domingo, 25 de maio de 2008

O Grão de Areia

Foi quando o maior grão de areia dedidiu juntar-se a outro. Mais grãozinhos, mais pequenos que ele, saltavam-lhe para as costas, apanhando boleia. Aos poucos, ele foi ficando cansado, já não conseguia aguentar mais aquele peso, aquela dor sobre si, quando não tinha culpa de que os grãos pequenos se lhe tivessem colado. Às vezes tentava esquecê-los, fingir que não estavam lá, mas sempre que um novo grão subia para aquele monte a dor voltava. Ele revoltava-se, ainda que pouco depois tudo fosse o mesmo de novo.
Acumulou uma quantidade de grãozinhos sem fim e quando um deles fez mais força, o grão de areia desabou. Caiu, com todos os outros por cima de si, empurrando-o para baixo. Sabia que conseguiria voltar à tona, mas para isso teria de fazer imensa força. Contudo, faltava-lhe a coragem. Faltava-lhe um motivo para que viesse ao de cima, imponente, como o maior grão de areia do início. Ainda assim, sabia também que quando mais baixo fosse, mais complicado seria voltar ao de cima.
Outros grãos de areia incentivavam-no a subir, gritavam-lhe, que era capaz e uma estupidez estar naquela situação, sem reagir. Um, apenas um, aquele que se lhe juntara, deixava que o grão de areia continuasse no fundo, aguentando, aguentando...
Ele era apenas um grão de areia em todo aquele deserto. Mas era um grão de areia que precisava de viver e ali, aguentando, nem sempre conseguia fazê-lo da melhor forma. Outros grãos de areia passeavam com a brisa que de vez em quando passava, mas ele mantinha-se quieto, com todos os outros por cima. Que devia fazer? Mandá-los embora e seguir a aragem, ou aguentar, outro após outro, os grãos de areia que o faziam viver de uma forma inconstante?
Precisava de si, apenas o sabia. Precisava de se sentir bonito, de saber que era O Grão de Areia no meio de todo aquele deserto.