terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Esquecida

Uma flor sozinha no meio de um campo. Abanando-se com o vento, para lá e para cá, num vai vem de vontades e quereres, sem nada à sua volta. A luz do sol aquece uma alma, mas a sua altivez nem sempre se conserva. Ali quieta, aquela flor tem falta de vontade de viver.
No outro dia, uma menina correu a visitá-la e para espanto seu, não a arrancou do chão. Deixou-se por ali ficar à sua volta, cantando deliciada com as suas cores amarelas e laranjas. Nesse momento, a flor sentiu-se altiva, querida, uma vez que fosse. Agora, de novo ali sozinha, pergunta-se se valerá a pena procurar pelo mais. Aliás, será que existe um mais? Quando cresceu naquele lugar, lembra-se de haverem amigas suas por perto, com quem falava e ria, disfrutando a brisa do vento. Todas foram colhidas e levadas por um senhor grande, sabe-se lá para onde, mas ela ficou ali, a única. Admirou-se de não ter sido pisada sequer. Foi somente... esquecida.
Desde aí que se pergunta se alguém voltará um dia para a colher, para a pisar, para a ver. Tem a certeza de que ninguém virá, seja para o que for... Porquê alguém importar-se apenas consigo? Fica-se pelas suas ambições, pelos seus sonhos de conhecer outro lugar como as suas amigas, onde serão apenas isso: ilusões recheadas de vontades diferentes. A verdade, tem-na consigo: nunca passará da flor perdida naquele campo, deixada para trás ainda jovem, naquele dia. Quem sabe não apareça de novo aquela ou outra menina que brinque um pouco consigo e depois parta, livre...

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