segunda-feira, 1 de novembro de 2010

o balão

Sinto-me tão cheia... tão cheia, mas ao mesmo tempo tão vazia. A felicidade emana em cada poro, em cada ferida conseguida numa brincadeira inofensiva, em cada momento que me recorda um sorriso diferente. Assim o é, assim o gosto, mas ainda assim, não é.

Porque sei ser-me, correndo pelo mundo em busca. À procura da hora, do lugar e do movimento para ser tudo, tudo o que me apeteça ser. E sou-o, sendo somente. Respirando, falando, gritando, chorando, sentindo... Sou. Tudo me enche como um balão, no qual se sopra. Vemô-lo crescer, ficando cheio, sempre a aumentar de tamanho.

Só que o balão enfraquece. Chega a um ponto em que vai esvaziando, sem avisar ninguém. Depois de encher constamente de felicidades nas mais pequenas coisas, o balão cheio desaparece. E é nesse momento em que o teu pensamento mais triste te invade o espírito, em que lembras o pensamento que te traz um momento em que não te soubeste ser, que ficas vazio. Tão cheio, mas tão vazio.

Existem mágoas, dores tão profundas que nunca irão deixar de marcar a tua existência. Memórias inultrapassáveis que te trespassam o coração como uma flecha afiada, sem dó nem piedade. Isso esvazia, isso tira o recheio ao que estava cheio. Assim, o cheio fica cheio e vazio ao mesmo tempo.

Ainda que esteja cheio de sopros fortes e constantes, há sempre a agulha para fazer um furinho e deixar escoar o ar que se encontra dentro do balão. Resta vê-lo voar sem rumo, numa altura efémera e sem aviso. Depois, é preciso encher novamente o peito de ar e ganhar forças para voltar a soprar num novo balão.

Porque se me sou e  se me quero sentir sempre tão cheia, mas tão cheia... tenho de o saber ser. Sou-me, em cada momento, em cada insignificância... Há que estar sempre a soprar pra dentro do balão, só assim ficarei cheia... ainda que vazia ao mesmo tempo.

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