terça-feira, 23 de junho de 2009

Roubo

Chegou a casa, largou a mala e descalçou as sandálias. Sentou-se na cadeira em frente ao computador e abriu-o energicamente, sem saber porquê. Ficou com o olhar suspenso no ar, ao mesmo tempo em que revia aquela cara. Tinha-lhe roubado a fotografia, sem que ele soubesse e agora-a guardava-a dentro da gaveta a seu lado. Colocou os dedos sobre o puxador e espreitou-a, sorrindo. Aqueles olhos eram penetrantes e límpidos e nada deixava que os esquecesse. De coração apertado, perguntava-se sobre o que mais poderia fazer, se é que já tinha feito alguma coisa... Afinal, nunca fora exibicionista daquilo que havia dentro de si, ainda que não conseguisse não ser sincera. Lembrava-se de todos os momentos, até mesmo das diversas expressões que a ele lhe eram características. O sorriso sempre honesto e até mesmo aquele esboçar dos lábios descontraído como quem diz "está bem", faziam com que não conseguisse largar as ideias que a prendiam àquela cara. A acalmia que encontrava era contagiante e nada seria capaz de fazer com que a perdesse.
Porém, há dias que não lhe ouvia uma palavra. Tudo o que pensava eram recordações que a envolviam entre saudades e desespero. Deveria tomar alguma atitude? Inquieta dentro do seu medo, apenas se concentrava no vazio. Não sabia o que fazer, nunca o soubera. Sempre deixara que o tempo passasse. Com uma expressão vazia, limitou-se apenas a voltar a abrir a gaveta e suspirar, para aquela fotografia. Ao menos essa seria sempre sua e estaria sempre presente. Tudo graças ao seu secreto roubo embaraçado.

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