domingo, 30 de agosto de 2009

'mar.

O tempo passa e a onda cresce. Vivências acrescidas no sabor do mar, que corre, às vezes, e acaba, de peito arranhado na areia. Deixas-te levar por uma, voltas e vem outra, acabas sempre, no chão, com a espuma do sal a passar por ti. O teu sorriso, nunca acaba. Os teus olhos estão no céu, de onde vem o sol radioso.
Aquela fada que pensas estar na palma da tua mão é apenas isso, uma fada da tua imaginação. A sua representação está em todos aqueles de quem gostas e te sorriem, como tu agora para o ar.
Uma praia cheia de gente fica quieta, vazia para ti. É tua, é o teu mundo. Podes até levantar-te e ir de novo, de encontro ao mar bravo. Dar braçadas até lá ao fundo, quase tocando o infinito. Depois voltas, com felicidade que transborda. Cansaço, não existe.Boias sobre a água até esbarrares de novo na areia. Com sossego, aí estás. Pensamentos flutuam no mar enquanto toda a tua plenitude repousa contigo.
O natural do tempo que passa é isso mesmo, um momento. A onda cresce e logo depois morre. Sái, lá do fundo, pequena. À medida que avança de encontro ao fim cresce, atinge o seu auge. Depois, tão depressa quanto tudo, enrola-se sobre si e desmaia, aos teus pés.Vês como pode ser tão efémera a beleza de onde te encontras?
Por que abandonaste tu a praia?

domingo, 23 de agosto de 2009

sim

Mais uma manhã, mais um dia.
Mais uma música que embala.
Para lá e para cá, pensamentos sem razão,
coração sem caminho.
Que rumo, que sensação.
Porque trazes semblante carregado se há muito espero que chegues?
Fica, mas presente.
Não penso mais no vento.
Seguir. Apenas a brisa suave.
Viste, mas tão depressa
foste embora.
Fica,
quero que fiques.

domingo, 16 de agosto de 2009

Saber

Não sei nada. Mas é suposto que saiba algo?

O que devo, quando acordo, saber? Olho em volta e reconheço um espaço familiar, mas não consigo encontrar-me nele. Porque será? Porque não sei porque não me encontro? Dirijo-me à casa de banho e a rotina toma conta de mim. Dou por mim a lavar os dentes quando vejo o meu reflexo no espelho à minha frente. Esta cara parece-me familiar, mas porque será que não me reconheço? Saio à rua e guio o carro, com o caminho interiorizado na cabeça. A música que oiço recorda-me um momento. Mas porque é que não me vejo nele?

Não sei nada. Não poderia haver uma pista para que me encontra-se? Para que me reconhece-se? Para que me visse? Deve haver, perdida por aí... Agora a única réstia do sentir onde vejo algo meu é naquele olhar profundo que sei ver-me a cada dia. Aquela limpidez num olhar, cultivando o seu sorriso sincero, traz tudo de mim à tona. Afinal sei muito! Sei que só assim sei onde me sou capaz de me saber.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Falo de Ti às Pedras das Estradas

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ao reflexo da lua

Procuro dentro de minh'alma quietude e paz que julguei perdida outrora. Agora que a encontro é um sorriso que não finda, é uma rosa florida pousada sobre a orelha numa noite quente de verão. Segredos sem esconderijo, ecos de passadas pela areia quente na caminhada da vida. Lá no alto da àrvore canta o pássaro no seu chilrear que encanta. Música conhecedora de pensamentos findos que trouxeram a minha cara o sabor salgado de um mar do olhar.
Mas virou o rumo, mudou-se a sorte. Acabou o aperto magoado destronado pela vantajosa nuance feliz. Que se implanta, que se torna a estrela guia neste céu escuro numa noite de lua cheia. Palavras confusas tornam certezas no toque subtil da areia que faz acreditar numa ténue luz lá ao fundo. Sabor de baunilha entranhado neste paladar.
E é assim que voam as palavras com a brisa, carregando sentimentos fundos, superados de tudo. Não estava perdida a paz que procuro, somente se obscurecia por entre desejos infindáveis...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

dança

Levitava por entre nuvens quietas e subtis, como um pássaro livre. Feliz, era apenas como se sentia. Pé ante pé, inventava danças leves e capazes de encantar qualquer um. Porquê? Por nada, nada senão aquelas palavras sinceras que gostava de ouvir... Para quê pensar mais? O melhor era mesmo como agora fizera, deixar-se correr... Com a quietude tudo vem muito mais original, a pureza é a constante arte onde se age a cada toque.
Nada que pudessem dizer a tiraria daquele seu mundo sorridente e feliz. Não era preciso inventar mais, aquilo bastava-lhe como lhe bastava a àgua inerente à sua vida. Imaginou-se em palco frente a qualquer público. Sabia lá no seu mais ínfimo pedacinho que seria capaz de dançar como nunca o fizera. De cabelo bem apertado, de movimentos bem fluídos, de uma seriedade e entrega totais no rosto. A música seria o seu ar que a levaria mais além.
Não vale a pena pedir explicações, nada trariam de novo. A sua felicidade constante não trazia outra explicação senão aquela mesmo. Palavras sinceras e atitudes únicas, vindas apenas de quem mais nada lhe poderia trazer senão tudo. Tudo o que sempre quisera.

sábado, 1 de agosto de 2009

compreensão

Queria tentar perceber, mas não consigo. A inércia do meu pensar é imensa, o que faz com que não seja possível desligar-me das ideias erradas. Por que razão não consigo parar o que bate no meu peito por alguns minutos? Às vezes é o que mais me apetece fazer: tirar de mim sentimentos escondidos que quando se revelam muito têm a dizer. As coisas inesquecíveis da vida são assim mesmo, incapazes de sair de nós. Mas quando lembradas nos seus momentos de frustração, magoam muito mais do que a morte mais dolorosa que possa existir. Gostava de não me lembrar de tal coisa a cada dia, preferia antes apagar que alguma vez possa ter havido uma oportunidade…
Esforço-me por não deixar cair uma lágrima isolada porque sozinha não conseguiria compreender-me. Tenho a certeza de que é mesmo isso o que me falta, a compreensão. Se aqueles que deveriam tê-la pudessem somente imaginar tudo o que tenho sentido, certamente olhariam para aquilo que sou de outra forma. Mas não, não existe o mínimo de esforço de ninguém. O que há é somente o esquecimento e o desprezo, armas poderosas nas mãos de gente que já vejo sem sentimentos. Então porque insisto eu em querer que me percebam?
Aí vens tu. Nessa tua descontracção que te é característica, sentar-te-ias ao meu lado na areia que ambos conhecemos e ouvirias a história que tenho para contar. O vento levaria o meu cabelo para trás e todas as lágrimas que eu deitaria seriam reconfortadas com o teu olhar de compreensão. Tu sim, perceberias o que tenho para dizer. Ouvirias aquilo que preciso de contar e no teu jeito doce trarias o aconchego de que agora preciso. Penso que há por aí quem me julgue sem que me saiba, e tu não o farias. É por isso que me encontro em ti – conheces-me na tua leviandade enquanto me dás a certeza de que não estou sozinha. A tua capacidade de me trazer calma é o suficiente para que me passe qualquer angústia. Alguma vez te tinhas apercebido disso?
Quem sabe, um dia… Quem sabe se um dia não serei capaz de te levar até lá como desejo. Ficaríamos apenas sentados em frente àquele mar, olhando para todo o lado como um lugar de encontro perfeito. Impossível de perder, não é? Quem sabe se um dia quando lá estivermos, não serei eu capaz de te dar o abraço que à tanto tempo reprimo. Tu compreenderias, eu sei que sim.