sexta-feira, 7 de setembro de 2012

lá ou cá

Às vezes penso que gostava de lá estar e de lá viver. Seria mais calmo, sem toda esta preocupação e perseguição. Sim, cansa esta perseguição.
Não se pode errar no mundo daqui, não nos é aceite nem uma falha, por muito pequena que nos pareça. Tudo é motivo para que se aponte o dedo, para que se ralhe, para que não se compreenda - nem se tente compreender.
É bom ir lá, estar lá e ficar lá por um tempo... As saudades daqui começam a apertar e volta-se com vontade, deixando para lá a saudade.
Mas quando cá se chega, vê-se que afinal nada mudou: as palavras amargas são as mesmas, os insultos repetidos, os dedos bem espetados e impropérios irritados.
Valerá a pena suportar a saudade daqui, estando lá? Será melhor estar aqui, indo lá desligar e voltar?
Lá ou cá, cá ou lá... entre os dois mundos, talvez seja melhor.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sou

Gosto de romance. Gosto de histórias de amor impossível em que tudo está bem quando acaba bem. Gosto de histórias em que a paixão é rainha, em que a entrega é máxima, em que o amor é vida. Gosto de romance, gosto mesmo de romance.
Sou sensível, sou crente nas melhores capacidades das pessoas, sou eu. Sou deslumbrada com o amor e com os que amam. Sou de lágrimas quando me deparo com uma história arrebatadora, idealista. Pouco possível até.
Gosto de romance e sou sensível. Sou, acima de tudo, capaz de sonhar. Capaz de acreditar naquilo que vem nos livros que gosto de ler e que muitos poderão criticar. Gosto de romance, quero-o real. Gosto de testemunhar felicidade, de viver felicidade.
É isso, sou sonhadora. Enquanto o mundo me permitir, sê-lo-ei, acima de qualquer coisa.
Afinal, sonhar ainda é de borla. Não?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

calma, tudo está em calma

Hoje vim trabalhar cedo. Fiquei deslumbrada com a calma que as ruas transpiravam. Ainda era noite, mas já os pássaros cantavam.
Enquanto conduzia por entre as ruas, vi quanto o mundo adormecido pode ser belo. Vi-me num sentimento especial - eu parecia a única pessoa a viver, a sentir, a ver por ali, por aquela hora.
Se às vezes se deixassem as preocupações na cama, a dormir mais um bocadinho, seria bom que se pudesse levantar assim de vez em quando, ainda com a escuridão do dia que começa a amanhecer.
Seria bom que, de vez em quando, se pudesse respirar a calma do mundo... Respirá-la naqueles momentos em que parece que só nós por ele vagueamos.  Um instante nosso, em que a calma contagia e deixa ficar um sorriso.
Um sorriso sincero e pacífico, que faço chegar a todo o lado com um "bom dia" através dos microfones da rádio.

terça-feira, 13 de março de 2012

cabeça cheia sem rebentar

Ás vezes temos a cabeça cheia de pensamentos e isso faz-nos ficar assim, cheios! Cheios quase até rebentar, mas sem que nunca se chegue àquele sentimento de alívio em que gritamos "rebenta a bolha!" e metade sai para fora...
Pergunta-mo-nos: é assim tão difícil rebentar? Responde-mo-nos: Não, é bastante fácil até, quando não queremos que aconteça. Quando algo nos corre mal e ainda estamos com esse nervoso miudinho, rebentamos tão rapidamente quanto o milésimo de segundo que leva a estoirar-se uma bola de sabão. Rebentamos muitas vezes sobre coisas que não queríamos, com pessoas que não queríamos.
Mas quando queremos mandar fora grande parte daquilo que ocupa espaço desnecessariamente e que nos faz sentir cheios, não conseguimos rebentar... Ainda que haja quem nos estenda a mão e diga que está ali, que podemos rebentar quando quisermos que seremos ouvidos, que o nosso alívio pode chegar bastando apenas que falemos, não conseguimos rebentar.
Porquê? Não sei, mas gostava de saber. Talvez porque aquilo que nos enche os pensamentos é o nada? Será que é por a nossa cabeça estar cheia de ar, por não ter nada de concreto em que pensar? Ou será porque a demasia de preocupações que se nos atravessam ao espírito diariamente são tantas e tão variadas, que as remetemos automaticamente para uma página em branco, porque não queremos lembrar-nos delas?
Não tenho resposta. Talvez nunca venha a ter. Mas talvez um dia serei capaz de gritar sozinha "rebenta a bolha!", para depois sentir o alivio de saber que posso falar e que estarei pronta para voltar a encher novamente.

terça-feira, 6 de março de 2012

o alguém

Ás vezes é de quem menos esperamos que mais recebemos. Podemos receber de muitas formas, nem que seja num simples desabafo que precisamos de ter e que outra pessoa acolheu. É bom sentir isso acontecer. É bom acordar e pensar que é preciso dizê-lo àquela pessoa, porque sim, e que ela o vai ouvir e responder-nos de volta.
Essa resposta, mesmo que seja a simplicidade do silêncio, vale mais que ouro. O poder extravasar o que nos vai na mente, sabendo que do outro lado alguém nos acompanha, é tão proveitoso como o melhor sorriso que podemos dar.
No final de todas as palavras ditas, de todos os gestos feitos durante o decorrer do discurso, basta saber que do outro lado está alguém. Nesse momento, esse alguém dá-nos o mundo. Prende-se ao nosso mundo.
Mesmo que o alguém fique em silêncio, mesmo que o alguém não responda de volta, ele esteve lá. Esteve connosco quando precisámos que estivesse.
E nesse silêncio, nessa pura acalmia do que é apenas estar completamente, imaginamos o melhor sorriso que podemos receber.
Imaginamos o que recebemos, porque é esse alguém que nos dá esse sorriso e nos faz sentir mais leves, capazes de voar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

passar do tempo

É triste passar um dia assim, como tenho passado os meus. Sentir o sol brilhar lá fora e aperceber-me do dia a escurecer com o passar do tempo. Porque afinal de contas é só isso o que estou a fazer neste momento: a aperceber-me do passar do tempo.
Não gosto disso. Gosto de me manter ocupada, de me manter entusiasmada com o dia, sabendo o que ainda tenho para fazer a seguir. Não gosto de não fazer nada, o que só me leva a fazer ainda menos. Não gosto de estar aqui e ter tempo, ter demasiado tempo. Não gosto de estar aqui sozinha.
Era bom se pudesse ter-te aqui, ao menos tudo ganharia um colorido diferente e aí até seria bom não fazer nada. Estando contigo não é preciso fazer nada, é apenas preciso estar. E eu estou, com tudo de mim, com todo o meu coração.
Sempre houve aquele cliché de que quando temos a pessoa certa, sabemos que essa pessoa o é. Eu não sei se acreditava muito nisso ou não...
Só sei que sei que tu és a minha pessoa.
E isso é o que dá sentido à vida, mesmo que aquilo que faça seja somente aperceber-me do passar do tempo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"- Só me apetece chorar, amor.
- Porquê? Não quero que chores.
- Porque nunca acerto e nunca faço nada bem...
- Mentira. Acertaste bem em cheio no meu coração. Isso foi o melhor que podias ter feito à minha vida."

escrever

Ontem conduzia e lembrei-me daqui, disto. Lembrei-me que há muito não escrevia, e tentei perceber o porquê. Tentei entender porque não tenho mais aquela prosa encantada que costumo escrever e que retrata aquilo que quero que retrate, de uma forma minha.
Pensava que era errado dizer que escrevia só quando estava mais triste ou menos bem, mas parece que ouvi na televisão que há quem só componha canções quando está mais triste ou menos bem. E isso não quer dizer que depois, o texto ou a canção, se tornem numa melodia de palavras tristes e deprimidas - muito pelo contrário.
Parecem haver estados de espírito mais propícios à escrita e o meu é esse. É esse ou uma súbita vontade de desabafar o que quer que seja. E ontem lembrei-me disto, daqui, e reparei que há muito não escrevia com vontade de escrever. Fiquei triste com isso. Este espaço já me acompanha há alguns anos e não quero, nem vou, abandoná-lo.
E da próxima vez que estiver mais triste, menos bem, ou com uma vontade súbita de desabafar o que quer que seja, virei aqui e fá-lo-ei como sempre fiz, em vez de passar a remoe-lo na minha cabeça como recentemente me habituei a fazer.
Porque gosto disto, gosto mesmo disto e daqui.