segunda-feira, 15 de junho de 2009

São Martinho do Porto


Lembro-me de uns amigos que tinha algures. Lembro-me muito deles e tenho saudades, mas os dias passam com um ritmo alucinante e as semanas correm por aí. Dou por mim a pensar e antes que me aperceba, dois anos já passaram.
Relembro a minha infância e as companhias de tantos verões. A conclusão a que chego é rápida: nunca vejo os meus amigos de algures. Por que é que a vida é uma corrida rápida e terrível? Acho que todos eles sabem que gosto deles, como nos dias em que lhos dizia, com um sorriso grande e uma lágrima de dor na hora da despedida. Naquela altura todos éramos simples crianças regidas pelo sentir, mas agora somos pessoas ocupadas, pessoas cansadas.
Muitas vezes penso que amanhã vai ser o dia em que vou ligar-lhes só para lhes mostrar que penso neles, imenso, que sinto a cada minuto a sua falta. O problema é que o amanhã vem, o amanhã vai, e a distância entre nós cresce e cresce... A meninice em que cresci está à distância de fotografias arquivadas em cd’s e em simples números de telefone, mas é o mesmo que estar a milhares de quilómetros de distância...
Tenho medo que um dia chegue a notícia de que um de nós desapareceu hoje. Depois de tanto tempo, é isto que recebemos e que merecemos. Naquela baía, um amigo desaparecido. Ninguém imagina como temo isso… Já uma vez dei por alguém partir, alguém daquela nossa família. Ainda que fosse como um primo afastado, era alguém, era um de nós e nunca vou esquecer o ter de partilhar aquela horrível notícia, o ter de ver lágrimas, o ter de sentir o coração a rasgar-se porque alguém partira. Não quero que aconteça connosco, de maneira nenhuma. Os dias passam e passam, mas em todos os eles me lembro de caras, de momentos, de histórias, de uma vida em que cresci e aprendi as maiores lições que me tornaram naquilo que hoje sou. Se algum dia aprendi o que é amar, foi quando entrei naquela casa, quando vi aquela praia, quando neste momento me martirizo por querer lá estar e não poder.
Tenho falta de todos, de tudo, do sempre. Vai ser para sempre, prometemos vezes sem conta. Vamos fazer com que o seja mesmo. Não consigo viver sem tal esperança… Para mim aquela será sempre a casa, aquela será sempre a praia, aquele será sempre o espírito: o nosso. Odeio-me por vos sentir longe, por querer estar fechada naquela casa e perdida naquela terra convosco e não conseguir… Lembro-me muito dos amigos que tinha algures. Só queria tê-los de volta e viver tudo uma vez mais.
Hoje libertei-me, porque tenho saudades de cada pequeno pormenor lá vivido, porque tenho saudades que me rebentam o nó na garganta em lágrimas sofridas e porque não quero que o tempo leve tudo embora… Por isso, para mim e para todos nós, lembremo-nos de dizer sempre o que sentimos. Se sentimos saudades de tudo isto, gritemo-lo. Não tenhamos medo de nos expressar, é tão melhor dizer a alguém o que significa para nós. Não quero deixar o tempo passar, porque quando decidir que aquela é a hora certa, tenho medo que possa ser tarde demais…
Quero que o meu coração fique sempre perto destes meus amigos. Foram eles que ajudaram a formar a pessoa que sou hoje.

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