segunda-feira, 18 de novembro de 2013

mistério

Há aquelas pessoas misteriosas. Que fazem querer descobrir mais, querer estar lá sempre, querer pegar na mão e levar em frente, ajudar a desbravar caminho.
Sem dar conta faz-se delas pertença, inflamada pelo sabor da derrota quando não se consegue atingir o objectivo proposto, criado sem avisar ninguém. Aí, o caminho passa a ser feito de forma aleatória, sem a mão para guiar, sem a palavra para aconchegar e incentivar a palmilhar o trilho correcto.
E ao longe vê-se a perda. A desilusão. A convicção de que, se lá se tivesse continuado, tudo seria mais risonho, fácil e, quem sabe, correcto. Poderá classificar-se assim? Poderá julgar-se que a ausência conduz ao errado?
Talvez não. Talvez sim. Talvez dependa. Mas o serem misteriosas faz com que todas as hipóteses estejam em cima da mesa. O serem misteriosas é o que as mantém presentes, mesmo quando estão tão longe... e naquele dia em que voltarem, se voltarem, tudo será como sempre foi e haverá a mesma vontade de lhes agarrar na mão e puxá-las para o caminho certo. Afinal de contas o mistério que carregam é o que lhes diz que a vida deve ser vivida segundo a segundo, caindo num, para levantar no outro.
Há aquelas pessoas misteriosas para quem se está sempre disponível. Basta saber se a sua disponibilidade é coincidente com a nossa.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O ditado

Lembro-me muito bem da primeira vez em que te vi. Lembro-me de pensamentos estranhos e disformes, causados pela tua presença inesperada. Lembro-me de sensações estranhas e pressentimentos positivos do que poderias vir a ser.
Foi o tempo, foi o acaso. Foram as conversas, as brincadeiras. As partilhas e os desabafos. E sem sequer sabermos como, sem encontrarmos explicação, tornámo- nos naquilo que em tempos áureos fomos. Só nós, indiferentes a toda a banalidade. Intocáveis pelo que pudesse vir do mundo, convictos de que nada poderia destruir a cumplicidade que a vida tinha construído.
Quis acreditar nisso. Acreditei. Ainda hoje continuo a acreditar, mesmo depois de todos os silêncios e dos sinais que essa ausência traz. E ainda assim, aqui continuo e continuarei disposta a remar contra a maré, a tentar mais uma vez. A voltar a dar a mão à palmatória para recuperar o que se foi embora, sem que déssemos conta.
Não sei se terei forças para lutar para sempre, não sei. Não sei se conseguirei vencer esta batalha inglória em que me coloco minuto após minuto. Acho até que perdi, mas não quero acreditar nisso.
Agora,  vou voltar a confiar no tempo. Vou acreditar que tal como da primeira vez, a cumplicidade vai chegar de novo. Até lá, até saber o desfecho, fico-me com as recordações.
Embora com um sorriso triste, aquecem o coração. E o ditado é sábio: a esperança é a última a morrer.

domingo, 29 de setembro de 2013

faz o teu caminho, fico no meu

Sai. Desaparece de vez. Leva tudo contigo e não voltes atrás. Não me deixes sequer ter saudades ou cair na fraqueza de expressar que te gosto. Estou cansado, exausto. Preciso de dormir sobre ti e acordar passado muito tempo, sem saber que te sonhei.
Quero passar por ti na rua e sorrir-te sem pensar em mais nada. Sem me lembrar do depois, no que há mais para além do esboçar de algo com os lábios. Leva todos os acessórios que me pregaste e deixa-me apenas a simplicidade de outra pessoa qualquer, uma dessas por quem passamos na vida.
Estou sem forças para me debater contra ti, estou farto de o fazer e não ver resultados. Por isso deixa-me, deixa-me somente. Não me consumas mais o pensamento, as forças, a lucidez. Vai embora e fica só por ficar. Podes ajudar-me e fazer isso? Não te é difícil. É só deixares o olhar cúmplice e virares costas, caminhando com passos firmes. Dizendo um até logo para que, quando te voltar a encontrar, sejas normal. Só normal. É normal que te quero, não isto.
Já chega do mais. Chega da confusão que armas, do pânico que instalas, do medo que consomes. Sai e desaparece de vez. Vai numa caminhada decisiva e manda-te de cabeça para o futuro. Deixa-me só aqui, sossegado. Depois, quando nos voltarmos a encontrar, falamos. E quem sabe se quando falarmos já terá passado tudo isto e por isso consigamos ser cúmplices de uma forma doce de novo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

inexplicável

É inexplicável. E é-o, porque o é.
A cumplicidade instantânea e pura, sem combinação prévia, na verdadeira acepção da palavra. É-o, porque o é. Porque não poderia ser de outra maneira. Porque não daria para ser doutra maneira.
E a mínima falha sente-se. Ressente-se. Volta a sentir-se. Não magoa, mas custa. Não parte, mas deixa mossa. Porque quando não é tudo e passa a ser apenas quase tudo, sente-se. Não está, mas vai estando.
Continua a ser inexplicável, porque o é. Quando o mundo nos dá um prato cheio de coisas boas temos de as saborear todas. Se nos tiram um ingrediente, o sabor não é o mesmo. E sem um pedaço do sabor, nunca será o mesmo. Foi-o ontem, foi-o até à pouco. Agora não o é. Será amanhã? Será daqui para a frente? Sê-lo-á como o foi?
Continua a ser inexplicável. O princípio, o meio e o fim que não tem. E é-o. Porque o é.
Porque o será sempre, mesmo sem a cereja no topo do bolo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mais perto de ti

Hoje chorei.  Bebi palavras de dor que antes foram de esperança. Gritei-as com medo, frustração e impotência. Hoje o "mais perto de ti" parece esfumar-se com as palavras rotineiras.
Se dantes o encarava com esperança e crença de que tudo poderia ser diferente, melhor e inigualável a cada dia, hoje vejo-o com o medo de que o que agora é especial, daqui a um tempo passe a ser um pedido implorado e sofrido para que tudo permaneça.
Havia a certeza de que "se tudo acabar, nós voltamos a começar". Agora haverá? Sinto o distanciamento a chegar, disfarçado pelo hábito e pela rotina. Não o quero, mas não tenho força para conseguir mandá-lo embora sozinha... E tento, tento muito.
Hoje bebi palavras de dor que antes foram de esperança. "Diz-me o que pensas, não o que eu quero ouvir", faz-me voltar á esperança de que aquela cumplicidade que apenas nós sabemos a que sabe vai continuar a dar significado ao para sempre.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

tu sem o medo

Estou sombria, como tu. Não sei porque te comportas assim, ainda está para chegar o dia em que te compreenderei e conseguirei responder às tuas mudanças drásticas com a velocidade com que as impeles. Tento contrariar-te ou caminhar a teu lado, mas nenhuma das opções me parece certa. 
O que mais custa é que quando estás bem, na felicidade plena e quando parece que vais explodir de satisfação, encontras sempre forma de voltar à insegurança, ao medo, ao aperto.
E o quanto dói esse medo... Parece que nada no mundo é suficiente e será forte para to tirar, esse medo intenso e com o qual me dás o silêncio, a quietude, o pensar de mais. E sentir o medo em ti, é a pior sensação que conheço. 
Esse medo que carregas de quando em vez, transporta todas as suas vertentes: a da perda, a da desilusão, a da incompreensão, a da insatisfação, a do erro. A da perda, a da perda... Esse teu medo que depois de nos tirar tudo, apenas nos deixa memórias. Não quero memórias, quero momentos. Vividos, sentidos, guardados. Não quero as memórias, não quero o medo. Quero de novo a felicidade plena. Custa que ma tragas de volta? 
Estou sombria como tu, coração. Podes ser só tu sem o medo, por favor?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

tramada

Nem sempre és fácil, por vezes magoas. Nem sempre és de sorrisos, por vezes dás lágrimas.
Devias ser de amparar, não de mandar abaixo. Devias ser de amparar, não de criar buracos.
Não devias exigir, devias apoiar. Não devias exigir, devias gostar. Não devias exigir, devias compreender. Não devias exigir, devias dar. Não devias exigir, devias ser só tu e pronto.
Todos te pintam como a rainha suprema, mãe da razão e de todos os sentimentos. Mãe do mais importante.
Sê-lo-ás? És. Sem dúvida. Aquilo em que mais acredito e estimo és tu. Defendo-te com unhas e dentes.
Mas sabes?, nem todos te compreendem...
E os que te amam e valorizam, como eu que aqui estou e o assumo, são os que mais magoados contigo saem.
És tramada, Amizade.

terça-feira, 30 de julho de 2013

hoje não quero saber

Hoje não vou querer saber. Não me vou importar. Segue, diz, faz. O que bem entenderes. Hoje vou estar lá no topo e dançar com a minha indiferença. Hoje não quero saber.
Hoje defini o meu lugar. Não exijo mais. Não quero mais. Essa leviandade vai fazer-me rir em vez de chorar. Hoje vou olhar para trás e saber que venci.
E se a determinada hora voltar a ser difícil, se voltar a doer e eu vacilar, não irei deixar-me levar pelas poucas palavras. Não. Serei mais forte, serei eu, de novo no palco a dançar. Cantarei aos gritos, se for preciso, mas serei mais forte. Hoje não vou querer saber.
Tentarei agarrar-me à tua pequenês para não me lembrar da tua grandeza. Ficarei com os defeitos para os sobrepor às qualidades. E conseguirei sair daqui. Serei capaz de fazer a minha passada no ritmo, com a respiração ofegante do cansaço, com o olhar carregado de sentimentos profundos. Ser eu é a minha paixão.
Faz o que te apetecer, diz o que quiseres, segue para onde pretenderes ir. Hoje não me vou importar com nada de ti. Hoje não vou querer saber.

Mas... e amanhã?

segunda-feira, 29 de julho de 2013

sem explicar

Tu não sabes bem como explicar. É a comichão na garganta, o ardor no peito. O pensamento constante, a saudade que mói. Quando te apercebes o mar enche-te os olhos e queres extravasar. Mandar para fora seja lá o que for. Porque o que é, tu não sabes.
Apetece-te gritar com o mundo, dizer a toda a gente o que sentes, pensas e pretendes. Mas e o mundo, que te dirá? Nada. Apenas te ouvirá e levará com o vento as tuas palavras. Não sabes o que mais fazer que possa acalmar esse turbilhão que aí vai dentro. Que não compreendes e não consegues antever de onde aparece.
A saudade mói, mata um bocadinho. Chega depressa e não avisa. Faz mossa e vai escavando cada vez mais fundo, criando um poço que nunca tem fim.
O ardor no peito, o mar nos olhos, a comichão na garganta. O pensamento distante.
E só aquele aconchego do abraço apertado e sentido, farão com o que não sabes explicar ganhe forma e seja um todo, sendo tudo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

silêncio

Eis que mais cedo ou mais tarde chega o silêncio.
A sala que há pouco precisava de espaço para acolher tanta gente, agora só tem o eco das teclas persistentes. O ar ficou mais pesado. O coração também.
E se no barulho a solidão se exacerbava, no silêncio ela mói. Porque o companheirismo verdadeiro compensa a dor imensa e dá luz. Traz sorrisos e distracções. Traz cumplicidade e um outro tipo de amor.
Agora é o vazio. A poeira que começa a assentar no espaço em que antes havia algo. Passou pouco, mas já foi há tanto. Foi há pouco, mas já falta tanto.
Quando tudo começa não imaginas a falta que te fará. Deixas o tempo correr, o mundo andar, as luas aparecerem, o sol passar. Entranha-se, vive-se, dá-se.
E eis que mais cedo ou mais tarde chega o silêncio. Mas este silêncio, esta calma tão inquieta, transporta sensações vivas e sentimentos que perduram. Porque há coisas que não se esquecem.
Vocês, não se esquecem.

terça-feira, 23 de julho de 2013

ingenuidade

Isso dói, sabes?
Num dia estás, noutro não. Num dia és, noutro não. Num dia sentes, noutro não.
Não percebo como consegues mover-me assim, fazendo com que todas as respirações e anseios girem à tua volta. Não sei explicar como te instalaste, como tive forças até para te abrir a porta.
Podes não ser a perfeição, mas és o que és. E já pensaste que isso pode doer?
Sei que não prometi nada. Tu também não. Não prometemos nada. Mas as promessas que saem dos olhos parecem tão mais verdadeiras que as que são faladas... Eu acreditei nessa promessa. Errei.
O problema é a ingenuidade que nunca se descola do que sou. E depois dói, custa, faz apertar.
A indiferença, no meio de tudo, dói. Depois de tudo, dói. Ainda agora, dói.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sereia

Não sabe. É a razão contra o coração. É o labirinto de ideias sem o centro à vista. Não sabe. As voltas e mais voltas terminam num turbilhão incessante, sem descanso, com frio, humidade, rodopios e espuma.
Os pés levitam do chão, o cabelo esvoaça. As voltas e mais voltas, o enjoo que chega com a ideia horrível das voltas não pararem. A sereia entrou no furacão e não tem forma de sair. É um misto de azul e preto, de voar no medo. Não sabe.
Esticou um braço, esperou que a puxassem. Viu mãos estendidas que tentam agarrá-la, puxá-la para o porto seguro e livrá-la da onda mais forte que a fará afogar-se. As mãos. Uma vai mais fundo no rodopio, outra treme mais. As mãos. Não sabe. Uma prende-a mas está quase a largá-la. A outra procura-a incessantemente para a agarrar.
O rodopio continua, as voltas e mais voltas. O enjoo. A espuma que vai com o vento à volta do furacão. A sereia... não sabe.

domingo, 14 de julho de 2013

semáforo

O caminho não é escolhido, é percorrido.
Tudo parece tão fácil até ao momento em que estacas. Passas pelo simples e pelo complicado, tropeças por vezes, mas continuas. É o teu caminho e tens de fazê-lo.
A linha da meta é já ali, basta medir as distâncias e seguir, logo à frente haverá novo desafio. Mas tens um compasso de espera - descansas, respiras fundo e voltas a encarar a prova.
Às vezes achas que não sabes para onde virar, mas o teu instinto diz-te e leva-te para algum lado. Por vezes não o certo, mas o necessário. Quando dás por ti já deste o passo que te encaminhou seja lá para onde for e aí, que seja o que tiver de ser.
Mas e agora? Está vermelho, páras à espera de sinal para avançar. É quando o ar fresco do abismo faz com que o teu cabelo esvoace e sintas um arrepio pela espinha.Se vais em frente, colocas o pé no vazio e cais. Não pode ser. Continua vermelho.
Depende de ti.
Escolhe. Direita ou esquerda.
Verde. O semáforo abriu.
E agora?

terça-feira, 9 de julho de 2013

Encher o coração

Às vezes é tão fácil encher o coração. É senti-lo vibrar de tal forma, até pulsar na garganta, até a felicidade atingir a sua forma plena e a pureza extravasar-se em sorrisos e acções palermas. É acreditar nas pessoas, senti-las com a maior facilidade, de espírito aberto, na ânsia de as conhecer.
Quando menos esperamos é tão fácil encher o coração. É acreditar que o mundo ainda pode ter algo de bom, que a vida não é para ser desperdiçada e que todos os momentos valem a pena. É as lágrimas que teimam em querer aparecer, de tão fácil que é ser feliz.
Quando mais precisamos é tão fácil encher o coração. É que ainda há pessoas que sonham, que fazem, que se dedicam e que não se importam de o mostrar. É pairar sobre o chão, apenas porque sim. É construir onde o solo parecia tão inconstante e fazê-lo com alicerces fortes, naturais, bem fundos no chão.
Às vezes é tão fácil encher o coração. É só preciso deixá-lo aberto, para que quem quiser lá possa entrar.

domingo, 7 de julho de 2013

Apaixonar

Gosto de pessoas. Gosto de gostar de pessoas. De as conhecer, de as descobrir, de aprender a gostar delas. De me apaixonar por elas.
E quantas vezes é onde menos esperamos que está um sorriso que nos tocará o coração, o pequeno gesto insignificante mas que muito diz.
Aquela flor foi um momento que valeu por muitos. Foi um aconchego bom quando tudo parecia vir a ser mau. A mais pequena coisa foi grande.
Gosto de descobrir pessoas, de querer saber mais e mais, de lhes dar ainda muito mais. Gosto de me apaixonar pelas pessoas, pelo que são e pelo que me são particularmente. Pelo que me vão sendo.
As intenções aparecem vindas de muitos lados, mas os gestos, as atitudes... É com estes últimos que te apaixonas. E eu apaixono-me, rendo-me e desfruto. Vivo, sobretudo.
E viver assim, sem medo de viver e de paixão, sabe muito bem. Sabe tudo.