terça-feira, 25 de novembro de 2008

.destinO

Acabada de se sentar na cadeira do costume, olha pelo vidro, mas nada vê. Tira o MP3 da mala e liga-o, enquanto colona os phones nos ouvidos. O pensamento está lá fora, perdido em vagas ideias de incompreensão e mágoa. Nem sempre foi assim, mas ultimamente tem-lo sido vezes demais. O comboio começa a andar e ainda que saiba onde tem de sair, o caminho parece diferente, totalmente novo.
Perguntas, mais perguntas, ausência de respostas, ideias soltas até, tudo, de uma vez, e a cada apeadeiro mais pessoas entram na carruagem. A música ecoa nos seus ouvidos mas nem sabe qual toca, apenas a leva de encontro a um outro mundo, aquele que não este. Sempre que o comboio pára pergunta-se se não deverá sair ainda que seja numa estação desconhecida. Razões não há, mas a necessidade de abandonar aquele espaço lá fora, aquele terror de perdição, impera cada vez mais.
Olha à sua volta e as pessoas entram e saem, umas apressadas outras cansadas logo pela manhã. Será que também ouvem a mesma música que agora escuta? Não sabe o que sentem, mas pelo canto do olho observa algumas e tenta adivinhar. Aquela senhora que dorme à sua frente, será que o faz para fugir dos mesmos pensamentos que a assolapam? E a que lê, concentrada na sua história de encantar, será porque gosta mais daquele mundo? Não sabe, não adivinha. Mas ela, ela sim, quieta, sozinha, ouve mais umas palavras envoltas em melodias preciosas que tanto lhe dizem, muito lhe recordam.
"Próxima estação, a tua." - Desliga a música e a acalmia esvai-se. De novo à realidade que ainda agora questionava... Terá mesmo de ser assim? É ali o seu destino e mesmo que queira perder-se, como antes, é impossível. Levanta-se, deixando para trás o seu banco. A porta abre-se e assim que mete um pé naquele chão de lajes com pedrinhas sabe, está de volta. Aquele horizonte que mal via dentro do comboio é real, é o seu destino. Resta-lhe aguentá-lo, vive-lo, mais a bem, menos a mal. Depois, há-de chegar de novo o momento em que a porta se abrirá outra vez, trazendo-a de volta para o seu ponto de partida, o mesmo de sempre.

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