segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Goma

Que lhe foge o sono, que precisa de se expressar. Sozinha, afogada em si, nada encontra senão a paz enervante. Paz que chateia, apenas porque trás a distância do alguém. Decide deixar de o pensar, mas sabe-o tão de cor. Lança-se pelo corredor fora, direita ao carrinho das gomas. Aquela em forma de coração, nunca a provou, mas fica encantada só de vê-la. Compra sempre uma, e outra, mas oferece-as a outrém. Cor-de-rosa e vermelho, polvilhados naquele açúcar doce. É assim o seu aspecto. Dentro daquela caixinha de plástico, no meio de tantas outras, com uma pá que as consiga trazer e pôr dentro do saco. Aquelas gomas em forma de coração, trá-las sempre, mas nunca lhes toma o sabor.
Que lhe fica a saudade, o recordar de outras noites, outras gomas, outros sentires. Que lhe fica o desejo de tomar o paladar daquele coração. Nessa paz que a chateia, tem vontade de correr de novo até àquele carrinho. Ser rebelde, uma vez, e provar, egoísta, o sabor daquele doce, aquele, no meio de tantos outros. Que se já o deu tantas vezes a provar a tantos apreciadores diferentes, demorará muito tempo até que chegue o alguém que lho dê a si?
Impávida, meio sóbria e mais sonhadora, continua andando. De saco na mão, tira-as e come-as, uma após outra. Sem olhar para o conteúdo, é-lhe automático: o coração, o cor-de-rosa e vermelho, permanece no fundo. Sem que lhe toque, para que o ofereça a outrém até ao dia em que chegue o outrém que lho ofereça a si.

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