quinta-feira, 23 de julho de 2009

vestido cúmplice

Era o seu dia de aniversário, ia ter uma grande festa dentro das muralhas do castelo e todos aqueles que dela gostassem estavam convidados a entrar. No seu vestido preto e longo, não lhe importava brilhar, queria somente ser ela mesma. Estava a sentir-se feliz, era aquele o seu dia. Entardeceu e antes da hora prevista para a chegada de todos, deambulava pelo castelo com ele. Ambos conversavam e diziam aquelas frases sem graça que rapidamente davam azo a gargalhadas cúmplices. Entretanto, chegara a sua melhor amiga de infância. Efusiva, saltou-lhe para os braços envolvendo-a num longo abraço. A saudade daqueles tempos de sonhos era tanta! Logo se evidenciou o seu contentamento por ver ali a amiga, por saber que ela não se havia esquecido. E ele apenas a olhava, sorrindo, por sabe-la feliz.
As surpresas da festa que lhe haviam sido preparadas, começam a acontecer. Acabam por ir para o anfiteatro, ver imagens suas e daqueles que a rodeiam. Eis que ele aparece no ecrã, apanhado desprevenido pela objectiva da câmara. Fala de alguém, de uma rapariga de quem diz gostar e que assume estimar mais que qualquer outra. Ela, a aniversariante do castelo, ao deparar-se com aquelas palavras que agora ouvia saírem da boca dele através de uma filmagem, rapidamente se levantou. Sempre tivera um encanto especial por ele, mas nunca fora capaz de o assumir. Não conseguia vê-lo falar assim de alguém. Agarrando no seu vestido, subiu as escadas daquele auditório num ápice, com as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Chegando à porta, deteve-a um grito daquela voz que sempre conhecia. Era ele.
- Não vás embora, espera! Como é que não percebeste... Aquela rapariga... aquela rapariga és tu! A que quero, sempre a foste!
Ficou petrificada com as palavras dele. Afinal o seu sentimento sempre fora retribuído, mas ela nunca o soubera. Quando conseguiu reagir, já ele corria em direcção ao lado oposto do castelo, toldado pelo medo. Sem mais delongas começou a segui-lo, mas pareceu que tinham vindo pessoas de mais para a sua festa. Todas queriam felicitá-la, obrigando-a a parar continuamente durante todo o percurso. Quando finalmente chega ao miradouro sobre o rio, vê-o sentado, com as mãos na cara, contemplando o infinito. Já calma larga o seu vestido de encontro ao chão e num sussurrar levado pela brisa, balbucia o nome dele. Timidamente, aquela cara tão sua conhecida volta-se para si, enquanto que ela caminha na sua direcção. Senta-se a seu lado olhando o luar, e puxa-o para que se deite sobre o seu vestido, no seu colo. Olhando para os seus olhos penetrantes, faz-lhe uma festa no rosto. Ganha coragem para falar, mas ainda antes de o fazer é ele quem a cala. Dos seus lábios começam a sair encantantes palavras melodiosas, a canção que ela sempre sonhara ouvir. Mais uma vez de lágrimas na cara, mas desta vez marejada por gotas quentes, transbordando felicidade. Naquela sua melodia, ele havia dito tudo aquilo que sentia desde que a conhecera. Para quê esconder mais? Sentado agora a seu lado, ele deu-lhe o seu melhor presente de aniversário: um forte abraço cúmplice e de encontro de dois seres. Havia paixão naqueles dois, mas acima de tudo havia um grande conhecimento do outro. Se assim não fosse, como poderia ela ter-se sentido a maior princesa do mundo dentro do seu vestido preto?
Com o seu cabelo a esvoaçar com o vento, ganhou coragem. Olhou-o nos olhos e de uma vez assumiu: Gosto de ti.

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