segunda-feira, 20 de abril de 2015

as cores da lua

hoje vi as cores da lua e nelas vi-te a ti também.
sorriste, dançaste, rodopiaste e foste feliz.
quase ouvi aquela música que inocentemente tocaste no outro dia.
tentei abstrair-me do mundo e saborear apenas a brisa quente, o pôr do sol e o cheiro da relva. tudo, cheio de sentimentos felizes.
flutuei também eu, aproveitando aquele momento.
o quarto crescente estava bem recortadinho e brilhante.
O laranja, o rosa, o azul, cada um tão bem vincado.
os teus olhos marejados, as tuas mãos tímidas, a tua busca discreta mas que sempre notei.
o rádio dava a banda sonora.
foram três minutos de pura recordação vivida, nítida, real. tantos segundos condensados num pacote recheado de alegria diferente.
vi as cores da lua, vi-te a ti também.
mas perdi-a de vista. as cores deram azo a uma negridão que trouxe a noite.
só aí me apercebi que afinal de contas tudo isto tinha sido culpa do sol.

terça-feira, 14 de abril de 2015

chão

É a fragilidade. Com que se constrói e se desmancha, em escassos minutos. Com algo tão pequeno mas que dói de forma tão grande.
A cabeça fica cheia de borboletas dispersas que batem contra as paredes, sem que consigam andar juntas, em bando, num mesmo sentido. E o quanto isso dificulta os minutos...
No meio do mundo a solidão abate-se como uma faixa negra que se atravessa em frente do olhar. Pelos cantos a luz vislumbra-se mas não se encontra. As mãos esticam-se convictas, mas nada agarram. E agora, como se sai deste caminho perigoso?
O chão é sempre amparo onde as lágrimas encontram lugar. Para onde se cai, resignado à sorte do momento. Onde se quebra, porque está na hora.
Mas farta. A reacção começa a fervilhar e é preciso voltar ao ar.
Onde está aquela mão esticada para que nos levantemos de novo?

segunda-feira, 13 de abril de 2015

trança

A felicidade é como uma trança infinita.
Bocadinho sobre bocadinho, o desenho fica fluído e bonito, como deve ser. Conforme os fios que se unem vão crescendo, mais forte ela fica. Brilhante, única, nossa.
Apertamos-lhe a ponta, com um elástico que dá várias voltas. O tempo deixa que lhe acrescentemos mais entraçados e no final voltamos a apertá-la para que fique sempre firme, com um aspecto de vivacidade incrível.

Mas há sempre o engraçadinho que nos vem puxar o elástico num momento inesperado. Que desmancha um bom bocado da nossa trança e nos faz sentir que perdemos um pouco de nós.
Precisamos de aceitar esse amargo sabor de desilusão. De uma dor crua, causada pela esperança que nos foi arrancada. O sorriso contorce-se e os olhos ficam rasos de água.
Voltar a entrançar o que antes esteve feito não é fácil... os fios passam a ter pontas soltas que nos irritam, que nos frustram e que ameaçam o resto da trança. E passamos a olhar com desconfiança para o audaz que nos arrancou o elástico.

E agora? Como se ganha coragem para pedir que nos voltem a entrançar aquele pedaço feliz? Como se explica que o sentimento pleno que se partilhou ao entrançar foi destruído pelo arrancar de um elástico?

A trança é infinita. Os modos de a entrançar também. Mas os que têm poder de a desmanchar... retiram-lhe o brilho de outrora.

Podes, por favor, ajudar-me a dar força aos fios outra vez?



segunda-feira, 6 de abril de 2015

.A

Não sei se é de ti, da tua cara enigmática.
Não sei se é de mim, da mania de querer saber mais.
Com indiferença procurei conhecer, descobrir e apreender. Entender-te de alguma forma, sem que soubesses da minha vivacidade em perguntar por ti.
A mal ou bem os caminhos foram-se preenchendo, mas nunca ficaram completos. A incapacidade envergonhada trava as intenções verdadeiras de saber o que está para além de um olhar.
E naquele dia vi-o brilhante, diferente. Vi-o sentido de pureza, de um amor diferente que sem saber me explicaste tão bem.
Guardei-o tanto comigo... sabes? O mexer dos teus lábios com as palavras honestas que me dirigiste. A água de uma lágrima que se transformava em sorrisos inocentes e periclitantes.
E pudesse eu devolver-me assim... Recebê-lo-ias com tamanho encanto, mesmo sem saber.
O futuro constrói-se no presente de cada dia e os trilhos continuam a formar-se sem destino certo. Talvez seja manha minha precisar das definições e ter medo do inesperado, mas vou tentar. Vou deixar que a esperança do meu coração não se magoe e possamos chegar a algum lado... ou não. Quem sabe?
Será de ti, da tua cara enigmática... será de mim, da mania impulsiva de querer saber mais. Seja de quem for, que seja o que quisermos que venha a ser.
Mas aqueles minutos, aquele olhar, aquelas palavras e aqueles sorrisos... nada apagará o completo abraço que tivemos.
E nesse dia chegámos ao destino.