segunda-feira, 5 de outubro de 2015

sono

Já passa da uma da madrugada quando entra em casa. Larga as malas no chão. Apanha o cabelo, põe o tablet a carregar e veste o pijama. São os automatismos accionados pelo cansaço que apenas pede o descanso merecido após um trabalho intenso.
O sono começa a pesar para que os olhos se fechem, mas ainda assim decide desabafar consigo mesma. Entendam-na: desabafar não tem de ser necessariamente sobre coisas negativas. Pode ser apenas o reconhecer das dádivas que a vida coloca no caminho de cada um, p'lo meio das intempéries que acontecem no mundo.
São as pessoas. Os sentimentos, os sentires. São os abraços traduzidos na manifestação física de um acto irrevogável e maior, presente no coração. São esgares da boca, tão únicos e naturais, aqueles, que permanecem na memória. São aquelas coisas que não se vêem e que pairam no ar, entre dois seres que, sabe-se lá porquê, criam uma conexão que não os deixa serem de outra forma.
Ela lembra-se, brilham-lhe os olhos - sabe-lo. Deita-se um pouco mais e encontra o espaço certo na almofada. O corpo está moído, mas a mente está enérgica. As vibrações saltitantes que tem no peito a cada momento perguntam-se se serão reais.
É a hora efectiva de adormecer. Ela vê-lhe o rosto, as mãos. Sente-lhe o aconchego dos braços e imagina-se de novo lá, naquele ninho onde dormir é tão especial que lhe apetece ficar acordada para o sentir ainda mais. Ela vê o que lhe sente.
Dorme, inconscientemente. Com a mão por baixo da cara, mania que ganhou não sabe como. O seu último pensamento é o mesmo, todos os dias: será a plenitude deste amor mais do que o sonho onde entrará nos próximos minutos?

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