domingo, 21 de junho de 2015

injecção letal

O calor deixa o corpo peganhento e traz as incertezas de volta. A água é sôfrega, temperada entre o natural e a frescura que poderão deixar tudo simplesmente normal. O pensamento anda por aí à solta, deixando que todas as ideias tenham uma oportunidade, sejam elas quais forem. Vive-se a vida de outros que, na ficção, resolvem problemas com uma rapidez irreal mas ambicionada por todos os que, na verdade, querem ser corajosos.

Ambicionar é a vacina letal cuja sentença de morte é declarada todos os dias. Querer por poder sonhar é ver a agulha introduzir-se no braço e aceitá-la sem dor, sabendo que o destino percorrerá caminhos desconhecidos, penosos e incompreensivelmente desconcertantes. Nem sempre é fácil achar a veia certa, mas a vacina da ambição é sempre dada a todos aqueles que, em algum momento, decidem deixar que os sentimentos flutuem sem controlo.

As roupas demasiado coladas ao corpo deixam o desejo de um banho de mar, onde a espuma das ondas transporta a casa. O luar é o companheiro perfeito para partilhar lágrimas internas, de uma tristeza sem razão, profunda e intensa. Ao mesmo tempo a alegria da redescoberta de quem se pode vir a ser um dia. Vive-se a vida daquele momento, sem razão e com a completa consciência da efemeridade fugaz.

Em todos os momentos, ambicionar é a garantia do fim. É a receita que entregamos para que a injecção nos seja dada com a assertividade de que não é preciso ter medo. Mas é. É mesmo. Com força, com determinação, com consciência. É preciso ter medo de ambicionar, de ver tudo desaparecer aliado a um simples desejo. Até o calor passa a frio e o corpo peganhento passa a precisar de um casaco bem quente para sobreviver. Ambicionar é a garantia do fim.

Já olhei a lua e saboreei a espuma a bater nas pernas. Vou continuar em frente até perder o pé, para lá das ondas… afinal de contas, não é aí que se ambiciona? Está aqui o meu braço... Não te preocupes, não tenho medo de agulhas.

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