqueci, o que foi bom, é permanente. Lembro-me de tudo de vez em quando, inconscientemente. Lembro-me do meu sorriso, da minha necessidade de viver. Lembro-me de uma tarde fatídica, muito feliz. Das promessas consumadas por cada lágrima, pelo sofrimento emanado por caras horrendas, expressões de dor. Soube que nunca iria esquecê-la e agora, passado já este tempo, tenho-a aqui presente, como se tivesse sido hoje. Toda a sinceridade que veio ao de cima, todos aqueles abraços apertados e palavras eternas. Um dia teria de vivê-la, passar por ela. E, tal como queria, foi melhor do que o que imaginava. A dor consumiu toda a minha pele, cada pedaço de mim. Os momentos bons ficaram presos na minha memória, cada vez mais enraizados ao passar de um segundo. Teve de ser. Agora, tenho na minha presença aquela cara, aqueles olhos húmidos e únicos, aquelas mãos que me acariciavam, aqueles braços que me apertavam contra o seu peito. As palavras ditas ao ouvido, as vontades de um futuro. Tudo, o beicinho apertado e querido, a tristeza que emanava de duas almas. Futuro prometido, depende de nós. O que foi bom traz-me este sorriso, ambição de continuar. Foi a pior tarde da minha vida. E também a que me trouxe mais felicidade.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O medo de ter medo.

Existem seres com os quais nos preocupamos. Que estimamos e acarinhamos mais que tudo, que nos são especiais e fundamentais. Aqueles com que nos importamos mais do que connosco mesmos. E é mau, martirizante, saber que um dia esses, os nossos, possam sofrer.
Tenho medo da angústia, daquela que deixa apertos nas gargantas, nós bem amarrados e uns olhos humedecidos. Tenho medo da fraqueza, a que faz com que nos deixemos pisar. Tenho medo do medo, que faz com que receemos em nome daqueles de quem gostamos.
Sei que não estão bem. Os que não estão, não estão. E aí vêm todos os meus medos, vêm a angústia, a fraqueza e o... Medo.
Não sei que diga nem que faça. Apenas está perdido por entre este meu medo tudo aquilo que enfrento. A felicidade de ter alguém que estimo e com que me preocupo. Alguém que quero que esteja bem. Alguém de quem preciso do sorriso. Apenas esses, fazem com que o meu medo de ter medo seja de toda e qualquer maneira, um medo inútil.

domingo, 20 de julho de 2008

A Paixão.

Venho falar de uma paixão.
Quando era míuda não gostava de brincar com meninas. A maior parte das vezes encontrar-me-iam junto dos rapazes, a jogar à bola. Também tive a minha crise dos 5 anos, porque na festa final do Infantário o meu namorado não me deu a flor de papel quando cantámos o "Menina estás à janela" e foi dá-la a outra qualquer. Depois, na escola primária, descobri o futebol.
Punha-me dentro de campo e fazia a minha jogada, ou era a Joana Pinta ou a Nuna Gomes. Estrelas de outrora que logo comecei a estimar!... Eram uma dupla fenomenal, ninguém conseguia criticar tal coisa. Um dia, uma colega da minha mãe trouxe-me um envelope. Lá dentro, tinha um postal com uma fotografia do João Pinto com as inscrições mais valiosas que poderia receber: Para a Cláudia Ameixa com um beijinho. E toda aquela assinatura brilhante e intocável. Durante anos, permaneceu numa moldura, junto da minha cabeceira, como um troféu conquistado. E o meu jogo de bola continuava, sempre, em cada intervalo.
Lembro-me da minha roupa de quase sempre, uns calçoes e uma tshirt, um fato de treino nada original. Vestidos? Lacinhos? Carrapitos no cabelo cheios de ganchinhos super mimosos? Não, obrigada. Bastava-me uma bola de futebol solta depois do almoço sobre aquele cimento e estava ali o meu verdadeiro eu. Com o passar dos anos, nada como jogar à bola. Deixei de ser a Joana Pinta, mas passei a ser a Ameixa. E com cada torneio que se avizinhava, lá vinham os nervos que me faziam entrar e sair constantemente de campo. Ainda assim, vê-la rolar em direcção à baliza já era um sonho!
Sonho de pernas cortadas, que é rara a mulher que ganha um futuro aqui. Fora do campo, a paixão encontrou o seu pleno na bancada. E era ver-me, equipada orgulhosamente de uma vermelhidão imensa. Festejos a cada glória, tristeza a cada derrota. Aqui há uns anos tivemos uma perda pesada. Apenas me recordo que foram alguns os minutos que chorei agarrada a uma amiga, que ria, estupefacta por eu chorar por um jogo perdido. Não foi um jogo, foi uma vitória desperdiçada. Foi um sentimento de desilusão.
Consegui implementar nesta casa uma paixão comum. A míuda fanática da bola e do Glorioso. Quem diria. Cachecóis voavam, bonés, prendas sempre com um vermelho presente. Trouxe então toda a minha família atrás de um fenómeno: o futebol e o Benfica. E ganhámos uma taça àqueles do Norte, onde consegui arrastar a minha mãe até à Luz. Foi passar toda a 2ª circular com um hino aos gritos, estar lá, dentro de um espírito, uma união. E voltar, perdidas na noite, com um pau na mão, não fosse alguém estragar aqueles sorrisos.
Cada sentimento colado a esta força que me controla, é crescente a cada dia. Porque aconteceu, não sei. Como apareceu, não há nada que o explique. A única certeza é que esta minha paixão é partilhada por mais de 180 mil pessoas no mundo. Umas mais que outras, todas aqui estamos para o mesmo. Viver o futebol, amar o Benfica.