segunda-feira, 25 de outubro de 2010

indiferença

É tão dolorosa a tua indiferença... nem sequer consigo ficar triste. Fico apenas quieta e impávida, a sofrê-la de uma forma tão profunda que é impossível de ser falada sequer. Não entendo. Vejo duas almas que se encontram noutro mundo que não este, porque respiram a mesma essência. Mas hoje, ontem e amanhã, nunca se afeiçoarão como eu gostaria que o fizessem.

Continuo sem reacção, embora tudo fervilhe dentro do meu peito numa manifestação de revolta calada que não se quer deixar abalar de novo. Afinal de contas nada és, e é um nada que tenho de fazer de ti. Não me custa porque não criei expectativas, mas ao mesmo tempo é difícil, porque sonhei poder tê-las. O problema está em mim, sempre esteve e sempre estará.

Não espero mais, porque nada anseio. Assim prossigo, sem me lembrar de algo que possa justificar o que quer que seja. Porque é isso mesmo, porque o será sempre, uma indiferença incólume a tudo o que está aqui e ainda cá chegará. Nada espero, porque nada penso, embora queira tudo aquilo que não vem e nunca virá.  Acaba por doer essa indiferença mortífera, ainda que nunca tenha conhecido outra coisa diferente disso mesmo.

sábado, 23 de outubro de 2010

espelhos

"Espelho: superfície altamente polida para produzir reflexão regular dos raios luminosos e das imagens dos objectos; lâmina de vidro ou cristal, geralmente prateada na parte posterior, utilizada como reflector da luz ou para observação de imagens".

Segundo o que me diz o dicionário, todas estas palavrinhas, aqui inscritas entre aspas, juntas, são a definição do que é um espelho. 'Talvez', respondo-me eu. Um espelho não me parece ser um mero objecto em que vejo o reflexo daquilo para o qual o aponto. Não apenas uma coisa de vidro, em que pego, que me permite ver a minha cara de desilusão neste momento. 'Para mim, um espelho, é tudo aquilo em que recordo o que já experimentei, vendo-o representado das mais diversas maneiras, sentindo-o de uma forma tão diferente que me sabe a igual', afirmo-me.

Lembro-me de andar apaixonada pelo Miguel anos a fio, na escola primária. Viesse quem viesse, era o Miguel quem eu queria. Ele passava-me a bola nos jogos do recreio, sentava-se ao meu lado nas aulas e até chorava quando chegava a hora do toque e a mãe não estava lá fora para o ir buscar. Toda a gente gozava com ele por causa disso, se calhar até eu gozei, na minha parvoíce de miúda, mas eu gostava mesmo daquele rapaz. Ele nunca queria namorar comigo, nunca, mas eu continuava a endereçar-lhe todos os postais que escrevíamos no dia dos namorados. Até que houve uma vez, não sei porquê, em que ele decidiu que ia namorar comigo, já na quarta classe. Eu fiquei felicíssima: era a namorada do Miguel. Passado um tempo, há uma outra rapariga que começa a dar nas vistas junto do Miguel e ele decide deixar de namorar comigo, para namorar com ela. Céus, como fiquei devastada. O Miguel tinha-me trocado por outra miúda que nem sequer sabia jogar à bola.

Lembro-me de me apaixonar, há uns poucos anos. De acreditar que o mundo parava quando o via, de achar que ia parar de respirar na primeira vez em que o abracei. Ainda consigo vislumbrar aquele sorriso catita que me deixava sem jeito, fosse por que motivo fosse. Fomos passear e decidimos ficar juntos. Eu fiquei felicíssima, era a namorada dele. Passado um tempo, há uma outra rapariga que começa a dar nas vistas junto dele e sou eu quem decide deixar de namorar com ele. Céus, como fiquei devastada. Ele tinha-me trocado por outra miúda que nem sequer sentia o mundo parar perto dele.

Para mim, isto é um espelho. São duas histórias diferentes, mas com a mesma base dentro de si. Um espelho que se completa, que reage e cresce de acordo com as mudanças que a vida nos proporciona. Na primeira vez, deixei que fosse o Miguel a não querer namorar mais comigo, por muito que soubesse que a outra menina o tinha enfeitiçado. Da segunda vez, fui eu a não querer namorar mais com ele, por que me achei com muito mais valor do que o que a outra rapariga poderia vir a ter.

Para mim, isto é um espelho. São duas histórias diferentes, mas com a mesma base dentro de si. O que nelas se diferencia é apenas a minha imagem. Na primeira, uma menina pequenina, sem alguns dentes, desejosa de dar uns pontapés na bola ao recreio. Na segunda, uma jovem decidida a marcar um golo, por muito complicado que fosse ultrapassar o adversário.

Para mim, isto é um espelho. Não ter medo de reconhecer os momentos maus que se afiguram à nossa volta, quer estejam eles antes ou depois da decisão que temos de tomar. Respeitar-nos acima de qualquer coisa, fazendo prevalecer aquilo em que acreditamos que somos e que construímos dentro do nosso ser.

Para mim, isto é um espelho. Crescer e dessa forma ver as coisas diferentes, tomar decisões conscientes, que não estejam somente ligadas ao comodismo de não querer enfrentar batalhas. É preciso travar lutas, porque só no fim delas vai estar a nossa vitória plena.

Para mim, isto é um espelho. Acabar devastadíssima com o Miguel ou com ele, mas saber que, de uma situação para a outra, tornei-me alguém com personalidade própria e vontade de enfrentar a vida, mesmo que ela me deixe triste de vez em quando.

Percebes tu o que é um espelho? Ou será que para ti continua a ser apenas um mero objecto, em que pegas e metes à frente da tua cara, vendo apenas o teu reflexo de medo e cobardia? Se assim é, o nosso espelho é diferente. Eu gostava que percebesses o que é um espelho para mim, que tomasses esse conceito como teu e o sentisses da mesma forma. Afinal de contas, gosto de ti e quero que estejas bem. Não quero ver no teu espelho a minha sensação de 'devastadíssima'. O que quero ver no teu espelho é que travaste uma luta, sem medos. Quero ver que aceitaste o seu resultado, que olhaste em frente e disseste que, para ti, um espelho é 'tudo aquilo em que recordo o que já experimentei, vendo-o representado das mais diversas maneiras, sentindo-o de uma forma tão diferente que me sabe a igual'.

Olha bem para o teu reflexo. Não vejas mais essa cara cobarde. Vê apenas a tua expressão de luta, de vitória e de crescimento. É apenas o que preciso para olhar para o meu e não ver mais a minha faceta de desilusão. Vive, espelha-te, para que eu me espelhe contigo e em ti, novamente.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

saberemos...

Se tu soubesses... se eu soubesse! Posso não te ter por perto para te olhar, mas vejo-te constantemente. O teu nome paira no meu pensamento e não sei que fazer com ele. Depois, amanhã é um novo dia e a rotina mantém-se igual. Não sei fugir, não sei agir, não sei sentir. Será que ainda sei sonhar?

Vejo-te agora, aqui mesmo. Um olhar terno que só eu desvendo por acreditar que assim o é... ou por o saber, simplesmente, tendo a certeza de que se um dia me deres um abraço será o mais terno de todos até então. Mesmo no meio da multidão, sei sempre onde páras e quando sorris. Se tu soubesses...

Não existe explicação plausível e minimamente aceitável. É apenas como um rio onde a água naturalmente corre, no seu leito, nada mais ou menos complicado. Ainda agora, agora mesmo, te imagino na timidez constante que, embora não pareças ter, faz tanta parte de ti como um simples inspirar/expirar.

Só tu fazes o meu sol brilhar, conseguindo com que eu perca o jeito e não te saiba falar. Saberei sorrir-te? Saberei distinguir o que é isto que não identifico, de algo que não conheço mesmo? Acabas por chegar sempre, demorando mais ou menos tempo. Naturalmente, como um dia em que entras num café e pedes um copo de água... mas eu complico, eu transformo e não entendo, não defino, não resolvo. Imagino e anseio. Será que transmito? Se eu soubesse!

Se tu soubesses... se eu soubesse!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

atabalhoamento

Queria ir dormir, mas não consigo. Não tenho explicação que justifique todas as viagens do meu pensamento, mas a verdade é que ele se farta de voar por aí, acabando por para sempre no mesmo destino. Tento a todo o custo programar-me, ainda que me pareça mais difícil a cada dia. Nem sei que diga ou que escreva, apenas sei que penso em tudo o que não quero pensar e não consigo exprimir.

É como aquelas máquinas de jogos de quando era pequena: coloca-se uma moeda e depois, com o gancho, tentas agarrar o brinquedo que queres para o poderes ter. O problema surge quando consegues tirar todos os brinquedos dentro da máquina, menos o que queres - assim estou eu.

Todos os dias me levanto e me pergunto porque é que não posso dormir mais um pouco. Abrir a porta e levar com o vento frio na cara faz com que me retraia e me apeteça voltar de novo para dentro, mas nunca volto. Vou contra ele e deixo-me ir, em mais uma rotina, em mais um dia que já está programado por inteiro. Com tanta definição, só mesmo o meu pensamento para ser livre de voar e poder chegar onde quiser.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

fascínio

Tenho-te um fascínio. Não me peças para to explicar, porque nem eu sei de onde ele veio, nem como é. Apenas to tenho, simplesmente, como tão natural é respirarmos a cada momento. Não consigo controlá-lo, tal como não consigo deixar de te imaginar a sorrir para mim, com um ar meigo que não conheço, mas que idealizo de uma forma tão pura que me parece familiar.
Não encontro um motivo ou uma explicação, por minimalista que seja, para te ter tal fascínio, mas tenho. Talvez partilhemos as mesmas motivações sem o saber, ou talvez o saibamos demais que não precisamos de o dizer. Resta-me olhar-te de soslaio, como até agora, e sorrir na esperança de que repares em mim... ou deixar-me levar pela brisa, indo até onde terei de ir, sem ansiar um desfecho e a história do mesmo.
Tenho-te um fascínio, e isso basta. Agora, 'o sonho comanda a vida', portanto caminharemos até onde nos levar. Porque ter-te fascínio é saber-te feliz, e isso é saber sonhar. Sonhar que, para além de uma estrela no céu,  és a estrela que move os meus dias na procura de um sorriso sincero.