Dei conta que o mundo não chega até mim. Por entre palavras e gestos, expressões fundamentais, não absorvo nada. Há a certeza de que tudo fica presente, mas afinal é cada vez mais efémero. A verdade acaba por não ser real e a mão estendida que achavas estar sempre lá vai embora, sem explicação.
Tenho o peito aberto para receber e emanar tudo de mim. Dou sempre, por vezes demais, mas nada entra aqui, porque ninguém o dá. Ainda que não desesperadamente, quero receber. Faz falta ter uma apreensão daquilo que o mundo é.
Talvez receba um pouco, mas não é o que quero ter. Não será o mundo cinzento demais? Tenho a esperança de receber tal como dou, mas isso parece absurdo. O querer um abraço de volta já não existe, é preciso suplicar por um.
Será assim tão normal não encontrar compreensão? Serei eu a parte errada? Não consigo ter a certeza mas cada vez me parece mais que sim. As pessoas perderam a cor no lugar certo e são agora uma palete de pretos e cinzentos.
O mundo não chega até mim porque não se dá como me dou. Se um dia me deixar levar pelo mundo talvez não me sinta perdida. Há um entrave: gosto de ser diferente. Ainda que não consiga receber nada, é mais gratificante continuar assim: é preciso desesperar para conseguir. Gosto de coisas difíceis.
Mesmo que o mundo não chegue até mim, eu vou chegar ao mundo. Se assim não fosse, como poderia gostar de pessoas?
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